14.12.07

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Presente de Aniversário



Minha Mami chegou outro 14 de dezembro... seu aniversário de nascimento. Esse vai ser sempre um dia lindo, mesmo que esteja chovendo cântaros de água como hoje. Mesmo que tudo que eu possa fazer é pensar em como sinto a falta da minha patinha dos olhos verdes de folha nova. Mas que interessam meus problemas, minha tristeza? Você está junto do seu marido lindo agora, e este é o seu maior presente. Eu então respiro fundo e adiciono o meu "assim seja" à sua felicidade.

Eu te amo Mami. Feliz niver, dá um beijo no Papi por mim.
Virose

Duzentos mil ataques de tosse
50 mil litros de suores frios
50 km de lenços de papel
38.2º C de temperatura
Sete dias de antibiótico
Três dias de molho
E a hora que não passa...

13.12.07

Os caminhos que a vida traça sem a gente perceber... chega a ser engraçado, se ao menos não fosse tão triste. Uma faxina mais corajosa nos pertences do pai, mais umas sacolas de livros doados à Biblioteca Municipal, e eis que uma figura muito importante do meu passado aparece de fininho, elegante como sempre foi, sem exagero de expressão, quase calado como ele era. Um livrinho escrito por um outro-pai, um homem que me amava e a quem eu amei exageradamente, com coração de filha e de criança. Nunca cheguei à conclusão se ele era um poeta que lutava ou se era um guerreiro que fazia poesia. Ele morreu enquanto eu era jovem demais para descobrir.

Hoje há outro Joaquim que eu amo, exageradamente como amei meu primeiro Joaquim, mas sem a inocência e o salvo-conduto da infância. Amar na idade madura é tão mais arriscado, tanto calo a ser pisado onde só havia alegria antes... Meu primeiro Joaquim era metade como eu, sensível e apaixonado, se expressava na poesia. Metade ele era como o segundo Joaquim, calado e guardado, desesperançado com o mundo. O primeiro Joaquim morreu de tristeza, ainda muito novo, poeta que era, novo demais, com muita poesia tragicamente por escrever. Deixou de cumprir a promessa-ameaça que jocosamente fazia a meu pai, que era a de me levar, ele mesmo, ao altar e entregar minha mão à um prometido que ainda estava no porvir.

Teria sido perfeito, tio amado, que você pudesse ter-me levado àquele prometido altar, e entregue sua pequena amiga para um segundo Joaquim, jovem, confiante e livre para me receber diante de Deus e dos homens. Mas este mundo, este mundo que nos rala a pele e nos enche a alma de cicatrizes, este mundo não é perfeito, não é, querido?

De um Joaquim para outro, passando por dentro do meu coração:

Amigos de Longos Anos
(Maj. Brig. Joaquim Vespasiano Ramos)

Fixei-me no horizonte
À procura do infinito
E só a linha do horizonte
Apareceu-me no infinito!

Procurei no escuro do firmamento
A mais bela e distante estrela;
Escondida no escuro do firmamento
Estava a mais bela e distante estrela!

Contemplei, do deserto, a miragem
Com a esperança de olhos cansados.
Eclipsou-se, porém, do deserto a miragem
Para a tristeza dos olhos cansados.

Esperei as ilusões de um lindo sonho
No meu sono tranquilo e profundo;
Recusou-me ilusões o lindo sonho
Do meu sono tranquilo e profundo!

Busquei, no âmago do pensamento,
As alegrias e venturas do passado;
Nada havia no âmago do pensamento --
Nem alegrias e venturas no passado.

Ofereci a mão da amizade
Ao amigo de longos anos;
Estendida ficou a mão da amizade
Sem a do amigo de longos anos!

Procurei na gota de orvalho
A lágrima que me falta.
Desmanchou-se a gota de orvalho
E a lágrima inda me falta.

2.12.07

Barbudo amado, muita saudade... tem dia que é só mesmo respirar fundo e suportar. Ainda bem que existe a poesia em toda a parte, mesmo longe de você. Beijos



Hoje eu olhei longamente fotos minhas de infância
Aquele olhinho límpido não tinha a menor idéia do que a esperava
Graças ao Todo-Poderoso por isso
Hoje, aquele olhinho meio embaçado da foto antiga
É o que me dá estrutura e força.
Hoje aquela criança está em algum lugar dentro de mim
Protegida
A salvo
Me fitando com seu olho verde e límpido
É ela que me faz continuar andando
Andando sem parar
E é ela que vai ter de me dizer para parar
Na hora em que eu finalmente chegar.

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November Rain - Guns N' Roses


When I look into your eyes
I can see a love restrained
But darlin' when I hold you
Don't you know I feel the same
'Cause nothin' lasts forever
And we both know hearts can change
And it's hard to hold a candle
In the cold November rain

We've been through this such a long long time
Just tryin' to kill the pain
But lovers always come and lovers always go
An no one's really sure who's lettin' go today
Walking away
If we could take the time to lay it on the line
I could rest my head
Just knowin' that you were mine
All mine

So if you want to love me
then darlin' don't refrain
Or I'll just end up walkin'
In the cold November rain

Do you need some time...on your own
Do you need some time...all alone
Everybody needs some time...on their own
Don't you know you need some time...all alone
I know it's hard to keep an open heart
When even friends seem out to harm you
But if you could heal a broken heart
Wouldn't time be out to charm you

Sometimes I need some time...on my
own Sometimes I need some time...all alone
Everybody needs some time...on their own
Don't you know you need some time...all alone

And when your fears subside
And shadows still remain, ohhh yeahhh
I know that you can love me
When there's no one left to blame
So never mind the darkness
We still can find a way
'Cause nothin' lasts forever
Even cold November rain

Don't ya think that you need somebody
Don't ya think that you need someone
Everybody needs somebody
You're not the only one
You're not the only one

27.11.07

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Assim é



Assim é Alceu. Bicho maluco beleza, poesia encarnada, barroco nordestino dentro do blues. O grande poeta da música brasileira, o capetinha no palco que faz esta mulher de meia idade aqui ter vontade de dar cabriolas junto com ele. Explosão de emoção, o músico com as maiores asas de borboleta que eu conheço. E ele SABE usá-las para voar e nos fazer voar com ele.

Pois ele também sabe das emoções mais sombrias, daquilo que faz nosso coração gemer angustiado. Ele sabe da solidão que devora as horas, ele sabe do cansaço e da falta de cio do amor quando acaba. Ele sabe das farpas do amor que machuca.

A questão é: HÁ quem valha metade de mim? Há quem valha metade de mim! Há quem valha metade de mim. Há quem valha metade de mim... Metade... eu sem ele, ele sem mim...

Mas metade de mim é muito pouco quando estou triste assim.


Amor covarde
(Alceu Valença)

Amor covarde, que morde, que arde
A minha amada é metade de mim
A madrugada se arrasta, tão lenta assim
Dor...dor...dor...dor

Moça bonita, novilha tão rara
Não há quem valha metade de mim
Nascemos sós, só seremos serenos no fim

Amor covarde, que morde, que arde
A minha amada é metade de mim
E a madrugada se arrasta, tão lenta assim
Dor...dor...dor...dor

Moça bonita, novilha tão rara
Não há quem valha metade de mim
A dor do amor, navalhada que arde assim
Dor...dor...dor...dor

Estrela d´alva, pedaço de lua
A pele nua, cheirando a jasmim
Boca cereja, bandeja de prata, do-in
Dor...dor...dor...

Moça bonita, novilha tão rara
Não há quem valha metade de mim
Nascemos sós, só seremos serenos no fim

19.11.07

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Flor de Flamboyant (ou Com o Coração em Brasa)



Desta vez a visita ao cerrado não foi colorida pelas flores do ipê, mas o coração foi aquecido pela floração do passional flamboyant. A cidade estava toda verde folha e vermelho paixão. Achei apropriado que este vermelho intenso fosse testemunha dos nossos encontros. Apropriado e lindo.

Agora, além de um imenso ipê-roxo, todo florido, residindo em meu coração, há no caminho que leva a ele um tapete de lindas flores vermelhas de flamboyant, macio leito onde me deito para divagar sobre o amado e matar as saudades dentro de mim.

Amado, outras flores estarão brotando quando nos encontrarmos novamente, ou talvez os frutos já estejam madurando nas árvores. Mas, como borboleta que sou, levo comigo o pólem destas flores que enfeitaram o nosso começo. Com este pólem hei de fazer sua vida mais doce, colorida e perfumada, como você merece.

Porque é preciso mostrar no concreto aquilo que se manifesta no etéreo de nosso sentimento. Preciso dizer com palavras e mostrar com gestos o que sei. E eu sei, bem sabido, que te amo, te desejo, te admiro e respeito. Sei que adoraria ficar com você até estar bem velhinha, amando você todo e cada dia daqui até o final de nossas vidas. Sei que eu lutaria do seu lado, com todas as minhas forças e toda a minha alegria, da forma que você me pedisse. Sei que viveria com você em qualquer lugar, dentro das posses do nosso trabalho conjunto, na maior felicidade. Sei com um frio na barriga que a minha felicidade está nas suas mãos.

Pois em nome disto vou tentar enquanto estivermos separados que minhas certezas, meus medos, a alegria de estarmos juntos e a tristeza de estarmos separados, o roxo do ipê e o vermelho do flamboyant se misturem da maneira mais bonita que eu conseguir para presentear seu coração. Cuida dele até que eu possa estar perto e me certificar que tudo está bem, pessoalmente. Sei que não é preciso dizer, mas não custa repetir: te amo. Fica bem.

16.11.07

Indo embora

Minha estada no cerrado foi doce e amarga, como sempre, porque há todo dia a consciência de que terei de partir. Hoje, o que ficava no fundo da consciência como uma leve dor de cabeça - aquela que conseguimos ignorar a maior parte do tempo - explodiu em dor aguda e insuportável. O que era daqui a uns dias virou hoje. É dia de partir, é dia de doer o coração.

Como Deus nunca me abandona, meu querido e antigo amigo blogueiro Marcos (olá, querido, saudades!) me presenteou nos comentários com uma poesia de Alberto Caeiro que funcionou como um verdadeiro analgésico da alma. Obrigada, querido, o poema é tão lindo que resolvi repeti-lo no post de hoje:

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Meu homem-ipê, esta árvore alta que vira menino encabulado quando estou perto, até logo. Que o logo seja realmente logo mas, se não for, saiba que o levo verdadeiramente comigo, você está entronizado dentro do meu coração de tal forma que onde eu estiver, lá estará você. Que Deus permita que eu seja seu girassol agora e para todo o sempre.

Lá vem a solidão desacompanhada do Rio de Janeiro. Que eu tenha forças para suportar.

14.11.07

Promessas e Comprometimentos

Nossos encontros e a maneira que eu penso nele quando não está comigo são tão pontuados por música que eu estou, literalmente, montando um CD com as MP3 todas, descobrindo não muito surpresa que já passaram de noventa músicas... Algumas delas são tão cardinais das direções que meu carinho por ele se desenvolve que eu acabo postando aqui.

