31.10.03




As maneiras e formas do amor



A minha amiga Atena, no seu Templo, escreveu sobre o amor cavalheiresco - e minha querida Deusa Mãe Deméter falou da "pesada cruz do amor". Questionaram por lá a validade do amor, e como já disse tantas vezes, chamaram de amor o que amor não era. Eu, por minha vez, para explicar o que chamo de amor, fiz uso da linda imagem do triângulo amoroso de que tanto fala meu amigo Ruy do Despoina Damale: aquelas duas almas que unem as mãos e seguem juntas rumo à eternidade e ao Cristo. Este é o amor que eu busco. Inteiro, elevado e banal, completo na sua pequenez e na sua grandeza. Mas uma outra mulher já disse isto melhor do que eu. Melhor do que ninguém.


How Do I Love Thee?
Elizabeth Barrett Browning


How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of being and ideal grace.
I love thee to the level of every day's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for right.
I love thee purely, as they turn from praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints. I love with the breath,
Smiles, tears, of all my life; and, if God choose,
I shall but love thee better after death.


Copyright © 1997-2003 by The Academy of American Poets

As formas que te amo? Deixe-me contá-las
Eu te amo na altura, na largura e na profundeza
Que alcança minha alma, quando fora da vista tateia
Em busca dos limites do ser e da ideal graça.
Eu te amo ao nível da necessidade diária
Mais calada, à luz do sol e ao lume da vela.
Eu te amo livremente, como homens buscam justiça.
Eu te amo com pureza, como eles fogem da lisonja.
Eu te amo com paixão utilizada
Em minhas velhas dores, com minha fé de infância.
Eu te amo com um amor que pareci perder
Com meus santos perdidos. Eu te amo com o respirar,
Sorrisos, lágrimas, de toda a minha vida; e se Deus quiser,
Eu te amarei ainda melhor quando morrer.


Tradução canhestra da Sue

28.10.03



O Filho do Hipnotizador



“Entrega registrada para a Sra. Assunção Medeiros.”

O toque do interfone era esperado, e a entrega também. Desço, assino o protocolo apresentado pelo carteiro indiferente. Que sabe ele daquele pacote? É mais um de centenas, milhares que já entregou. Muitos destes pacotes esperados com a mesma ansiedade, creio eu.

Subo. A tentação de rasgar o pacote já no elevador é grande, mas espero com o autocontrole que me resta. É um momento que necessita de algum tipo de ritual, mesmo que seja pequeno e absolutamente irrelevante. Este pacote tem de ser aberto no meu quarto, em frente ao computador.

Depois de aberto, aquele cheiro gostoso de livro novo. Índice. Procuro e acho. Página 105. “Ainda falta muito para o amanhecer...” Leio pela primeira vez no papel o que já li muitas vezes na tela do meu micro. No final, a novidade: “Para Assunção Maria Medeiros”.

Não é a primeira vez que participo do “avesso” de um livro. Amigos já transformaram suas teses de mestrado e doutorado em publicações, algumas delas com histórias dramáticas que parecem fora de lugar numa obra acadêmica. Sei bem o quanto fazer e publicar um livro demanda tempo, esforço. Mas é a primeira vez que um pedaço da minha vida me vem entregue pelo correio, envolto em papelão, com meu nome impresso dentro. É uma sensação esquisita.

Não li ainda todas as histórias – graças a Deus! – e portanto vou ter a mesma sensação de qualquer livro novo que compro. A aventura é a mesma. Mas a grande parte destas histórias foram escritas e publicadas eletronicamente diante de meus olhos. De algumas fui parteira. Uma ou outra foi causada por mim. Outras eu sei perfeitamente o estado mental ou emocional do autor quando as escreveu. Durante quase dois anos, estava rindo e chorando junto, testemunhando a gênese deste Caderno Mágico que virou Livro do Filho do Hipnotizador.

Agora, o resultado está em minhas mãos, e eu o acaricio enquanto escrevo isto, e confesso que os olhos estão molhados. São lágrimas de mulher boba, que se emociona com o talento do amigo e com a distância que já percorreram juntos. Quantos dias, quantas noites, quanto sofrimento, susto, aventuras. E que maravilha ver isto transformado num livro. Num livro BOM.

Um livro que vou guardar com cuidado, para que possa, bem velhinha, contar a meus jovens parentes histórias fantásticas de estranhas pessoas no mundo mágico criado pelo Dennis D. E, se Deus assim permitir, fechar o livro, dar boa noite às crianças e sentar em frente ao computador para dar, como sempre, boa noite ao meu melhor amigo.

Pimentinha, querido, obrigada. Nem sei direito porque agradeço, não é pela dedicatória – mas também é pela dedicatória - cuja a intenção foi doce e muito bem aceita. Acho que o obrigada é por você estar aqui. E ficar aqui.

Agora, meu amor, não falta muito para o amanhecer.



