17.9.02
Delicadezas
Hoje foi um dia de pensar em delicadezas... sensações que eu guardo dentro de mim desde muito menina, ou mais recentes. O sentimento de segurança, de “agora posso dormir”, quando eu ouvia o “shhk-shkk” que as coxas da minha mãe faziam, roçando uma na outra, quando vestidas com meias de seda, voltando de uma festa. A gargalhada do meu pai. O cheiro do churrasco que ele fazia. Passear de carro deitada no banco de trás, vendo as nuvens passarem rápido.
O bolo de queijo da minha tia. Brincar com filhotinhos de cães e gatos. Deitar no colo da minha mãe. Ver um botão de rosa abrir nas roseiras da minha avó. Ouvir os contos de fada que ela me contava antes de dormir. Brincar de boneca. A delícia de pentearem meus cabelos. Fazer e receber cafuné. Ficar quietinha, escutando meu coração bater. Ler. Desenhar. Ouvir música. A primeira mordida em um fofo pudim de claras. Canções de ninar. Andar de mãos dadas.
Beijo na testa, beijo na ponta do nariz, beijo na bochecha, beijo. Sentar sozinha na praia, à tardinha, e escutar as ondas. Ganhar um presente que eu queria muito. Café da manhã na cama, no dia do meu aniversário. Ajudar a mãe a bater o bolo, e poder lamber a colher de pau depois. Brincar de massa de modelar. Enrolar brigadeiro.
O primeiro beijo do amado. O olhar especial, que ele reserva só para mim. Falar coisinhas sexy e amorosas ao telefone. Receber flores. Tomar sorvete no mesmo pote, revezando a colher. Usar lingerie de seda e renda. Estrear uma roupa nova. Esperar por uma festa. Salto alto. Dançar agarradinho.
Sensação de dever cumprido. Gavetas arrumadas. Sachês perfumados. Banheiro recém lavado. Lençóis recém trocados. Cheiro de lavanda. Passar hidratante no corpo. Deitar em uma cama macia, depois de um longo dia de trabalho. Um banho de hidromassagem. Cabelos sedosos e limpinhos, roçando o pescoço e as costas. Fazer a manicure.
São sensações e lembranças que me mantém inteira, quando pessoas à minha volta querem me desestruturar e convencer que – ao invés possuir asas de borboleta – devo tornar-me cinza e sem graça, cheia de regras e de “não podes”, sem gozar a vida, os amigos, as coisas belas. Para estas pessoas, isto é coisa de cadelas doentes. Para mim, é coisa de gente feliz. E, quanto mais eu vivo, quanto mais o tempo passa, mais preciosas estas pequenas delicadezas se tornam, mais inteira eu fico, e mais convencida: minha vocação é ser e fazer feliz.
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