Pois eis que chegou a hora de fazer promessas, de estabelecer parâmetros, de dar os passos para o lado e para trás para que seja possível andar para frente em compasso. Sei que ele, do seu jeito silencioso, está o tempo todo medindo e pensando. Sei que tem medo da distância física, dos problemas todos, do passado de um e de outro.

Amado, que dizer? Você já sabe o quanto eu te quero...
Quer tempo? eu espero.
Quer silêncio? eu calo.
Quer pisar no freio? eu desacelero.
Quer saber se eu me adapto? a quase tudo.
Quer pensar na melhor forma de seguir? Que tal juntos?


Ah, sabe que mais? Uma música, mais uma vez, já disse tudo.


Dia Branco
Geraldo Azevedo / Renato Rocha

Se você vier
Pro que der e vier
Comigo...

Eu te prometo o sol,
Se hoje o sol sair,
Ou a chuva...
Se a chuva cair.

Se você vier,
Até onde a gente chegar,
Numa praça na beira do mar,
Um pedaço de qualquer lugar...

Nesse dia branco,
Se branco ele for,
Esse tanto, esse canto de amor
Oh! oh! oh!...

Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo...

Se você vier
Pro que der e vier
Comigo...

Te prometo o sol,
Se hoje o sol sair,
Ou a chuva...
Se a chuva cair.

Se você vier,
Até onde a gente chegar,
Numa praça na beira do mar,
Num pedaço de qualquer lugar...

Nesse dia branco,
Se branco ele for,
Esse tanto, esse tonto,
Esse tão grande amor,
Grande amor...

Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo...

12.11.07

Maneiras de expressar amor

São tantas quantas as pessoas que já nasceram, mais talvez, se pensarmos que nem sempre expressamos amor da mesma forma ao longo da vida. Eu, que me expresso basicamente por palavas, estou aprendendo com ele a entender pequenos gestos e linguagem corporal muito sutil. Eu, que sou expansiva e exagerada, passional, estou aprendendo a respeitar o silêncio e os toques suaves, leves.

Meu minerin-candango é silencioso, ele comunica mais pelo olhar que pelas palavras, com as quais ele tem um relacionamento hesitante. A força do olhar dele, no entanto, é irresistível. Um brilho de entusiasmo, um apertar carinhoso dos cantos dos olhos, um atento e discreto olhar de viés quando falo com outros... Uma linguagem toda nova que estou adorando aprender.

O vocabulário estou aprendendo com a facilidade que a contemplação amorosa me dá. Eu já sei o que significam tantos gestos, tantos olhares. A gramática da alma do outro, no entanto, é uma aventura que leva uma vida inteira para levar a cabo. Uma aventura, amado, que eu quero muito começar com você, o mais rápido que puder, e para sempre.

Amor de Índio
Beto Guedes - Ronaldo Bastos

Tudo que move é sagrado
E remove as montanhas
Com todo cuidado, meu amor
Enquanto a chama arder
Todo dia te ver passar
Tudo viver a teu lado
Com o arco da promessa
Do azul pintado pra durar
Abelha fazendo mel
Vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser todo
Todo dia é de viver
Para ser o que for e ser tudo
Sim, todo amor é sagrado
E o fruto do trabalho
É mais que sagrado, meu amor
A massa que faz o pão
Vale a luz do seu suor
Lembra que o sono é sagrado
E alimenta de horizontes
O tempo acordado de viver
No inverno te proteger
No verão sair pra pescar
No outono te conhecer
Primavera poder gostar
No estio me derreter
Pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser tudo

10.11.07

Desejos

Hoje, para mim, "quero" é o verbo mais bonito do português. É o verbo que me tranquiliza, que me faz aceitar os limites, a distância, as dificuldades. Nada se compara a saber-se querida, ainda que nossas vidas corram paralelas, com pequenos hiatos de encontro entre grandes espaços de saudade.

Hoje estou aqui, amanhã volto obrigatoriamente para minha vida normal. Mas volto com um olhar e um diálogo gravados na alma: "Afinal de contas, você me quer? Quero."

Who Wants To Live Forever (Queen)

There's no time for us,
There's no place for us...
What is this thing that builds our dreams
Yet slips away from us?

Who wants to live forever?
Who wants to live forever...?

There's no chance for us,
It's all decided for us,
This world has only one sweet moment
Set aside for us.

Who wants to live forever?
Who wants to live forever?...

Who dares to love forever
When love must die?

But touch my tears with your lips,
Touch my warmth with your fingertips
And we can have forever
And we can love forever
Forever is ours today

Who wants to live forever?
Who wants to live forever?
Forever is our today...
Who waits forever anyway?


Quem gostaria de viver para sempre

(Queen - tradução livre minha, para você, amado)

Não há tempo para nós,
Nem lugar para nós...
O que é isto que constrói nossos sonhos
E no entanto foge de nós?

Quem gostaria de viver para sempre?
Quem gostaria de viver para sempre...?

Não há chance para nós,
Tudo já foi decidido por nós,
Este mundo só tem um doce instante
Reservado para nós.

Quem gostaria de viver para sempre?
Quem gostaria de viver para sempre...?

Quem ousaria amar para sempre
Quando o amor tem de morrer?

Mas toque meu pranto com seus lábios,
Toque meu calor com a ponta de seus dedos
E podemos ter o sempre,
E podemos amar para sempre.
"Para Sempre" é nosso hoje.

Quem gostaria de viver para sempre?
Quem gostaria de viver para sempre?
"Para Sempre" é nosso hoje...
E quem é mesmo que espera para sempre?

9.11.07

A Chuva

Aqui no planalto não chove como no Rio. No Rio, a chuva chega ameaçadora, trazendo medo, com nuvens pesadas e escuras que chegam para ficar dias. A chuva aqui é como uma oferenda, como uma entrega amorosa. Devagarinho algumas nuvens vêm chegando lá de longe, se juntam numa lenta procissão umas às outras, os pingos começam a cair lentos e espaçados, quase o preâmbulo de uma cerimônia solene.

Em alguns minutos muda o andamento da cerimônia: cai um aguaceiro feroz, o vento forte faz as copas das mangueiras chacoalharem como de alegria, a água na calha, correndo pela corrente que a guia para o chão, faz uma cantoria pontuada pelos trovões graves e longos que rolam as nuvens adiante. Porque adiante as nuvens andam, e logo não há mais chuva, só o frescor e a alegria deixada pela sua passagem.

Em meia hora a festa se encerra, e a única testemunha do meu encanto é um pardal solitário, que veio tomar banho de chuva no gramado dos fundos da casa, amigo ocasional que logo levanta vôo para se juntar aos outros pássaros que comemoram a visita da chuva no alto do céu.

8.11.07

Guardiães do Cerrado

Já choveu aqui umas poucas vezes desde a última visita. A grama agora está verde, as copas das árvores cheias de folhas novas e brilhantes. Os pássaros planam como a brincar no ar seco e limpo da poeira. As nuvens desfilam lentamente por este céu imenso, ainda indecisas se vão partir ou ficar.

Este céu, este céu... ele e as árvores retorcidas e inclinadas do cerrado, sempre parecendo marchar juntas numa mesma direção, são os guardiães desta terra cheia de contrastes. São eles também os guardiães do meu sentimento, tão grande, tão grande, imenso como o céu de Brasília, passeando tranquilo pelo meu coração como as fofas e brancas nuvens voando altas acima da minha cabeça.

Estou tranquila, o coração explodindo em flor. Em flor roxa de ipê. Isso tudo que estou sentindo acho que só posso chamar de plenitude. Plena de mim, plena da presença dele, plena do céu do planalto. Plenamente feliz.

5.11.07

Administrando as diferenças

Todos somos diferentes. Parece óbvio, mas não é. Tudo aquilo que torna aparentemente semelhantes os indivíduos dos diversos grupos a que pertencemos são semelhanças superficiais. Debaixo do verniz somos todos muito diversos, cada um é em si mesmo um mundo de coisas, e muitas vezes morremos sem explorá-las.

Eu tenho esta curiosidade quase felina a respeito das diferenças. Eu não apenas respeito, eu admiro e reverencio aquilo que torna meu outro diferente de mim. Não sou Narciso e não preciso de um reflexo de mim. Quero um mundo diferente para explorar, quero que este outro percorra o meu universo e me mostre com seu olhar diferente coisas a meu respeito que eu nunca tinha percebido antes.

Eu, que sou menina de apartamento, nunca aprendi a subir em árvores. Hoje sonho com um descampado onde só existe um monumental ipê-roxo, de tronco forte e largo, todo florido, para que eu possa escalar. Espero, de alguma forma, do meu jeito dengoso e meio inocente de gente de estufa, que eu traga a este terreno inóspito do cerrado uma suavidade que ele nunca conheceu.

Brasília me espera. Amado, estou chegando.

21.10.07

Coroa de flores de ipê

Meu lindo minerin-candango, você vive longe de mim, não posso estar sempre que quero olhando fundo nos seus olhos. Eles estão, entretanto, dentro de mim; toda vez que fecho os meus olhos é para ter você me fitando dentro da minha retina, com suas duas fundas piscinas escuras, de águas limpas como os lagos subterräneos de algumas cavernas.

Entendo, entendo tudo que vocë não pode dizer. Quanto ao que gostaria de dizer, bem, o charmoso Jorge Aragão já falou por mim em sua cantoria mansa. Então tem recado dele para você.

Lucidez

Por favor!
Não me olhe assim
Se não for
Por viver só prá mim...

Aliás!
Se isso acontecer
Tanto faz
Já me fiz por merecer...

Mas cuidado não vá se entregar
Nosso caso não pode vazar
E tão bom se querer
Sem saber
Como vai terminar...

Onde a lucidez se aninhar
Pode deixar
Quando a solidão apertar
Olhe pro lado
Olhe pro lado
Eu estarei por lá...

19.10.07

Devaneios

Os homens nem sempre entendem porque é que as mulheres gostam tanto de se enfeitar, ou porque passam tanto tempo se vestindo, mesmo que seja para uma atividade normal, num dia comum.

Eu hoje pensei sobre isto algumas vezes, porque hoje eu quis me enfeitar. Mais que me enfeitar, quis ser uma Sue diferente, uma nova persona, só por causa de uma bata verde. Uma bata verde-bandeira, solta, leve, gostosa, que tomei emprestado de minha irmã. Essa peça de roupa hoje me levou a passear.

Juntas fomos longe, a um tempo distante, com hippies sentados na grama, cantando "Give Peace a Chance"... pois foi a esta bata que eu juntei uma calça confortável e gostosa que tenho, verde beeemmm clarinha, um colar com uma grande flor de metal dourado, um brinco de argolas e uma faixa de cabelo de crochê que eu mesma fiz, em uma linha cor de algodão cru com muitas e muitas folhinhas verdes penduradas. E lá fui eu para 1969, cheirando a flor de laranja, com uma flor no peito e com a cabeça cheia de folhas. Verde, toda verde.

Depois de pensar, acho que sei porque as mulheres gostam de se enfeitar... porque neste momento somos as bonecas de nós mesmas, e é neste momento mais que qualquer outro que ficamos livres para sonhar.

