"Marina viu uma borboleta voando no jardim. Ela não se surpreendeu com o fato da borboleta voar direto, atravessando o jardim, já que não achara coisa alguma bela para olhar, flor alguma na qual repousar. Ela adorava o modo de voar das borboletas. Sem linhas retas, sem pressa de chegar a algum lugar. Para cima e para baixo, para frente e para trás.
Então a borboleta parou. Ela não parara no jardim, mas decidira vir sentar na janela e olhar para Marina. Ela olhava para o ser sentado na janela, olhando para dentro. Este movia suas asas como a dizer olá, e quando Marina não respondeu, a borboleta decidiu enviar uma mensagem em código. Ao menos, é o que parecia para Marina. A borboleta batia na janela, primeiro com uma asa e depois com a outra, como se realmente estivesse enviando uma mensagem.
O problema era que Marina não entendia o código que a borboleta estava usando. Ela não entendia qualquer código de envio de mensagens. Em alguns momentos ela pensava que ela não tinha talento algum para se comunicar em qualquer idioma. Ela certamente não acreditava ter talento para se comunicar com Tom, de uns tempos para cá.(...)
Ela estendeu a mão para a borboleta. Encostou a mão na janela, enviando pequenas mensagens de volta para ela. Elas ficaram fazendo isso, dedos e asas batendo contra a janela, ambas satisfeitas em ficar ali e contemplar uma à outra por algum tempo.
O que pensava a borboleta dela, vivendo naquela casa, entre quatro paredes? O que ela sabia sobre as linhas retas nas quais as pessoas viviam? Escola, universidade, empregos; família, amigos, namorados, marido, filhos; quarto, apartamento, casa, casa maior, casa maior com jardim. Será que a borboleta se perguntava porque Marina não voava como ela – aqui e ali, para cima e para baixo, para frente e para trás – movendo-se onde quisesse, quando quisesse? Marina olhava para a borboleta e se perguntava a mesma coisa. Então, ela se lembrou de algo.
Ela havia lido em um jornal algo sobre uma teoria que tudo no mundo é entrelaçado. Se você muda uma coisa, então esta coisa irá modificar outras coisas também. Ela se lembrava do exemplo que eles deram: uma borboleta pousa em uma flor em algum lugar do oriente e isto modifica uma outra coisa, e então uma terceira coisa muda e uma outra e uma outra, até que, finalmente, acontece um terremoto no ocidente, a milhares de milhas de distâncias.
Marina observou a borboleta e perguntou: 'Que mudanças você trará à minha vida? Haverá um terremoto em algum lugar do mundo hoje? Haverá um terremoto em minha vida?' Ela sorriu ao considerar os próprios pensamentos e então espalmou a mão do outro lado da janela. Ela convidou a borboleta a entrar e pousar em sua mão. Mas a borboleta desapareceu no instante que a porta da frente se abriu e Tom entrou em casa."
(O Homem que Passava, por Collin Campbell; tradução, Assunção Medeiros)
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