14.9.02

Coração, bate-bate. Respiração acelera. Pele arrepia. O sangue pulsa. O meio das pernas se umedece. Ela pressente a sua chegada. Com cuidados de Sherazade, banha-se em óleos, massageia, perfuma, escolhe sedas e rendados, música, comidas. Ele vem, ele vem. O pensamento lhe causa um calafrio que desce pela espinha e lhe esquenta as ancas como se ele já a tocasse ali.

Ela passa o dia em doce expectativa, seguindo a rotina de sempre e sorrindo para si, a imaginar o que cada um com quem se encontrava diria se percebesse as labaredas que lhe ardiam por dentro. À noite ele vem. A certeza lhe dava uma nova cadência ao andar, mais lânguida, mais atenta a cada movimento de seu corpo. Flutuava.

O dia passou, ela nem sabia como. Lembranças vagas de entrar e sair de lugares, falar, trabalhar. Não tinha ido ao trabalho de carro, não confiava em sua concentração ao volante. Ele vinha, ele chegava. Faltava pouco agora, e ele vinha. Satisfeita, repassava mentalmente todos os preparativos. Nada fora do lugar, a casa limpa, perfumada com velas aromáticas e incenso. A truta na geladeira, pronta para assar. O vinho ela trazia consigo, francês, sutil. A sobremesa, delicado flan, receita de sua avó. No equipamento de som, música instrumental, violões flamencos, que sempre a faziam mais sexy e receptiva. O que havia para dar errado? Nada, pensava feliz. E ele estava para chegar.

Com um sorriso brilhante para o porteiro, ela sobe. Enfia a chave na porta, abre ligeira, olhando o relógio e contando os minutos, organizando mentalmente as tarefas que faltavam para recebê-lo como queria. Aí, viu a luz da secretária eletrônica piscando. Mensagem...

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