18.10.07

Algumas pessoas têm o dom da síntese. Eu, apesar de admirá-las, não sou e não gostaria de ser uma delas, porque adoro me alongar. O Camafunga, entretanto, tem este dom e o utiliza de forma magistral, como no seu post do dia 17, falando sobre sentimento.

Moço, que lindo, obrigada! Tomo a liberdade de reproduzir aqui:

Sobre o sentimento...

Não há letra que acompanhe porque não há musica que acalme.

Ontem percebi os pedaços de história no reboco envelhecido e as manchas nas paredes como marcas de memória, por isso não as havia pintado, por isso mantinha os descascados como prova de vida. Acho que este é mais um texto que não compartilho com quem de direito, nem sei se alguma vez foi compreendido os sentidos, norte para o tapete da sala, oeste para a luminária do quarto, afinal posição solar boa é a do plexo, agora, assim, janela alguma ilumina adequado, por mais que aberta, mesmo escancarada. Portanto, é chegada hora, nenhuma tinta mudaria a matiz do que se passa, nem massa renova tantas perdas acumuladas.

Casa nova, é necessário, e silêncio, pois não há letra que acompanhe, nem música que acalme.

16.10.07

A atualização deste post se faz necessária, queridos.

Logo depois de realizar a mudança que descrevo abaixo, percebi que a caixa de comentários estava bloqueada de vez, que havia uma notificação aos donos de guestbook. Lendo, descobri que ele JÁ FOI descontinuado. Ainda tenho uns dias para cuidar de sua transferência para outro local.

Estou vendo isso, mãos à obra com a caixa de comentários nova!



Queridos,

Estive tendo problemas com o Guestbook alemão que uso há alguns anos. É uma pena, mas acho que eles estão chegando no limite de volume de trabalho que conseguem executar. O resultado é que vou habilitar os comentários do Blogger, já que nestes anos que se passaram eles aprenderam que comentário tem de ter moderador. :)

O Guestbook não vai ser desativado, de forma alguma. Existem mensagens lá que são verdadeiras obras de amor e arte, de muitas pessoas que amo e admiro. Se quiserem continuar comentando lá, fiquem à vontade. Se quiserem estrear os comentários novos, ótimo.

Para todos, o meu beijo.

12.10.07

Meu amigo Alfredo me passou a brincadeira, tenho de seguir adiante com ela, já que é tão simpática...

Minha frase é: "Era inverno, grande parte das árvores estava desfolhada."

Do livro de Ítalo Calvino "O Barão Rompante", que estava logo ao meu lado na casa de um amigo, que peguei assim que li o post de Fredo.

Amados, eis as regras:

1ª) Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);

2ª) Abra-o na página 161;

3ª) Procurar a 5ª frase completa;

4ª) Postar essa frase em seu blog;

5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;

6ª) Repassar para outros 5 blogs.

Os outros cinco blogs é que são elas, porque a brincadeira já veio de um dos que eu escolheria, né Fredo... bom, lá vai:

Blog 1: Caderninho para Kaká e Malú

Blog 2: Extratempo do Pi

Blog 3: Milton Ribeiro do MIlton

Blog 4: Templo de Atena da Helô

Blog 5: Umbigo do Sonho da Adelaide Amorim

Amados, sigam as regras e divirtam-se! Quem sabe no final não sai um texto bacaninha?

4.10.07

Enchendo as lacunas

O meu amigo Evandro Ferreira é uma pessoa especial que a Internet me deu de presente. Nos conhecemos numa lista de comentários de um blog, imediatamente iniciando uma bela argumentação a respeito das nossas opiniões divergentes. O fato de não ter virado briga - porque Evandro é o Lorde Fofinho, querido, um gentleman que não briga nunca - acabou por nos tornar amigos, e o motivo da discusão se perdeu no pó da estrada.

Outro dia eu atualizei meus links da coluna da direita do Asa, e redescobri a alegria de ler os textos do Evandro. Passei a assessar os blogs dele regularmente, no ritmo que minha atual vida alucinada me permite. Ontem, portanto, achei o post "Coisa mais linda do mundo", linkado no post logo aí embaixo. Como é uma declaração de amor com conteúdo, de verdade, me emocionou muito.

Deixei um comentário falando o quanto era bonito ver este amor, mas pedindo a ele que não me fizesse chorar. O querido me pediu desculpas, e tivemos uma MARAVILHOSA troca de e-mails ontem de noite, que tenho certeza aliviou meu trabalho noturno e o dele. O Evandro postou o e-mail dele no post Para uma borboleta e me senti na obrigação de preencher as lacunas, colocando meu e-mail anterior no Asa:

"Querido,

Uma cachoeira não se desculpa por espirrar água linda, ruidosa e abundantemente sobre os visitantes, uma rosa nem esquenta de espetar os dedos dos seus admiradores mais audaciosos. Você não precisa se desculpar por ser lindo, meu amigo.

Mas que eu chorei, chorei. Choro agridoce de beleza misturado com tristeza.

Comecei pensando que você é um afortunado de ter encontrado um amor assim, mas eu estava errada e eu mesma me corrigi: este amor lindo assim vem de dentro de você, já estava aí, a Henrie o merecia e então o encontrou, e veça-virse. Vocês dois são de uma lindeza que deixa a gente embargada...

Depois eu pensei em tudo e o tanto que já perdi na vida, no tanto que minha mão amiga já levou tapas pela internet, o tanto que eu procuro um homem que aceite meu amor, sem encontrar (me pergunto se eu mereço ter um amor assim...) e aí fiquei bem triste.

Foi então que eu lembrei que você e a Henrie e a Melinda fazem parte de minha vida, e isso me consolou.

Ainda estou com o coração apertado, mas não choro mais.

Amo muito você, acho que nunca disse isso com todas as letras, mas é verdade."

Pois é isso que é amor, que é amizade, queridos amigos do Asa, é sentir o outro como um presente, "a energia que faz nosso coração mais feliz" como meu amigo Evandro escreveu. É saber que a distância dói, mas doeria mais a ausência da pessoa amiga em nossas vidas. É aceitar o outro inteiro, mais que isto, sentir de verdade que o outro não poderia ser diferente do que é, que está certinho do jeito que está.

Por isso é que eu acho que tanto eu quanto ele, primeiro em separado e depois conversando juntos por e-mail, decidimos tornar estas mensagens públicas: porque queremos que as pessoas vejam e saibam que no meio desta tumultuada corrente de gente que passa e some sem deixar rastro, gente que usa e abusa, gente que não liga, encontramos um AMIGO.

É uma coisa muito preciosa.

3.10.07

Redescobrindo Evandro

Houve uma época em que nos falávamos sempre pelo telefone, às vezes horas. Nestas conversas consertamos o mundo e montamos o Outonos. Desde então, muita coisa na nossa vida mudou, mas o amor e a admiração que eu sinto por ele só fazem aumentar.

Eu nâo vou falar mais nada não, vão vocês e descubram porque estou aqui enxugando lágrimas e sorrindo e morrendo de vontade de dar um abraço nele.

30.9.07

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O Andar da carruagem



Há mais de três anos eu o convidei para dançar, antes que ele estivesse preparado para dizer sim, e a dança não aconteceu. Deixei-o livre, ele retornou à minha vida meses atrás, diferente. Mais próximo de um outro jeito. A dança continuou sem acontecer. Continuei a deixá-lo livre, bicho solto que é.

Hoje me despedi dele mais uma vez, numa cidade mais perto do céu que a minha. Hoje - e eu digo isto feliz e tranquila - sou a "menina sua amiga", e pretendo usufruir o quanto puder deste amor que não vai embora que é a amizade. Deixando-o livre, sempre, cada vez mais livre - e mais confortável, espero.

Só que a música continua tocando em meu coração, meu amigo. Algum dia vamos fazer juz a ela e finalmente dançar? Ainda acho que vai ser uma coisa linda para lembrarmos (e lembrar-mo-nos), tanto quanto tem sido lindo imaginar.

E, hoje, este é o andar da carruagem.

25.9.07

Assim Caminha a Humanidade

Ou o mundo fica cada dia mais maluco ou sou eu que me perco nele, por pura incompetência cognitiva. Entretanto, há momentos que meus amigos correm em meu socorro e iluminam a coisa um pouco para mim.

Um destes momentos iluminados acabei de receber lendo o Agonizando 2 do meu amigo Evandro Ferreira (link na coluna da direita - eu disse DIREITA, Evandro! risos). Vejam só esse texto. No blog dele tem ainda o FILME, que é um ensaio filosófico profundo. Só mesmo um pensador como o Evandro podia me sair com um post destes.

Amigo, saudades. Entregue à sua mais linda namorada e à sua cachorrinha mais amada beijos meus. Logo estaremos juntos novamente, viu?

Leitores do Asa: leiam, vejam, aprendam.

"Conhecimento e fofura September 15, 2007

A vida é uma coisa interessante.

Hoje me peguei subindo o elevador. No chão, um contêiner com minha cadelinha. Em uma das mãos, uma mantinha xadrez, laranja e branca. Sobre a mantinha, um livro de filosofia política de Eric Voegelin. Na outra mão, o Pipi Dolly’s dela."

18.9.07

Não tendo você aqui

Não tendo você aqui, janto no sofá, sem luzes,
Olhando a noite andar lentamente pela janela.
Não tendo seu olhar sobre mim,
Não tenho vontade de sorrir e a boca mantém-se cerrada.
Sem seu ouvido atento, que adianta falar?
Permaneço em silêncio.
Sem sua mão para segurar,
A minha permanece espalmada, pedinte, indigente.
Sem seu corpo para me ninar,
Permaneço insone até que o cansaço me feche os olhos.

Aguardar é duro, amado, quando tudo que olho em volta
Me lembra sua presença ou sua ausência.
A saudade do que nunca tive virou saudade, apenas.
Meu coração bate em tempo com as sílabas do seu nome.

Cole Porter faz cada vez mais sentido...
Não tendo você aqui,
É com ele que durmo hoje à noite.

Night and Day

Like the beat beat beat of the tom-tom
When the jungle shadows fall
Like the tick tick tock of the stately clock
As it stands against the wall

Like the drip drip drip of the raindrops
When the Summer shower is through
So a voice within me keeps repeating
You, you, you

Night and day, you are the one
Only you beneath the Moon or under the Sun
Whether near to me, or far
It's no matter darling where you are
I think of you
Day and night, night and day, why is it so

That this longing for you follows wherever I go
In the roaring traffic's boom
In the silence of my lonely room
I think of you
Day and night, night and day

Under the hide of me
There's an oh such a hungry yearning burning inside of me
And this torment won't be through
Until you let me spend my life making love to you
Day and night, night and day

11.9.07

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Explosão de Alma



Assim é o Ipê: na seca, guarda todas as suas reservas, diminui o tamanho da sua copa folhada, se acomoda para a longa espera da chuva. Resiste o máximo que pode, mas como neste Planalto Central a chuva parece que nunca vai chegar, o Ipê finalmente explode. Explode em flor.

