27.11.07

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Assim é



Assim é Alceu. Bicho maluco beleza, poesia encarnada, barroco nordestino dentro do blues. O grande poeta da música brasileira, o capetinha no palco que faz esta mulher de meia idade aqui ter vontade de dar cabriolas junto com ele. Explosão de emoção, o músico com as maiores asas de borboleta que eu conheço. E ele SABE usá-las para voar e nos fazer voar com ele.

Pois ele também sabe das emoções mais sombrias, daquilo que faz nosso coração gemer angustiado. Ele sabe da solidão que devora as horas, ele sabe do cansaço e da falta de cio do amor quando acaba. Ele sabe das farpas do amor que machuca.

A questão é: HÁ quem valha metade de mim? Há quem valha metade de mim! Há quem valha metade de mim. Há quem valha metade de mim... Metade... eu sem ele, ele sem mim...

Mas metade de mim é muito pouco quando estou triste assim.


Amor covarde
(Alceu Valença)

Amor covarde, que morde, que arde
A minha amada é metade de mim
A madrugada se arrasta, tão lenta assim
Dor...dor...dor...dor

Moça bonita, novilha tão rara
Não há quem valha metade de mim
Nascemos sós, só seremos serenos no fim

Amor covarde, que morde, que arde
A minha amada é metade de mim
E a madrugada se arrasta, tão lenta assim
Dor...dor...dor...dor

Moça bonita, novilha tão rara
Não há quem valha metade de mim
A dor do amor, navalhada que arde assim
Dor...dor...dor...dor

Estrela d´alva, pedaço de lua
A pele nua, cheirando a jasmim
Boca cereja, bandeja de prata, do-in
Dor...dor...dor...

Moça bonita, novilha tão rara
Não há quem valha metade de mim
Nascemos sós, só seremos serenos no fim

19.11.07

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Flor de Flamboyant (ou Com o Coração em Brasa)



Desta vez a visita ao cerrado não foi colorida pelas flores do ipê, mas o coração foi aquecido pela floração do passional flamboyant. A cidade estava toda verde folha e vermelho paixão. Achei apropriado que este vermelho intenso fosse testemunha dos nossos encontros. Apropriado e lindo.

Agora, além de um imenso ipê-roxo, todo florido, residindo em meu coração, há no caminho que leva a ele um tapete de lindas flores vermelhas de flamboyant, macio leito onde me deito para divagar sobre o amado e matar as saudades dentro de mim.

Amado, outras flores estarão brotando quando nos encontrarmos novamente, ou talvez os frutos já estejam madurando nas árvores. Mas, como borboleta que sou, levo comigo o pólem destas flores que enfeitaram o nosso começo. Com este pólem hei de fazer sua vida mais doce, colorida e perfumada, como você merece.

Porque é preciso mostrar no concreto aquilo que se manifesta no etéreo de nosso sentimento. Preciso dizer com palavras e mostrar com gestos o que sei. E eu sei, bem sabido, que te amo, te desejo, te admiro e respeito. Sei que adoraria ficar com você até estar bem velhinha, amando você todo e cada dia daqui até o final de nossas vidas. Sei que eu lutaria do seu lado, com todas as minhas forças e toda a minha alegria, da forma que você me pedisse. Sei que viveria com você em qualquer lugar, dentro das posses do nosso trabalho conjunto, na maior felicidade. Sei com um frio na barriga que a minha felicidade está nas suas mãos.

Pois em nome disto vou tentar enquanto estivermos separados que minhas certezas, meus medos, a alegria de estarmos juntos e a tristeza de estarmos separados, o roxo do ipê e o vermelho do flamboyant se misturem da maneira mais bonita que eu conseguir para presentear seu coração. Cuida dele até que eu possa estar perto e me certificar que tudo está bem, pessoalmente. Sei que não é preciso dizer, mas não custa repetir: te amo. Fica bem.

16.11.07

Indo embora

Minha estada no cerrado foi doce e amarga, como sempre, porque há todo dia a consciência de que terei de partir. Hoje, o que ficava no fundo da consciência como uma leve dor de cabeça - aquela que conseguimos ignorar a maior parte do tempo - explodiu em dor aguda e insuportável. O que era daqui a uns dias virou hoje. É dia de partir, é dia de doer o coração.

Como Deus nunca me abandona, meu querido e antigo amigo blogueiro Marcos (olá, querido, saudades!) me presenteou nos comentários com uma poesia de Alberto Caeiro que funcionou como um verdadeiro analgésico da alma. Obrigada, querido, o poema é tão lindo que resolvi repeti-lo no post de hoje:

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Meu homem-ipê, esta árvore alta que vira menino encabulado quando estou perto, até logo. Que o logo seja realmente logo mas, se não for, saiba que o levo verdadeiramente comigo, você está entronizado dentro do meu coração de tal forma que onde eu estiver, lá estará você. Que Deus permita que eu seja seu girassol agora e para todo o sempre.

