24.12.02

Feliz Natal

Estamos chegando pertinho do Natal... e a maioria das pessoas não se lembra sequer o que isto significa. Um belo dia, Deus Nosso Pai decidiu que já estávamos há muito tempo batendo cabeça, procurando cegamente o caminho de volta pra Ele. Num gesto de puro amor, enviou seu Filho Unigênito à terra dos homens, para como uma tocha nos dar Luz, para pavimentar com seu sangue o caminho de volta ao Pai. No Natal, celebramos o dia Feliz/Triste, quando Nosso Senhor se faz Homem por nós. É o Nascimento com a promessa da Cruz. Na Páscoa, celebramos o dia Triste/Feliz em que Nosso Senhor morre e vence a morte por nós. É a morte com a promessa de Vida Eterna.

Este drama da Salvação se repete todos os anos no calendário litúrgico, mas nunca lembramos que Jesus, que não tinha absolutamente que passar por isto, livremente escolheu toda fragilidade humana, todo o sofrimento, e nos levou junto com Ele para a glória. Não, Páscoa agora é data de se empanturar de chocolate, e Natal de rabanada e panetone. E quem por acaso não tem dinheiro para a mesa farta e os brilhantes pacotes, sente-se lesado e apartado da celebração. Nada podia ser mais longe da verdade que isto.

Pois se o Nascimento que mudou o mundo foi anunciado primeiramente aos mais humildes, aos pastores no campo! Não, toda esta coisa de troca de presentes, de perú, de panetone, de rabanada, de comilança e de festa, tudo isto esconde a Verdade ao invés de anunciá-la. Cristo nasceu para TODOS nós, para que pudéssemos enxergar com mais clareza o Pai, para que o Menino nos levasse de volta para o nosso lar, que abandonamos há tanto tempo pela arrogância e desobediência...

A festa maior devia ser mesmo no campo, no meio dos mais simples, dos que sabem que a coisa do Papai Noel é apenas um papel colorido que recobre o verdadeiro presente. Eu sou carioca, mas filha de gaúcho, e faz muito tempo que percebi que havia uma pureza, uma honestidade, uma REALIDADE maior no povo de lá... É um povo muito simples, muito religioso, muito patriota, muito BELO. Eles sabem celebrar e desejar uns aos outros um Natal Santo, e vou utilizar um poema de lá para desejar a todos que acessarem este meu blog, amigos, inimigos, leitores habituais e acidentais um Natal com tudo o que mais importa.

Menino Jesus, abençoa a todos que aqui entrarem, é em Teu nome que eu peço, Amém.

Natal Galponeiro
Jayme Caetano Braun / Lucio Yanel

A cuia de chimarrão
É o cálice do ritual
E o galpão é a catedral maior
Da terra pampeana
Que de luzes se engalana
Para esperar o Natal
A cuia aquece na palma da mão
Da indiada campeira
Dentro da sua maneira,
Rezando e chairando a alma
Pra recuperar a calma
Que fugiu do mundo inteiro
Enquanto o estrelão viajeiro
Já vem rasgando o caminho
Para anunciar o Piazinho
A Virgem e o Carpinteiro
Em nome do Pai,
Do Filho e do Espírito Santo
É o chimarrão que levanto,
E o vento faz estribilho
A prece do andarilho,
Ao Piazito Salvador
Filho de Nosso Senhor,
Do Espírito e do Pai
De volta à terra
Aonde vai falar de novo em amor
Tem sido assim dois mil anos
Ninguém sabe, mais ou menos
Vem conviver com os pequenos,
De todos os meridianos
E repetir aos humanos,
As preces do bem-querer
Quem sabe até pode ser,
Que um dia seja atendido
E o mundo velho perdido,
Encontre paz pra viver
Ele sabe da apertura em que vive o pobrerio
A fome, a miséria,
O frio porque passa a criatura
Mas que inda restam ternura,
Amizade e esperança
E que pode a cada andança,
Mesmo nos ranchos sem pão
Aliviar o coração
Num sorriso de criança
Pra mim, que ouvi nas missões,
Causos de campo e rodeio
Do negro do pastoreio
Cruzando pelos rincões
Das lendas e assombrações
E cobras queimando luz
Foste, Menino Jesus
O meu sinuelo de fé
Juntando ao índio Sepé
O Nazareno da cruz
E a Santa Virgem Maria
Madrinha dos que não têm
Fez parte sempre também
Da minha filosofia
Eu, que fiz de sacristia
Os ranchos de chão batido
E que hoje, encanecido
Sou sempre o mesmo guri
A bem dizer por aí o pago onde fui parido
E o Nazareno que vem
Das bandas de Nazaré
Chasque divino da fé
Rastreando a luz de Belém
Ele vai morrer também
Para cumprir as profecias
É Natal
Nasce o Messias
Salve o Menino Jesus
Mas os que fogem da luz
O matam todos os dias
Presentes papais noéis
Um ano esperando um dia
Quando a grande maioria
Sofre destinos cruéis
O amor pesado a mil-réis
E mortos-vivos que andam
Instituições que desandam
Porque esqueceram Jesus
O que precisa é mais luz
No coração dos que mandam
Que os anjos digam Amém
Para completar a prece
Do gaúcho que conhece
As manhas que o tigre tem!
Não jogo nenhum vintém
Mesmo sendo carpeteiro
Mas rezo um tedéum campeiro
Nesta catedral selvagem
Pra que faça boa viagem
O Enteado do Carpinteiro!

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