A vitória do Ipê sobre a rudeza do clima colore toda a cidade de Brasília de roxo, amarelo e branco. O chão fica todo salpicado de cor, a festa para os olhos é completa.

Pois tem gente que é como o Ipê. Quando os problemas parecem que vão os soterrar, explodem em uma beleza de alma que ilumina todos à sua volta. Eu mesma conheço um homem assim, um homem Ipê-Roxo, que resiste às condições emocionais mais áridas e ainda acha meios de ajudar e prestar socorro a quem o procurar.

Ah, meu mineirin-candango de alma em flor, que posso dizer de você? Esse seu olhar profundo como as raízes das árvores do cerrado por certo que me acende inteira por dentro. É muito claro para mim que não há riqueza no mundo que valha um sorriso seu. Sempre me surpreendo com a alegria intensa que sinto com o mero fato de sentar a seu lado e segurar sua mão, é uma alegria como poucas vezes senti.

Não posso e não devo dizer muito mais que isto, mas antes de encerrar este post devo confessar: barbudo querido, mais além de te amar, te admiro cada vez mais. Volto para o Rio com o coração pleno de muitas coisas e espero que, até que possamos nos ver novamente, cuide bem de si.

7.9.07

Resumindo a ópera

Se eu fosse escrever tudo que me aconteceu e tudo que senti esta semana, este post ficaria desconexo e muito denso. Fui fazendo, nos ônibus que me levavam, um de Brasília a Goiânia e outro de volta a Brasília, umas poesias de minuto, uns versinhos pernetas que espero me ajudem a expressar minimamente tudo o que eu vou deixar pendurado nas entrelinhas.


Ventania

Quem já encontrou Cristiana
Sabe bem que ela não engana
Conhece sua gargalhada profana
Sorriso rápido, cigarro aceso,
Cabelo solto, cabelo preso
Corre e senta, sobe e desce
Parece que nunca amadurece
Dela a gente nunca esquece!


Fofura

Soriso doce de amigo para toda vida
Olhar inteligente e amoroso de poeta
Voz calma e alegre de menino
Caminha nesta vida sem destino
Porque seu destino, menino, é a Vida
É vagar por este mundo, quem diria,
De mãos dadas, em eterna harmonia
Com a mais bela namorada
E a cachorrinha mais amada!


O nome da Rosa

A gentileza é doce e macia, mas não tem pétalas tão delicadas
A amizade é rica, mas não tem cores tão belas
O carinho é um sentimento quente, mas sem tantos rubros matizes
Ela é como o desdobrar de vários lábios carmins, que me sorriem felizes
Qual é, afinal, o nome desta rosa, que ganhei da amiga deusa?
Será Maria, será Carmem, será Edileusa?
Que amorizade tão grande se desdobra em tanta beleza?


Zig-Zag

A vida me faz ir para lá
Ele vai imediatamente para cá
Eu falo, ele não consegue ouvir
Eu amo, ele não tem como retribuir
Alguma hora, entretanto,
Num breve e doce intervalo
Haverá algum encontro?
Finalmente me regalo?

5.9.07

Passeio em Brasília entre céu imenso e amigos especiais. Revejo lugares de infância e conheço pessoas novas. Amor, carinho, amizade... tenho muito disto tudo, para dar e para receber. Está aqui, envolto em Asas de Borboleta, e está logo ali, em minhas mãos.

Tenho estado estes dias chafurdando numa felicidade calma, que para ser completa precisa apenas tirar a tristeza de um coração especial, que mais que os outros desperta meu amor, meu carinho, minha amizade. Enquanto a felicidade não é completa, digo que ela é doce. Uma agridoce espera, amado.

Estou muito feliz com os comentários dos novos e antigos visitantes do Asa, especialmente encantada com a graciosa mensagem-poema do Marcio Estanqueiro. Amigos, novos e velhos, vocês me fazem muito bem. Beijos a todos, sempre

22.8.07

Acalanto à distância

Dorme, mente cansada.
Dorme, corpo dolorido.
Descansa, voz triste.

Sente na pele o beijo da asa da borboleta.
Sente no sono a minha presença amorosa.
Sente na alma o meu aconchego.

Tudo que eu tenho de bom é seu.
Presenteio sua tristeza com minha esperança.
Hoje não me importa a pontada de saudade que sinto da sua voz.
Não me importa que meu sono seja sonho de você.
Não importa o desejo negado e o sentimento entalado.
Não me importa o que eu gostaria que fosse.

Tudo isto fica eclipsado pela tristeza que eu sinto em você,
Tristeza que eu desejava de alguma forma diminuir.

Dorme, querido, o colo é seu, sempre.
Encosta confiante a cabeça pesada no meu peito...
Dorme.

7.8.07

Post de Aniversário

Há cinco anos atrás, completos hoje, criei esta borboleta virtual. Hoje em dia, muitas pessoas me conhecem como a Borboleta. Ao longo destes anos, me perguntei e me perguntaram porque. Porque a borboleta, de onde vem?

Certamente que algumas pessoas gostam de associar a borboleta à futilidade, à busca pela beleza superficial, aos sentimentos fáceis. O brilho colorido das asas de borboleta disfarçam, para estas pessoas, o significado mais profundo da sua existência. Hoje, ao acordar, tive alguns insights sobre o que é esta borboleta online para mim, o que é que há dentro de mim que acabou por me transformar em uma mulher-borboleta. Neste aniversário de cinco anos do Asa - e amanhã já começa o sexto ano de existência! - queria dividir com meus amigos alguns destes pensamentos:

- Esta borboleta online existe como reflexo da minha crença profunda de que não há miséria, sofrimento, degradação ou dor que sejam grandes o suficiente para empanar a beleza da alma humana; o Asa celebra esta beleza;

- Esta borboleta procura espalhar na web a certeza de que a vida é bela, que mesmo que a morte e o casulo façam parte desta vida, isto só faz com que eles sejam também belos; não há alegria sem uma ponta de tristeza, mas também não há tristeza sem uma ponta de alegria; o Asa busca esta alegria, e tenta entender e sobreviver à tristeza;

- Saber desta alegria me torna borboleta, porque me faz ser capaz de sorrir, mesmo nos momentos tristes, mesmo entre lágrimas;

- Sou borboleta porque tive pais com asas de borboleta; eles me ensinaram a ver a essência, não a aparência; me deram senso de justiça e de retidão; me deram muito, muito amor, e a alegria profunda de me saber querida e aceita, com falhas e acertos; meus pais me ensinaram a enxergar minha própria beleza que vem de debaixo da pele; a última coisa que minha mãe me disse, de profundamente pessoal, antes de mergulhar no sono comatoso que se transformou dias depois no seu sono eterno foi, com um olhar embevecido, "filha, como você é linda..."; da mesma forma, o último gesto consciente de meu pai foi um apertar de mão e um silencioso beijo lançado da maca da ambulância, com um sorriso tão amoroso no olhar que até hoje me enche os olhos de lágrimas ao lembrar; para eles e em honra deles, procuro ser sempre o melhor que puder; meus pais me deram asas de borboleta;

Então, é para isso tudo e por isso tudo que o Asa celebra hoje seu aniversário. Por isso e pelas pessoas maravilhosamente diversas que ele me trouxe e me traz. Todos, todos os que ficaram e todos os que partiram, todos me fizeram melhor, de alguma forma. A vocês todos o meu amor e o meu respeito.

Para mim e para o Asa de Borboleta, feliz aniversário!

3.8.07

Agosto é aniversário do Asa!

Gostaram do layout comemorativo dos cinco anos de existência?

Beijocas para todos!

15.7.07

Carta-compromisso

Tanto, tanto, tanto que eu falei, e só o que ficou foi mágoa.
Tanto, tanto, tanto que eu fiz, e só o que ficou foi falta.
Tanto, tanto, tanto assegurei, e só o que ficou foi incerteza.
Não fui capaz de fazer você crer, eu que creio tanto.

A conclusão a que chego é que você, como quase todo mundo hoje em dia, jogou para longe e se recusa a abraçar tudo aquilo em que acredito. Eu até entendo o porquê, afinal é mesmo difícil resistir à pressão de uma sociedade inteira.

Mais fácil é ser descrente, desconfiado, erguer barreiras – afinal, não dá para dizer que as minhas defesas são resultado de mero descontrole emocional meu, já que são reação a tudo que passamos juntos; você ajudou a criar a Sue que hoje desconhece –, mais fácil é achar que a vida é assim mesmo, e se armar.

Só que NISSO eu não acredito.


Um Amor Infinito
Pedro Ayres Magalhães (Madredeus)

Dizem que
Um Amor Infinito
Já não há
Porque não pode ser
Que um Amor
Se Divino
Já não há
Nem se vai conhecer
- E eu não acredito...
- Não sei como eu não acredito...
- E peço para ver
- Eu só peço para ver
- Ainda peço para ver
Um Amor Infinito
Já não há
É impossível haver
Dizem
Que um Amor
Consentido
Já não há
Nem se pode entender
- E eu não acredito...
- Não sei como eu não acredito
- E peço para ver...
- Eu só peço para ver
- Ainda peço para ver
Dizem que
Um Amor Infinito
Já não há
Nem há tempo a perder
Que um Amor
Um Princípio
Já não há
Nem há nada a dizer
- E eu não acredito...
- Não sei como eu não acredito
- E peço para ver...
- Eu só peço para ver
- Ainda peço para ver

12.7.07

Desde ontem a cidade do Rio de Janeiro chora, comigo e como eu: um transbordar de dor lento, transformado em lágrimas e chuva. Um choro que escorre por rosto e vidraças numa expressão de sofrido cansaço. A cidade provavelmente chora por mais esta provação a que está sujeita durante estes próximos quinze dias, pobre urbe - abusada há anos pelo crime e descaso, e agora pelo delírio esportivo. Eu choro porque percebi que estou de repente envelhecida.

Sim, talvez envelhecer seja esta sensação ruim de que a vida nos está deixando para trás, as energias se esvaindo sem reposição, o sentido da vida esquecido em alguma curva da estrada. Dói esta percepção de se continua vivendo de teimoso, por força do hábito, sempre com medo que o próximo golpe, a próxima perda, a próxima decepção sejam finalmente a gota d'água. Logo ali, talvez, esteja finalmente a facada que vai nos fazer entregar os pontos.

O Rio tem um coração de floresta que pode ajudar na sua recuperação, no caso dos seus habitantes resolverem que é hora de voltar a viver. O meu coração bate hesitante, pára-não-pára, como se a bateria estivesse por acabar. Bonequinho de corda com os movimentos bruscos neste tenta mexer e não tem forças.

Eu me pergunto se tento fazer ele voltar a bater forte como há bem pouco tempo batia. A solução seja talvez um dia de fúria que bote abaixo tudo que existe agora para que o recomeço venha. Em outros momentos me pergunto se devo me espelhar na sabedoria dos elefantes - que sabem quando não é mais hora de tentar, sabem quando estão velhos, obsoletos, e é hora de buscar um lugar isolado para deitar e morrer.