Lá vem a solidão desacompanhada do Rio de Janeiro. Que eu tenha forças para suportar.

14.11.07

Promessas e Comprometimentos

Nossos encontros e a maneira que eu penso nele quando não está comigo são tão pontuados por música que eu estou, literalmente, montando um CD com as MP3 todas, descobrindo não muito surpresa que já passaram de noventa músicas... Algumas delas são tão cardinais das direções que meu carinho por ele se desenvolve que eu acabo postando aqui.

Pois eis que chegou a hora de fazer promessas, de estabelecer parâmetros, de dar os passos para o lado e para trás para que seja possível andar para frente em compasso. Sei que ele, do seu jeito silencioso, está o tempo todo medindo e pensando. Sei que tem medo da distância física, dos problemas todos, do passado de um e de outro.

Amado, que dizer? Você já sabe o quanto eu te quero...
Quer tempo? eu espero.
Quer silêncio? eu calo.
Quer pisar no freio? eu desacelero.
Quer saber se eu me adapto? a quase tudo.
Quer pensar na melhor forma de seguir? Que tal juntos?


Ah, sabe que mais? Uma música, mais uma vez, já disse tudo.


Dia Branco
Geraldo Azevedo / Renato Rocha

Se você vier
Pro que der e vier
Comigo...

Eu te prometo o sol,
Se hoje o sol sair,
Ou a chuva...
Se a chuva cair.

Se você vier,
Até onde a gente chegar,
Numa praça na beira do mar,
Um pedaço de qualquer lugar...

Nesse dia branco,
Se branco ele for,
Esse tanto, esse canto de amor
Oh! oh! oh!...

Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo...

Se você vier
Pro que der e vier
Comigo...

Te prometo o sol,
Se hoje o sol sair,
Ou a chuva...
Se a chuva cair.

Se você vier,
Até onde a gente chegar,
Numa praça na beira do mar,
Num pedaço de qualquer lugar...

Nesse dia branco,
Se branco ele for,
Esse tanto, esse tonto,
Esse tão grande amor,
Grande amor...

Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo...

12.11.07

Maneiras de expressar amor

São tantas quantas as pessoas que já nasceram, mais talvez, se pensarmos que nem sempre expressamos amor da mesma forma ao longo da vida. Eu, que me expresso basicamente por palavas, estou aprendendo com ele a entender pequenos gestos e linguagem corporal muito sutil. Eu, que sou expansiva e exagerada, passional, estou aprendendo a respeitar o silêncio e os toques suaves, leves.

Meu minerin-candango é silencioso, ele comunica mais pelo olhar que pelas palavras, com as quais ele tem um relacionamento hesitante. A força do olhar dele, no entanto, é irresistível. Um brilho de entusiasmo, um apertar carinhoso dos cantos dos olhos, um atento e discreto olhar de viés quando falo com outros... Uma linguagem toda nova que estou adorando aprender.

O vocabulário estou aprendendo com a facilidade que a contemplação amorosa me dá. Eu já sei o que significam tantos gestos, tantos olhares. A gramática da alma do outro, no entanto, é uma aventura que leva uma vida inteira para levar a cabo. Uma aventura, amado, que eu quero muito começar com você, o mais rápido que puder, e para sempre.

Amor de Índio
Beto Guedes - Ronaldo Bastos

Tudo que move é sagrado
E remove as montanhas
Com todo cuidado, meu amor
Enquanto a chama arder
Todo dia te ver passar
Tudo viver a teu lado
Com o arco da promessa
Do azul pintado pra durar
Abelha fazendo mel
Vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser todo
Todo dia é de viver
Para ser o que for e ser tudo
Sim, todo amor é sagrado
E o fruto do trabalho
É mais que sagrado, meu amor
A massa que faz o pão
Vale a luz do seu suor
Lembra que o sono é sagrado
E alimenta de horizontes
O tempo acordado de viver
No inverno te proteger
No verão sair pra pescar
No outono te conhecer
Primavera poder gostar
No estio me derreter
Pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser tudo

10.11.07

Desejos

Hoje, para mim, "quero" é o verbo mais bonito do português. É o verbo que me tranquiliza, que me faz aceitar os limites, a distância, as dificuldades. Nada se compara a saber-se querida, ainda que nossas vidas corram paralelas, com pequenos hiatos de encontro entre grandes espaços de saudade.

Hoje estou aqui, amanhã volto obrigatoriamente para minha vida normal. Mas volto com um olhar e um diálogo gravados na alma: "Afinal de contas, você me quer? Quero."

Who Wants To Live Forever (Queen)

There's no time for us,
There's no place for us...
What is this thing that builds our dreams
Yet slips away from us?

