12.7.07

Desde ontem a cidade do Rio de Janeiro chora, comigo e como eu: um transbordar de dor lento, transformado em lágrimas e chuva. Um choro que escorre por rosto e vidraças numa expressão de sofrido cansaço. A cidade provavelmente chora por mais esta provação a que está sujeita durante estes próximos quinze dias, pobre urbe - abusada há anos pelo crime e descaso, e agora pelo delírio esportivo. Eu choro porque percebi que estou de repente envelhecida.

Sim, talvez envelhecer seja esta sensação ruim de que a vida nos está deixando para trás, as energias se esvaindo sem reposição, o sentido da vida esquecido em alguma curva da estrada. Dói esta percepção de se continua vivendo de teimoso, por força do hábito, sempre com medo que o próximo golpe, a próxima perda, a próxima decepção sejam finalmente a gota d'água. Logo ali, talvez, esteja finalmente a facada que vai nos fazer entregar os pontos.

O Rio tem um coração de floresta que pode ajudar na sua recuperação, no caso dos seus habitantes resolverem que é hora de voltar a viver. O meu coração bate hesitante, pára-não-pára, como se a bateria estivesse por acabar. Bonequinho de corda com os movimentos bruscos neste tenta mexer e não tem forças.

Eu me pergunto se tento fazer ele voltar a bater forte como há bem pouco tempo batia. A solução seja talvez um dia de fúria que bote abaixo tudo que existe agora para que o recomeço venha. Em outros momentos me pergunto se devo me espelhar na sabedoria dos elefantes - que sabem quando não é mais hora de tentar, sabem quando estão velhos, obsoletos, e é hora de buscar um lugar isolado para deitar e morrer.

Estou no limbo entre o esforço da busca de novos laços amorosos e da sedução do canto de sereia do esquecimento eterno, que chama por mim. Dormir, talvez sonhar, diria Hamlet. Ele também guiado pelo fantasma de seu pai. Eu a me perguntar se sua loucura e sua morte são meu destino compartilhado.

O, sweet oblivion, why tempt me so?

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