Estou no limbo entre o esforço da busca de novos laços amorosos e da sedução do canto de sereia do esquecimento eterno, que chama por mim. Dormir, talvez sonhar, diria Hamlet. Ele também guiado pelo fantasma de seu pai. Eu a me perguntar se sua loucura e sua morte são meu destino compartilhado.

O, sweet oblivion, why tempt me so?

4.7.07

Queridos

O mês de junho foi um mês de trabalho pesado e de muita meditação.
A vida mudou muito, mais uma das muitas metamorfoses por que passamos.

De tudo que passei nos últimos anos, segue resumo abaixo:


Aquilo que sinto, mostro. Daquilo que faço, raramente me arrependo.
Do que não faço, e acho que devo fazer,
vem este sentimento de urgência.
Da vida sei que só levamos o que sentimos.
Seja amor, seja ódio e amargor.
Não pretendo encontrar meus pais e ancestrais, na Eternidade,
sentindo ódio e rancor.
Não pretendo esquecer nunca de dizer que amo, porque é verdade.
Eu amo.
É a minha bênção e a minha sina,
e é meu presente para quem quiser dele fazer uso.


Que a Vida seja amena e gentil;
quando não for, que sejamos nós assim em nosso coração.


Beijo de Borboleta em cada um

23.5.07

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Recebendo e Dando Presentes



Eu sempre achei difícil definir o que era mais gostoso: dar ou receber.

Receber é bom, é prazeroso, aquele sobressalto de curiosidade para descobrir de que se trata o presente, é um gostoso suspense. Quando realmente temos agrado no presente, então, quando se percebe que a pessoa procurou olhar para dentro de você e descobrir o que te faria mais contente... ah! Aí é um festival de alegria dentro do peito.

Doar é – de uma outra forma – maravilhoso também. Esta busca minuciosa dentro do que se conhece ou do que se suspeita do outro; este trabalho de detetive ao encalço do brilho mais intenso do olhar do presenteado; o salto de felicidade que o nosso coração dá quando percebe que, sim!, acertou bem no alvo e era exatamente aquilo que o amigo queria. É ver realizado na sua frente o sonho de fazer alguém feliz.

Então, na dúvida, sempre gosto de fazer os dois ao mesmo tempo. Cada vez que ganho um presente, dou um jeito de tornar o agradecimento do presente um presente de volta a quem me presenteou. Assim foi com minha linda princesa-artista Carolina, assim é com minha doce amiga Cristina.

Ela me enviou este texto logo abaixo, dizendo:


“Hoje, estou finalmente te entregando meu texto, peço que se possível, publiques no teu blog. Na verdade, é um presente. Pequeno, por sinal. Mas que queria te dar. É uma expressão minha apenas, e podes me orientar a colocar como comentário no teu blog - para não estragar a tua página linda :-)”

Tratei então de tornar o presente que recebi – outro! – em um presente de volta para ela. Não vai ser comentário não, Cris, de jeito nenhum. COMO, pergunto eu, como poderia estragar o Asa publicando um lindo presente destes?

Vejam vocês mesmos:




Prazer em te conhecer!

Alguns meses atrás eu encontrei alguns escritos e opiniões que a Sue redigiu no mundo virtual que, às vezes, a encontramos. E já percebi se tratar de uma mulher muito forte e determinada.

Eu sempre ouvia o Marcio falar da Sue, lembrar da Sue e me mostrar sobre a amizade da Sue. E já a achava bastante interessante. Mas nada que se compare ao nosso encontro em Copacabana!

Foi como encontrar uma amiga ou amigo que todos temos, e que fizemos promessas de amizade eterna na juventude. E muito longe de ser apenas um dito vazio, a sensação é essa mesmo: é uma amiga para sempre!

Eu consigo ainda rir sozinha das piadas que contamos e das histórias que trocamos. Todas recheadas de um humor inigualável e de um aprendizado sem fim...

Nem a orla do Rio tirou minha atenção: conversar com a Sue te envolve muito, a ponto de não querermos outra coisa a não ser ouvir e falar. Doar e receber.

Nessa troca sobrou uma coisa: a certeza de estar ao lado de uma pessoa maravilhosa, merecedora de todos os bons sentimentos que nós somos capazes de demonstrar.

E hoje, Sue, posso afirmar sem titubear:

Estive em férias na cidade maravilhosa.
De fato, a cidade é linda por suas paisagens deslumbrantes.
Mas o que tornou o Rio mais especial nos dez dias de março: veio contigo.


Um grande abraço,
Cristina.

18.5.07

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Contos de Fadas



Os contos de fadas sempre têm uma princesa e um herói. Têm também objetos mágicos, figuras fantásticas, poderes especiais, lugares lindos, potes de ouro no fim do arco-íris, aventuras.

Pois aqui no Asa de Borboleta temos nossos contos de fadas, com direito a uma princesinha com muitos dotes, como toda princesinha deve ter: beleza, doçura, dons artísticos, alegria. Ela mora num lugar distante, como geralmente moram as princesas encantadas.

Deste lugar distante, ela mandou uma mensagem mágica para sua Titi Borboleta. Sua titi entendeu a mensagem e partiu para a ação. Dando continuidade ao conto de fadas, pediu a um herói de muitos talentos e de bom coração, como devem ser os heróis, que tomasse parte na aventura. Ele concordou, e o resultado temos aqui: um template mágico, que tem como poder o de fazer sorrir quem quer que o veja.

Princesinha Carolina, Titi Sue Borboleta ama muito você! E agora estamos juntas e felizes para sempre, aqui no Asa! Não é o melhor final para um conto de fadas?

Beijinho no seu nariz!

11.5.07

Recebendo a visita do Bem



Tão bonita foi a palestra do Papa Bento - querido, simpático, vigoroso e tão belamente alemão Papa Bento - que eu não podia deixar de colar aqui alguns trechos que achei especialmente importantes. Não apenas para os jovens, já que eu há muito tempo não posso me considerar um deles, mas para todos que têm fome e sede de vida eterna.

Olhem que lindo convite!


"(...)Hoje quero convosco refletir sobre o texto de São Mateus (19, 16-22), que acabamos de ouvir. Fala de um jovem. Ele veio correndo ao encontro de Jesus. Merece destaque a sua ânsia. Neste jovem vejo a todos vós, jovens do Brasil e da América Latina. Viestes correndo de diversas regiões deste Continente para nosso encontro. Quereis ouvir, pela voz do Papa, as palavras do próprio Jesus.

Tendes uma pergunta crucial, referida no Evangelho, a Lhe fazer. É a mesma do jovem que veio correndo ao encontro com Jesus: o que fazer para alcançar a vida eterna? Gostaria de aprofundar convosco esta pergunta. Trata-se da vida.

A vida que, em vós, é exuberante e bela. O que fazer dela? Como vivê-la plenamente?

(...)Jesus mesmo explicita o que é bom para nós, dando-nos sua primeira catequese. «Se queres entrar na vida, observa os mandamentos» (Mt 19,17). Ele parte do conhecimento que o jovem já obteve certamente de sua família e da Sinagoga: de fato, ele conhece os mandamentos.

Eles conduzem à vida, o que equivale a dizer que eles nos garantem autenticidade. São as grandes balizas a nos apontarem o caminho certo. Quem observa os mandamentos está no caminho de Deus.

Não basta conhecê-los. O testemunho vale mais que a ciência, ou seja, é a própria ciência aplicada. Não são impostos de fora, nem diminuem nossa liberdade. Pelo contrário: constituem impulsos internos vigorosos, que nos levam a agir nesta direção. Na sua base está a graça e a natureza, que não nos deixam parados. Precisamos caminhar. Somos impelidos a fazer algo para nos realizarmos a nós mesmos. Realizar-se, através da ação, na verdade, é tornar-se real.

Nós somos, em grande parte, a partir de nossa juventude, o que nós queremos ser. Somos, por assim dizer, obra de nossas mãos.

(...)

Os anos que vós estais vivendo são os anos que preparam o vosso futuro. O “amanhã” depende muito de como estais vivendo o “hoje” da juventude. Diante dos olhos, meus queridos jovens, tendes uma vida que desejamos seja longa; mas é uma só, é única: não a deixeis passar em vão, não a desperdiceis. Vivei com entusiasmo, com alegria, mas, sobretudo, com senso de responsabilidade.

(...)

Sede homens e mulheres livres e responsáveis; fazei da família um foco irradiador de paz e de alegria; sede promotores da vida, do início ao seu natural declínio; amparai os anciãos, pois eles merecem respeito e admiração pelo bem que vos fizeram. O Papa também espera que os jovens procurem santificar seu trabalho, fazendo-o com competência técnica e com laboriosidade, para contribuir ao progresso de todos os seus irmãos e para iluminar com a luz do Verbo todas as atividades humanas (cf. Lumen Gentium, n. 36). Mas, sobretudo, o Papa espera que saibam ser protagonistas de uma sociedade mais justa e mais fraterna, cumprindo as obrigações frente ao Estado: respeitando as suas leis; não se deixando levar pelo ódio e pela violência; sendo exemplo de conduta cristã no ambiente profissional e social, distinguindo-se pela honestidade nas relações sociais e profissionais. Tenham em conta que a ambição desmedida de riqueza e de poder leva à corrupção pessoal e alheia; não existem motivos para fazer prevalecer as próprias aspirações humanas, sejam elas econômicas ou políticas, com a fraude e o engano.

(...)

Meu apelo de hoje, a vós jovens, que viestes a este encontro, é que não desperdiceis vossa juventude. Não tenteis fugir dela. Vivei-a intensamente. Consagrai-a aos elevados ideais da fé e da solidariedade humana. Vós, jovens, não sois apenas o futuro da Igreja e da humanidade, como uma espécie de fuga do presente. Pelo contrário: vós sois o presente jovem da Igreja e da humanidade. Sois seu rosto jovem. A Igreja precisa de vós, como jovens, para manifestar ao mundo o rosto de Jesus Cristo, que se desenha na comunidade cristã. Sem o rosto jovem a Igreja se apresentaria desfigurada.

(...)

Queridos jovens, Cristo vos chama a serem santos. Ele mesmo vos convoca e quer andar convosco, para animar com Seu espírito os passos do Brasil neste início do terceiro milênio da era cristã. Peço à Senhora Aparecida que vos conduza, com seu auxílio materno e vos acompanhe ao longo da vida.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

5.5.07

O Rio em Maio



O poeta pode gostar de Paris no outono, por seu amor estar por lá, mas certamente ele ficaria um tanto balançado na escolha de que cidade louvar se conhecesse o Rio de Janeiro em maio. É certo que as muitas mudanças climáticas - que os ambientalistas dizem sinalizar o perigoso descontrole da natureza causado pelo homem - causam uma falta de definição nas estações da cidade (que muitos dizer ter apenas duas: verão e inferno, risos).

Entretanto, há dias ainda em que o Rio se arruma para seduzir o olhar, como moça bonita se arruma para festa. Banha-se com a chuva de fim de tarde, limpa seu céu durante a madrugada para receber a lua cheia e acorda vestida com o verde brilhante das folhas recém-lavadas, coberta por um céu de um azul-claro faiscante, quase branco, envolta por uma luz dourada, cercada de mar. É bonita a moça, muito bonita; nestas horas a cidade até consegue esconder os maus-tratos que os habitantes insensíveis lhe inflingem.