Who wants to live forever?
Who wants to live forever...?

There's no chance for us,
It's all decided for us,
This world has only one sweet moment
Set aside for us.

Who wants to live forever?
Who wants to live forever?...

Who dares to love forever
When love must die?

But touch my tears with your lips,
Touch my warmth with your fingertips
And we can have forever
And we can love forever
Forever is ours today

Who wants to live forever?
Who wants to live forever?
Forever is our today...
Who waits forever anyway?


Quem gostaria de viver para sempre

(Queen - tradução livre minha, para você, amado)

Não há tempo para nós,
Nem lugar para nós...
O que é isto que constrói nossos sonhos
E no entanto foge de nós?

Quem gostaria de viver para sempre?
Quem gostaria de viver para sempre...?

Não há chance para nós,
Tudo já foi decidido por nós,
Este mundo só tem um doce instante
Reservado para nós.

Quem gostaria de viver para sempre?
Quem gostaria de viver para sempre...?

Quem ousaria amar para sempre
Quando o amor tem de morrer?

Mas toque meu pranto com seus lábios,
Toque meu calor com a ponta de seus dedos
E podemos ter o sempre,
E podemos amar para sempre.
"Para Sempre" é nosso hoje.

Quem gostaria de viver para sempre?
Quem gostaria de viver para sempre?
"Para Sempre" é nosso hoje...
E quem é mesmo que espera para sempre?

9.11.07

A Chuva

Aqui no planalto não chove como no Rio. No Rio, a chuva chega ameaçadora, trazendo medo, com nuvens pesadas e escuras que chegam para ficar dias. A chuva aqui é como uma oferenda, como uma entrega amorosa. Devagarinho algumas nuvens vêm chegando lá de longe, se juntam numa lenta procissão umas às outras, os pingos começam a cair lentos e espaçados, quase o preâmbulo de uma cerimônia solene.

Em alguns minutos muda o andamento da cerimônia: cai um aguaceiro feroz, o vento forte faz as copas das mangueiras chacoalharem como de alegria, a água na calha, correndo pela corrente que a guia para o chão, faz uma cantoria pontuada pelos trovões graves e longos que rolam as nuvens adiante. Porque adiante as nuvens andam, e logo não há mais chuva, só o frescor e a alegria deixada pela sua passagem.

Em meia hora a festa se encerra, e a única testemunha do meu encanto é um pardal solitário, que veio tomar banho de chuva no gramado dos fundos da casa, amigo ocasional que logo levanta vôo para se juntar aos outros pássaros que comemoram a visita da chuva no alto do céu.

8.11.07

Guardiães do Cerrado

Já choveu aqui umas poucas vezes desde a última visita. A grama agora está verde, as copas das árvores cheias de folhas novas e brilhantes. Os pássaros planam como a brincar no ar seco e limpo da poeira. As nuvens desfilam lentamente por este céu imenso, ainda indecisas se vão partir ou ficar.

Este céu, este céu... ele e as árvores retorcidas e inclinadas do cerrado, sempre parecendo marchar juntas numa mesma direção, são os guardiães desta terra cheia de contrastes. São eles também os guardiães do meu sentimento, tão grande, tão grande, imenso como o céu de Brasília, passeando tranquilo pelo meu coração como as fofas e brancas nuvens voando altas acima da minha cabeça.

Estou tranquila, o coração explodindo em flor. Em flor roxa de ipê. Isso tudo que estou sentindo acho que só posso chamar de plenitude. Plena de mim, plena da presença dele, plena do céu do planalto. Plenamente feliz.

5.11.07

Administrando as diferenças

Todos somos diferentes. Parece óbvio, mas não é. Tudo aquilo que torna aparentemente semelhantes os indivíduos dos diversos grupos a que pertencemos são semelhanças superficiais. Debaixo do verniz somos todos muito diversos, cada um é em si mesmo um mundo de coisas, e muitas vezes morremos sem explorá-las.

Eu tenho esta curiosidade quase felina a respeito das diferenças. Eu não apenas respeito, eu admiro e reverencio aquilo que torna meu outro diferente de mim. Não sou Narciso e não preciso de um reflexo de mim. Quero um mundo diferente para explorar, quero que este outro percorra o meu universo e me mostre com seu olhar diferente coisas a meu respeito que eu nunca tinha percebido antes.

Eu, que sou menina de apartamento, nunca aprendi a subir em árvores. Hoje sonho com um descampado onde só existe um monumental ipê-roxo, de tronco forte e largo, todo florido, para que eu possa escalar. Espero, de alguma forma, do meu jeito dengoso e meio inocente de gente de estufa, que eu traga a este terreno inóspito do cerrado uma suavidade que ele nunca conheceu.

Brasília me espera. Amado, estou chegando.