Nunca estamos protegidos dele: nem sabedoria nem experiência nos defendem de seu assédio: baixamos as pontes, jogamos as tranças, e nos deixamos conquistar.
O amor é um salto sem rede, e ela, mulher mimada, cheia de agrados e dengues, tudo o que queria era transbordar: saiu de seu sossego, cheia de alegria para o receber. Estendeu o tapete vermelho, escancarou as janelas, correu ao encontro do inesperado milagre com mesuras e presentes feito os reis orientais: o amor retomara a sua vida, e tudo o que ela queria era alegrar também quem lhe trazia tudo aquilo.
Pediu aos deuses que lhe ensinassem como fazer alguém feliz novamente, dedicou seus amores para que o outro se sentisse bem, cumpriu todos os trabalhos necessários para que a pessoa amada se aninhasse com ela e com ela voasse.
Foi outra vez menina, outra vez inocente, outra vez infinitamente forte e vulnerável.
E se esse alguém a quisesse matar, naqueles dias ela teria ido feliz, criança levando a bandeja onde deitaria, depois de o ver sorrir, a sua própria cabeça cortada.
(Lya Luft, Secreta Mirada, p. 97)
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