Andando pela cidade nestes dias, sinto o coração leve e o espírito querendo alçar vôo para acompanhar as aves que pescam nas lagoas ou no mar. Dá vontade de sair andando por aí, passear pelo Centro, perambular pela Cinelândia, dar um pulo no MAM e pegar um ônibus até Copacabana, percorrer o calçadão vagarosamente até o Leblon. Dá energia, esta luz dourada do outono carioca, dá alegria e dá esperança.

E eu nem preciso dizer que as borboletas invadem a cidade, preciso? Afinal, as borboletas entendem de beleza, e como alguém me disse há pouco tempo, contemplar a beleza é bom.

Muito bom.

29.4.07

Porque as borboletas?



Eu tenho estado na Net faz quase oito anos. Durante parte deste tempo, fui apenas Sue. Há quase cinco anos, entretanto, uma pessoa maravilhosa, poeta talentoso, me deu de presente um poema de sua autoria, onde ele falava da borboleta que era como uma flor a tentar voltar para o galho de onde caíra. Este poema está na testeira da minha página de comentários.

Foi aí que cismei de pensar nas borboletas, neste símbolo de renascimento e transformação, como elas se transformam lentamente para fazer um breve vôo de beleza, se reproduzir e morrer, para que mais borboletas nasçam. Naquele dia decidi que as borboletas seriam parte da minha identidade. Eu agora sou, além de Sue, Borboleta.

Este é o lugar onde conto de onde vêm minhas Asas de Borboleta.

Esteja à vontade para explorar.

De fora para dentro, de dentro para fora



Por mais que se conheça todo o mundo, da Patagônia ao Alaska, do Panamá ao Japão, passando pela Europa, Ásia e Austrália, sempre parece que olhamos o mundo de fora como se por trás do nosso olhar houvesse uma parede escura. Nada daquilo que acontece dentro aparece quando olhamos o mundo fora de nós.

Quando olhamos para nosso interior, da mesma forma, escurece o ambiente que nos cerca, as pessoas e as coisas viram manchas nebulosas sem consistência. Naquele momento, tudo o que importa é todo um mundo interior, nossas necessidades internas, aquilo que desejamos para suprir o que necessitamos.

Uma pessoa especial me tem corrigido em uma série de coisas sérias e tolas que acho que todos fazemos sem pensar. Uma delas é desmontar o todo em partes, e fazer de conta que as partes têm uma independência entre si. Quando dizemos "meu pé", "minha mão", "minha cabeça", muitas vezes agimos mentalmente como se aquela parte de nós não fosse integralmente nossa, mas algo separado do nosso eu.

Fazemos a mesma coisa com "meu corpo" e "minha alma", como se um não permeasse o outro e não fossem as duas coisas uma coisa só. Criamos dicotomias, separações, barreiras mentais que no final só servem de obstáculos para que possamos entender o todo com mais clareza. Então, é como se picássemos uma imagem em pedaços e os separássemos num complexo número de pequenas peças que depois só de forma muito dolorosa conseguimos montar de volta. Fazemos, nós mesmos, enormes quebra-cabeças que depois nos parecem quase impossíveis de montar.

O eu não poderia estar separado do mundo que vive, da mesma forma que o mundo não é algo diferente do eu. Só podemos começar a funcionar de maneira harmoniosa e equilibrada se nos convencermos que dicotomias e separações são construções abstratas nossas, castelos de cartas que podem ser derrubados de uma vez com uma única frase. E na maior parte do tempo são.

Querido, conto com sua ajuda para colocar os castelos de cartas todos no chão. Quero, preciso e determinei para mim mesma que hei de liberar minha visão até a linha do horizonte. Não quero mais ilusões de qualquer tipo, até onde a vista alcançar.

Se é no deserto que temos de ir para vencer as tentações que querem nos derrubar, é no deserto que desejo ficar.

29.3.07

Veja na Íntegra, se tiver estômago

Casal adota crianças e uma é morta pelo pai 7 meses depois
Publicada em 29/03/2007 às 08h17m
Guilherme Russo, Diário de S.Paulo

SÃO PAULO - A Vara de Execuções Criminais de Mauá decretou a prisão temporária do ajudante geral Juraci Magalhães de Souza, de 43 anos. Ele confessou ter agredido a chutes sua filha adotiva, de 1 ano e 11 meses. A criança morreu no sábado por complicações decorrentes de um traumatismo craniano. A menina tinha hematomas, marcas de mordida e arranhões por todo o corpo, segundo boletins médicos. Juraci foi indiciado por homicídio doloso (com intenção de matar), lesão corporal e maus-tratos, na Delegacia de Defesa da Mulher de Mauá e encaminhado para a Cadeia Pública de Santo André. (...)

A juíza disse que o casal não tinha antecedentes criminais e que 'os dois disseram que estavam felizes pela companhia das meninas'. Nesta quarta, a dona-de-casa Maria Aparecida Magalhães de Souza, 49, mulher do detido, resolveu contar à polícia que o marido tinha espancado a menina, a chutes, no início da tarde do dia 18. Na segunda, 19, a menina foi internada e morreu 5 dias depois. A irmã dela, de 3 anos, também tinha hematomas parecidos e foi encaminhada a um abrigo.




Cada vez que abro o jornal. Olho as notícias, a selvageria, a falta de respeito com TUDO e me sinto como se estivessem destruindo todos os meus valores, tudo que considero precioso, e nada posso fazer. A impotência está me corroendo por dentro, acabando com a minha alegria.

Porque, porque é que são as crianças que pagam?????

23.3.07

Buscando Conforto



A borboleta é o símbolo da ressurreição. Está sempre voando entre a Vida e a Morte, de cá para lá, de lá para cá, trazendo pó de espírito para iluminar as gotas de água do mar, levando a prata da lua para fazer os halos dos anjos.

Cá estou eu, buscando consolo da vida junto a meus mortos. Ah venham, venham depressa, eu preciso de vocês. Preciso da risada do meu pai, do cheiro de minha mãe. Preciso segurar nos braços meu irmãozinho Pedro Paulo, morto antes de eu nascer.

Preciso, preciso muito do bolo piquenique da Tia Elo, do pastel de carne da Tia Nel. Preciso do colo de minha avó, que me abençoava antes de eu dormir. Preciso do xic-xic-xic do terço de minha madrinha, que me acordava ainda de madrugada. Preciso da alegria de meu Tio Paulo, do abraço afetuoso do meu Avô Pedro.

Ah, onde estão vocês? Borboleta voa, voa depressa, traz todos, preciso senti-los junto de mim. Sobre mim, como um manto protegendo minha alma e meu coração cansados. Todos, não abro mão de nenhum, nenhum de meus queridos que já partiram, vem Alex, vem com eles, preciso também das suas covinhas aqui perto de mim.

Eu sinto vocês aqui, acima, em volta e dentro de mim, como um manto, como uma doce coberta... como um xale em torno dos meus ombros. Sim, um xale. Um xale diáfano, da cor do céu em madrugada de lua cheia, com o brilho suave de minúsculas lágrimas de saudade salpicadas sobre a névoa escura. Um xale, sim, tão apropriado...

Ahhhh... que bom. A Dama também está aqui.

15.3.07

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Quatro anos



Quatro anos são 1461 dias para fazer a boca sorrir com as lembranças doces. São 1461 noites para sentir o coração apertar de saudade. É tempo suficiente para que muita coisa aconteça, de bom e de ruim.

Quatro anos, entretanto, é pouco, Carneirão, muito pouco para me fazer esquecer o quanto foi bom ter recebido você na minha vida. Você, Alex Cabedo, foi a primeira pessoa que se afeiçoou a esta borboleta azul na web, e que fez questão de escrever e dizer isso. E depois declarar isto na cara daquela gente ruim. Diz-se por aí que só conhecemos os amigos na hora do aperto, e o destino quis que nossa amizade fosse comprovada logo de cara.

De longe, sem nos conhecermos pessoalmente, sem falarmos dos detalhes técnicos de nossas vidas - sem fotos, sem endereço, sem telefones, sem RG, sem CPF - fomos logo ao que interessava. Logo me afeiçoei à inteligência que brilhava nos seus textos, na esperteza das identidades secretas, no humor das críticas ferozes. Você logo sentiu vontade de provar do mel do afeto que ofereço àqueles que amo, parecia ser o que mais você precisava. Você buscava, meu amigo, não sei bem o que, e sempre esperei poder proporcionar a você o fim da busca e o descanso da chegada. Espero que sua partida tão precoce desta vida signifique que você tenha finalmente encontrado seu sei lá o quê. Torço por isto.

Sendo cavalheiro, não quis partir sem me deixar lindas lembranças, algumas delas lembranças vivas de você, como sua linda Carolina, que cresce uma pricesinha. Ou a querida Cristina, que nunca esquece de mim (nem eu dela, ainda vamos nos encontrar). Pessoas especiais, você as deu de presente para mim, Alex, e eu agradeço. Espero ter podido retribuir, pois peço sempre a meus pais que dêem uma checada, só para ver se está tudo bem contigo. Conhecendo a minha mãe, ela já deve ter adotado você!

Você deixou também impresso no meu coração a risada que eu nunca escutei, mas que suspeito em seus textos e nas fotos que só recebi depois que você já tinha partido. Achei isso tão apropriado, Alex, pois tendo sido você o homem bonito que foi, eu hoje posso dizer tranquila: "pouco me impoortava sua aparência". Hoje eu posso dizer que o que me interessava era seu espírito e seu coração, e estes permanecem.

Alex, não te perdi, nunca, porque você está aqui em mim, nas minhas lembranças, nas minhas orações, nas gargalhadas que dou nas ocasionais visitas ao Convento dos Chapeletos... você é parte de mim, e busco encontrar você quando for minha hora de partir. Aí, finalmente vamos velejar juntos.

Eu sempre busco uma imagem bonita que eu possa postar aqui, neste seu aniversário de vida eterna, e desta vez fiquei mais satisfeita que nos outros anos: a borboleta e o amor, meu amigo, a borboleta e o amor.

16 mar 2003 / 16 mar 2007 - quatro anos sem Alex

Feliz aniversário.

4.3.07

O mundo gira...

E mais uma vez cá estamos neste mês de março, que acumula suas dores, suas perdas, suas saudades àquelas que ainda estou digerindo, vindas do mês de janeiro. Nesta ocasião em que sou confrontada com tudo aquilo que me foi tirado, que me falta, torna-se necessário olhar com cuidado, ter à mão tudo que possuo ainda.

Ao longo dos cinco anos incompletos de existência deste meu cantinho na net muita coisa aconteceu... fiz parte de um grupo informal de blogueiros bastante especiais que, mesmo espalhados pelo mundo, juntos se negaram a ceder ao veneno travestido de religiosidade. Fui acusada de tanta coisa, de ter um blog de "menininha", com conteúdo pouco "literário". Fui chamada de muitos nomes, doces e ofensivos, ao mesmo tempo "minha borboleta de asas azuis" e "borboleta retardada".

