A Chuva
Aqui no planalto não chove como no Rio. No Rio, a chuva chega ameaçadora, trazendo medo, com nuvens pesadas e escuras que chegam para ficar dias. A chuva aqui é como uma oferenda, como uma entrega amorosa. Devagarinho algumas nuvens vêm chegando lá de longe, se juntam numa lenta procissão umas às outras, os pingos começam a cair lentos e espaçados, quase o preâmbulo de uma cerimônia solene.
Em alguns minutos muda o andamento da cerimônia: cai um aguaceiro feroz, o vento forte faz as copas das mangueiras chacoalharem como de alegria, a água na calha, correndo pela corrente que a guia para o chão, faz uma cantoria pontuada pelos trovões graves e longos que rolam as nuvens adiante. Porque adiante as nuvens andam, e logo não há mais chuva, só o frescor e a alegria deixada pela sua passagem.
Em meia hora a festa se encerra, e a única testemunha do meu encanto é um pardal solitário, que veio tomar banho de chuva no gramado dos fundos da casa, amigo ocasional que logo levanta vôo para se juntar aos outros pássaros que comemoram a visita da chuva no alto do céu.
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