Pessoas passaram pela minha vida e pelo meu coração. Algumas ficaram, outras partiram. Às que ficaram devoto meu mais profundo afeto; às que partiram - seja pelos braços inclementes da Morte, seja pelos movimentos inexoráveis da Vida - manifesto gratidão sincera por tudo aquilo de bom que deixaram comigo ao partir.

Entretanto, a morte recente de meu pai se transformou em um forte foco de luz que me obrigou a olhar tudo isto, parar e refletir. Afinal de contas para que, Pai Eterno, em nome de QUE escrevo neste local ainda, depois de tanto? Porque não deixar o Asa de Borboleta descansar em paz na Internet, como uma princesa encantada em sono profundo?

A explicação existe, mas é um pouco extensa. Quem já leu meus posts antigos sobre minha família sabe o que minha mãe - que já não está neste mundo há quase 21 anos - significou para mim na costrução da pessoa que sou. Já falei do imenso coração de D. Maria Helena, de seu sorriso iluminado, daquele abraço acolhedor que sempre buscava enlaçar o mundo inteiro. De meu pai falei menos, não por falta do que falar, mas por ainda estar construindo com ele um relacionamento, e por que ainda me perguntava o que dizer exatamente.

Agora esta dúvida não existe mais. Posso dizer, depois de muita meditação, que meu pai foi um homem de coração tão grande quanto o de minha mãe, talvez maior. Por força das diferentes situações de vida, dos caminhos trilhados, do papel social e moral que ele exercia como Pai e Provedor, seu coração teve de ser escondido e abrigado por trás de peito forte. Este peito aparou, ao longo de 76 anos, pancadas brutais, muitas vezes para impedir que estas pancadas atingissem sua família. Enquanto minha mãe era viva, ele buscava alívio em seus braços. Depois que ela partiu, ele se permitiu apenas a dignidade do silêncio.

Meu pai era um homem passional com o que acreditava, impaciente com a falta própria e alheia, quando percebia que podia-se ter feito melhor. Ele me ensinou que uma pessoa só pode manter a cabeça erguida sobre os ombros se agir de acordo com seu código pessoal de honra, sem nunca comprometer este código para agradar a outrem. Um amigo que jamais conheceu meu pai, numa conversa comigo, definiu este tipo de comportamento como sendo a atitude do "guerreiro impecável".

Pois meu pai tentou toda sua vida ser este Guerreiro Impecável, da mesma forma que minha mãe buscava ser a Mãe Amorosa. Apesar dos tropeços a que todo ser humano está fadado, por esta nossa natureza dual e imperfeita, agora que meus pais se foram posso encher o peito de orgulho e amor, dizendo a vocês com segurança e sem hesitação que ambos foram bem sucedidos em suas aspirações.

Então, é por isso que permaneço aqui, porque sou filha de meus pais. Defendo o que acredito, e eu acredito na Beleza, acredito na Poesia do dia-a-dia, acredito na Gentileza, acredito no Amor. Não é literatura que busco fazer aqui, apesar de saber que alguns posts bem podem ser considerados "literários". Eu busco aqui deixar sinais, pequenos e grandes da vida que desejo para mim e para todos que de mim desejem se aproximar.

O Asa é, portanto, um farol. O que espero deste farol é que ele me atraia muitas Borboletas Azuis, muitos Poetas do Amor e da Dor, muitos Cavaleiros de La Mancha, muitos Guerreiros Impecáveis, muita Mães Amorosas. Quero à minha volta pessoas que - como meu pai, como minha mãe - passem inteiros por este mundo, sem fazer parcerias com os valores dúbios que encontram pelo caminho. Gente diferente de mim, se for o caso, mas que nunca admita que o Mundo as force a ser o que não são. Por isso e para isso o Asa continua.

Falando ainda de meu pai, há uma canção famosa, de que ele muito gostava, que eu tenho escutado frequentemente. Esta música de certa forma o define, foi esta música que me ajudou a parar de chorar, a parar de tentar manter meu pai neste mundo e deixá-lo partir e seguir seu caminho. Esta música também me ajudou a escrever este longo post, e agora a compartilho com vocês. Senhoras e senhores, o grande Frank Sinatra:

My Way



And now the end is near
And so I face the final curtain
My friends, I'll say it clear
I'll state my case of which I'm certain.

I've lived a life that's full
I travelled each and every highway
And more, much more than this
I did it my way.

Regrets, I've had a few,
But then again, too few to mention
I did what I had to do
And saw it through without exception.

I planned each charted course
Each careful step along the byway
And more, much more than this
I did it my way.

Yes there were times, I'm sure you knew
When I bit off more than I could chew
But through it all when there was doubt
I ate it up and spit it out
I faced it all and I stood tall
And did it my way.

I've loved,
I've laughed and cried,
I've had my fill, my share of losing
And now, as tears subside
I find it all so amusing
To think I did all that
And may I say not in a shy way
Oh no, oh no not me
I did it my way.

For what is a man, what has he got?
If not himself, then he has naught
To say the things he truly feels
And not the words of one who kneels
The record shows, I took the blows
And did it my way.

22.2.07

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Que mais?



Que se pode fazer quando a vida mostra com crueza que não há como escapar da dor? Vagarosa e lentamente transformar a dor em beleza. O que fazer quando o amor se apresenta envolto em uma névoa de tristeza? Cuidadosa e calmamente separar do sentimento o amargor.

Ela sabia. Quando nada mais resta a fazer a não ser colar de volta os pedaços, nada melhor que escutar a voz daqueles que conseguem transmutar sofrimento em música. Com um sorriso banhado de lágrimas, ela estendeu a mão e o convidou para dançar. Com o olhar marejado e o coração trêmulo de medo, ele aceitou.

Só uma música poderia ser a canção dos dois amantes feridos…

You’ve Got To Learn (Il Faut Savoir) – Charles Aznavour

You've got to learn to show a happy face
Although you're full of misery
You mustn't show a trace of sadness
And never look for sympathy

You've got to learn, although it's very hard
The way of pocketing your pride
And sometimes face humiliation
While you are burning up inside

Facing reality is awful hard to do
When it seems happiness is gone
You've got to learn to hide your tears
And tell your heart life must go on

You've got to learn to leave the table
When Love is no longer being served
Just show them all that you are able
To leave without saying a word

You've got to learn to hide your sorrow
And go on living as before
What good is thinking of tomorrow
Who knows what it may have in store?

You've got to learn to be much stronger
At times your head should rule your heart
You've got to learn, from hard experience
And listen to advice and sometimes pay the price

But I won't learn to live -
With a broken heart

10.2.07

Eu me lembro...



Uma certa vez, na longínqua década de 70, minha mãe me advertiu, escondendo um sorriso, ao ouvir meu comentário sobre como Tarcísio Meira era lindo: “Psiu, filha, não fala isto não, eu também acho, mas seu pai morre de ciúmes do Tarcísio Meira...”.

Em 2006, numa rara oportunidade em que assistia à novela das oito com minha família, tive a chance de provocar meu pai com a coisa do ciúme; ele respondeu com outro sorriso meio escondido: “Ora, é claro que não vou admitir que se fale que outro homem é bonito na minha casa, imagina!”.

Em muitos finais de semana, também na longínqua década de 70, meus pais namoravam num exercício de gastronomia afetiva que sempre me enterneceu... Eles colocavam suas músicas no som da sala – canções que iam de Maria Creusa e Roberto Carlos até cantores diversos da Motown, passando necessariamente por Frank Sinatra, Charles Aznavour e Elvis – e cada um preparava um prato do almoço, com seu copo de cerveja à mão, que bebericavam e que provavam um nos lábios do outro, nas bitoquinhas que trocavam quando achavam que não estávamos olhando. Nestes dias, o almoço sempre saía mais tarde, mas mais gostoso.

Minha mãe era constantemente pinicada pelas amigas, devido ao costume que ela tinha de se referir a meu pai como “meu marido lindo”. Em vez de ficar aborrecida com as piadas das amigas, ela dava de ombros casualmente e dizia que “ele era lindo mesmo...”.

Meu pai era um homem das antigas, sempre exigiu decoro e boas maneiras de nós, sempre reforçou os valores de família e de comportamento cristão, mas nunca foi maldoso com ninguém, nem preconceituoso. Ele me contava das peripécias de solteiro, quando passeava com seu irmão mais velho pelos spots noturnos mais... eh... alternativos de Porto Alegre. Ele contava que, recém-casado, passeava pela Rua da Praia com minha mãe quando encontrou um destes velhos amigos, um negão imenso e de aparência assustadora que era leão de chácara de uma casa de má reputação. O negão o saudou carinhosamente com um “Oi, Betinho”, para susto de minha mãe. Papai se divertia com o susto da noivinha inexperiente, mesmo muitos anos depois da morte dela.

No final de sua vida, depois de vir morar com as filhas, meu pai continuou a dar mostras de ser uma pessoa acolhedora com todos que freqüentavam nossa casa, apesar de sua formação tradicional. Conheceu muitos amigos nossos, e ficou especialmente próximo de um que tinha um namorado firme. Os dois rapazes vinham visitar-nos regularmente, quase sempre juntos, mas quando este meu amigo chegava à nossa casa desacompanhado, papai perguntava com uma carinha marota onde estava “seu fiel escudeiro”, e dava uma piscadinha no final.

Minha mãe era uma pessoa tão carinhosa, distribuía afeto e cuidado com tanta generosidade, que nos colocava em situações inusitadas. Ela faleceu na madrugada de 13 para 14 de maio de 1986, o que fez com que meu pai voltasse para casa durante a noite e não permanecer com ela no hospital até de manhã, como estava sendo o costume. Cedinho, quando levantamos, antes de meu pai descer as escadas para tomarmos o café, encontrei a equipe de taifeiros da casa oficial que morávamos toda perfilada, e o copeiro-chefe, Seu Everaldo, perguntou, em tom cauteloso: “Sue, como está Dona Maria Helena?” Quando eu respondi que agora ela estava bem, nos braços da Virgem Maria, toda a equipe – composta de homens barbudos, maduros, pais de família – começou a chorar copiosamente, o que tornou necessário que eu e minha irmã adolescente ficássemos algum tempo a consolar todos eles. A cena mais tocante foi ver o cozinheiro – um tipo grandalhão que era apelidado de “vaqueirão” e que usava como multiprocessador uma peixeira imensa – chorando, inconsolável, abraçado com o filtro. Muito mais gente que apenas eu e meus irmãos ficou órfã naquele dia...

Meu pai era um chefe rigoroso, da mesma forma que era um pai rigoroso. Exigia muito de todos nós. Entretanto, nos dois lados de sua vida, ele nunca pediu nada que não estivesse preparado para dar em troca, e nunca pedia que fizéssemos algo que ele também não fizesse. Era justo, carinhoso, e conquistava a lealdade dos filhos e dos subordinados igualmente. Igualmente estava preparado para lutar por ambos.

Quando morreu, deixou um legado de respeito por onde passou, e fiquei feliz de escutar de um ex-subordinado seu de muitos anos atrás que ele era “uma referência” até hoje. Realmente, nunca vi meu pai cometer uma injustiça com subordinados, e toda vez que discutimos era apenas porque ele não conseguia entender com muita clareza esta mistura de doçura saturnina que eu sou.

Tive pais assim: amorosos, rigorosos, alegres, felizes, amigos um do outro e de nós, severos na cobrança da retidão de comportamento, rápidos em ajudar a quem quer que pedisse sua ajuda para uma causa justa. Eles não estão mais aqui, presentes em corpo. Estão presentes, no entanto, em cada pensamento meu, em cada objeto de minha casa, em cada história relembrada.

Meu pai, minha mãe, não se preocupem. Eu lembro. Eu nunca vou me esquecer.

29.1.07

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Fim da Missão



(Discurso que infelizmente tive de proferir
na cerimônia de cremação de meu pai)

Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2007.

Amigos:

A presença física de meu pai entre nós se encerra definitivamente hoje. O corpo dele logo estará transformado em cinzas. Ele não vai ter uma lápide em nenhum cemitério. Não vai haver restos mortais dele em lugar algum. Eu, conhecendo meu pai, acho isto muito bom. Mas a ausência de corpo não impede que seu espírito seja lembrado e, ao sentar para escrever estas palavras, o que mais me preocupava era justamente escolher, numa vida longa e cheia de acontecimentos, o que pedir a seus amigos, aqui presentes, para lembrar.

Muitos de vocês o conheceram bem antes de eu nascer. Vocês têm lembranças de um jovem que eu não conheci, do qual escutei muitas histórias. Eu tenho as lembranças do afeto, da vida em comum, do pai. Outras pessoas aqui têm a lembrança do homem forte que ele foi ao lutar contra uma doença traiçoeira e malvada. Para alguns ele era o Gordo, para outros o Brizola, ou ainda o Mederix. No HFAG o Brig. Medeiros misteriosamente virou “Seu Roberto”.... Ele era muita coisa para muita gente, como reunir numa só lembrança todas as facetas deste homem?

É difícil, tenho certeza que mesmo que ficássemos aqui muito mais que meia hora não conseguiríamos um denominador comum. Cada um de nós tem as suas lembranças e as impressões pessoais que ele deixou. Durante o tempo que tive para pensar desde sua morte sexta de manhã, no entanto, descobri duas coisas que são para mim muito importantes a respeito de meu pai, e que queria dividir com vocês. A primeira, a que deixou a impressão mais forte na minha alma, é que ele era um guerreiro.

Meu pai me ensinou a vida toda a ser forte, a ser justa, a nunca abusar dos mais fracos e a sempre defender o que era certo, mesmo às custas da simpatia alheia. Esta força que foi meu exemplo veio de sua personalidade, é certo, mas veio também do fato muito especial e de que muito me orgulho: ele era um militar e era um aviador. Meu pai me ensinou a respeitar a força, e o convívio dentro da FAB me ensinou que ele e seus companheiros de farda eram pessoas especiais, feitas de estofo diferente dos “paisanos”.

Os aviadores não têm trabalho, eles têm missões. Eles não têm colegas de trabalho, têm a turma de irmãos. Brigam juntos, voam juntos, casam juntos, criam seus filhos juntos, estão juntos com os filhos quando é hora de dizer adeus a um irmão caído.

A força de espírito de meu pai era a comissão de frente da sua personalidade, mas ele tinha um outro lado, extremamente cativante, que ele deixava entrever àqueles que conquistavam sua confiança e amizade: meu pai era um menino gaiato, cheio de humor e de alegria, brincalhão, capaz de fazer graça dos amigos e de si. Mesmo no final de suas forças ainda achava energia para encontrar apelidos para as enfermeiras que contratamos para cuidar dele em casa.

Ele enfrentava a vida, na maior parte do tempo, como se ela fosse uma grande traquinagem. Ele sabia encontrar o que havia de engraçado nas situações, e sua risada estrondosa, solta, de chacoalhar os ombros, ainda soa na minha memória. A força e a alegria de meu pai é o que quero deixar na memória de todos que vieram aqui se despedir dele, nesta cerimônia simples que era o que ele queria, sem honras militares, pois ele afirmava que não ia proporcionar uma festança destas a outros, quando estivesse impedido de participar dela.

Meu pai gostava muitíssimo do filme All That Jazz, onde na cena final o personagem principal do musical dá seu adeus a todos deste mundo e parte ao encontro de uma morte linda e loira que o aguarda com um sorriso. Meu pai sempre nos disse que queria encarar a morte dele assim, então eu espero que ele tenha encontrado sua loira, e que minha mãe que o aguarda lá no céu não tenha achado muito ruim. Ele achava a cena fantástica e a música Bye Bye Love sensacional. Não foi possível tocar aqui a música que trouxemos, por razões técnicas. Quem quiser, pode buscar escutar a música e dar seus bye byes internos ao Medeiros. Bye bye, meu pai.

Ao final, eu peço a vocês que fiquem de pé por um momento, e honrem todos os aviadores presentes escutando – e cantando, aqueles que o conhecem - o Hino do Aviador:

Hino do Aviador

Vamos filhos altivos dos ares
Nosso vôo ousado alçar,
Sobre campos cidades e mares,
Vamos nuvens e céus enfrentar.

D'Astro-Rei desafiamos nos cimos,
Bandeirantes audazes do azul.
Às estrelas, de noite, subimos,
Para orar ao Cruzeiro do Sul

Contacto! Companheiros!
Ao vento, sombranceiros,
Lancemos o roncar
Da hélice a girar

Contacto! Companheiros!
Ao vento, sombranceiros,
Lancemos o roncar
Da hélice a girar

Mas se explode o corisco no espaço
Ou a metralha, na guerra, rugir
Cavaleiros do século do aço
Não nos faz o perigo fugir

Não importa a tocaia da morte
Pois que à Pátria, dos céus no altar
Sempre erguemos de ânimo forte
O holocausto da vida, a voar

Contacto! Companheiros!
Ao vento, sombranceiros,
Lancemos o roncar
Da hélice a girar

Contacto! Companheiros!
Ao vento, sombranceiros,
Lancemos o roncar
Da hélice a girar

Obrigada.

8.1.07

Engano



Toca o telefone de manhã bem cedo. Uma voz pastosa atende, e é surpresa por uma voz retumbante de alegria e bom humor artificiais, voz irritante do tipo que só mesmo os profissionais de tele-atendimento conseguem ter:

- Alô...
- BOM DIA! É do Centro Médico Tijuca?

(silêncio)

- Senhora, um momento da sua atenção. Antes de dizer se aqui é o Centro Médico Tijuca, queria fazer umas observações, a senhora se incomoda de escutar?

-Eh...

- Obrigada. Bem, pela minha voz, a senhora deveria ter percebido que eu não poderia estar atendendo um telefone de um centro médico; já que a senhora não parece ter percebido nada, deixe eu lhe dar umas dicas: ontem, às três e meia da madrugada, eu finalmente deitei a cabeça no travesseiro e dormi um sono relaxado, depois de quase duas semanas de sono cortado e um final de semana inteiro como acompanhante no hospital. A senhora está me entendendo até aqui?

- Ahn...

- Isso. Pois bem: o sono para mim é precioso neste momento, pois o câncer de pulmão do meu pai fez metástase no cerebelo (metástase, senhora, é quando um filho da mãe de um tumor resolve abrir franquias pelo corpo) e vai sofrer uma cirurgia de alto risco na sexta-feira que vem, que por falar nisto é meu aniversário; até lá, como o tumor é grande, ele pode sofrer uma morte súbita; se não morrer até a cirurgia, a cirurgia pode matá-lo; se a cirurgia não matá-lo, vamos ter de passar por todo o pós-operatório de uma neurocirurgia; depois disso, precisaremos fazer mais uma rodada de quimioterapia. Portanto, não há previsão de descanso para mim nas próximas semanas, e cada momento de sono é um momento que eu recupero as forças para enfrentar as outras noites mal-dormidas e os dias carregados de tensão que virão. A senhora ainda está aí?

- Uh...

- Ah, sim. Ótimo. Continuando: no entremeio de hospital e de cuidar das coisas da casa, tenho também de cuidar do meu escritório, que está um tanto abandonado por estas razões médicas; no meio disto tudo, administra-se um processo de separação que meu pai resolveu iniciar pouco antes de cair doente. Estou neste ricocheteio entre hospital, cartórios, casa e trabalho por tempo indeterminado. Além disto, tenho de atender os 2.0456.897 telefonemas diários de amigos meus, de meu pai e de membros da família que buscam informações a respeito de seu estado de saúde. Estou virando uma perfeita assessora de imprensa, de tanto que eu concedo declarações a respeito do estado de saúde de meu pai. São boletins múltiplos, de hora em hora, praticamente.

- Ahm, senhora...

- Não se preocupe, estou acabando. Com tudo isto que a senhora ouviu, tão gentilmente, eu agora lhe devolvo a pergunta: aqui é o Centro Médico Tijuca?

- Não, claro.

- Então, senhora, da próxima vez que a senhora for fazer uma ligação telefônica, lembre de mim e olhe os numerozinhos com cuidado, para que a senhora não interrompa tão bruscamente o sono exausto de outra pessoa. Combinado?

- A senhora me perdoe...

- Nah, bobagem, a senhora me deu a oportunidade de despejar na senhora tudo que fica entalado quando outras pessoas ligam para sua casa e ficam irritadas querendo saber “de onde fala”, “quem é”, “qual o número daí?”, como se eu tivesse que abrir minha casa e meu nome a todo estranho que liga para cá. Muito obrigada por sua gentileza.

- Ah, vá para... (a voz irritante se despede com uma batida forte de telefone no gancho).

Olhando para o fone, a voz já não tão pastosa comenta para si:

- É isso aí.

3.1.07

Fio da Navalha

A diferença entre a saúde e a doença pode ser um pedaço de papel.
A diferença entre a esperança e o desespero pode ser uma mão trêmula.
A diferença entre a vida e a morte pode ser um pensamento.

Quando se caminha assim, no fio da navalha, podendo cair de um lado ou de outro, só o que se pode fazer é criar uma "visão de túnel", colocar antolhos emocionais e fazer de conta que nada mais existe no mundo a não ser aquele momento específico. É fazer de conta que aquele engasgo é só um engasgo. É não pensar nas consequências longo prazo de nada.

Na verdade, a diferença entre a sanidade e a loucura é a capacidade de não pensar. Então, peço licença aos queridos leitores do Asa, e aviso que estou numa fase Scarlett O'Hara: "Penso nisso amanhã".

Eu volto, eu volto, não sei como não sei quando. Eu preciso e tenho saudades daqui, mas meu paizinho precisa ainda mais de mim. Beijos carinhosos aos amigos antigos e aos visitantes novos. Vão fuçando por aí, tem texto interessante para todo gosto. A dona da casa vai, de novo, para o hospital. Ainda bem que lá tem um bocado de borboletas, muitas flores.

No resto, eu penso amanhã.