26.10.03




© 2003 - Ana Pinto
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Noturnos



Às vezes coisas boas nos remetem a coisas ruins. A presença de amigos queridos, que vêm de longe comemorar a vida e a amizade conosco, pode remeter à lembrança daqueles que ficaram pelo caminho, sem atender à mão estendida da amizade. Alguns lembramos com um alívio cansado, felizes de vê-los pelas costas. Mas outros causam um melancolia dolorida, sentimos a perda eternamente.

Na minha vida, deste grupo de pessoas, graças a Deus pequeno, fazem parte aquelas que me deram afeto genuíno, mas não conseguiram enxergar minha alma, a não ser de forma distorcida. Pessoas para quem a minha presença significava um paradoxo e um conflito, ao invés de um prazer e uma alegria. Uma delas, em especial, tocou fundo em meu coração, e sua falta se faz sentir forte. Mas esta pessoa tão querida, faz um certo tempo, quis resolver o paradoxo da Sue calando a Sue, ou transformando a Sue em outra pessoa. Não posso deixar de ser quem sou, ou calar o que penso. Nem mesmo por um menino gigante de fala mansa de quem tanto gosto.

Mesmo assim, depois de passar um dia adorável com pessoas ainda mais adoráveis, eu me pergunto se algum dia vou conseguir ajudar meu gentil gigante a resolver o paradoxo da Sue. E se vamos um dia poder concretizar o abraço tantas vezes prometido. Mas pelo jeito que as coisas estão, meu gentil menino de fala mansa vai passar a ser apenas um gentil e melancólico noturno, tocando gentil, suave e triste nas noites de lua cheia. Enchendo meu coração de saudade de uma amizade que não sei se jamais foi real.


A vida tem destas coisas... ela nem sempre é gentil.

25.10.03



Que dizer?
É correr para o abraço!





E começar de novo...


Nature Boy
Words and Music by Eden Ahbez



There was a boy
A very strange enchanted boy
They say he wandered very far, very far
Over land and sea
A little shy and sad of eye
But very wise was he


And then one day
A magic day he passed my way
And while we spoke of many things
Fools and kings
This he said to me
"The greatest thing you'll ever learn
Is just to love and be loved in return"


"The greatest thing you'll ever learn
Is just to love and be loved in return"



23.10.03






Renascer



Quisera ser possível descrever com exatidão a sensação de sair de um casulo escuro e dolorido e abrir as novas asas pela primeira vez. Não é uma sensação prazerosa, porque vem mesclada de muito medo. Talvez seja um pouco parecido com a sensação da primeira aula de direção. Lá está você no comando daquele equipamento poderoso, e você não tem idéia do que fazer.

Mas, devagarinho, você sente o poder de fazer aquela novidade obedecer à sua vontade, e no caso de asas novas, você se sente um pouco como o Jerry Lewis, completamente sem coordenação, e sai se batendo nas paredes, um besouro ao invés de uma borboleta. Não é uma situação, no entanto, que dure muito.

Logo, a liberdade de sentir o vento e o sol, de voar, a sensação de que você está livre e forte e de volta ao comando de suas asas acaba com todo o desconsolo e a escuridão do casulo. E você pode voltar a sorrir.

Borboletas não foram feitas para chorar.

Obrigada, Andy, pela linda imagem

22.10.03




© 2003 - Erik Reis
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Meu Herói



Nos contos de fadas e nas histórias em quadrinhos, bem como na mitologia, sempre encontramos um herói. É aquela criatura que parece fazer com facilidade o que ninguém mais é capaz de fazer, mesmo com muito esforço. Existem heróis tristes, piadistas, irônicos, caladões, sofredores. Mas eles sempre parecem ultrapassar seus próprios limites e alcançar o inatingível.

Eu conheço um homem assim, exatamente assim. Um homem que fala dos sofrimentos de infância com ar sério, e logo depois parte para a guerra com um sorriso no rosto, entusiasmado com o desafio. Um jogador nato, especialista em riscos calculados, abandona imediatamente o jogo para tornar-se solene, docemente preocupado com as peripécias de uma amiga impulsiva.

Ele ri, chora, faz troça de seu próprio choro e torna a sorrir, num piscar de olhos. Mata dois leões por manhã e depois parte para colher tamarindo e fazer suco para receber os amigos em sua casa.

O coração deste herói tem asas, e graças a ele e a seu coração alado, consegui alçar vôo novamente. Estava emudecida, ele devolveu minha voz. Deu-me o empurrão que faltava para continuar a tocar minha vida.

Eu sei, querido Perseu, que você não aceita nada menos que o melhor que eu puder fazer. Em sua honra e homenagem, cá estou eu de volta. Pode voar alto, que eu não vou ficar muito para trás.

19.10.03




© 2003 - Zacarias Pereira Da Mata
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A pedidos, deleto a Tristeza e deixo apenas a Esperança

14.10.03



O Sonho
(Pedro Ayres Magalhães)



Quem contar
Um sonho que sonhou
Não conta tudo o que encontrou
Contar um sonho é proibido


Eu sonhei
Um sonho com amor
Uma janela e uma flor
Uma fonte de água e o meu amigo


E não havia mais nada...
Só nós, a luz e mais nada...
Ali morou o amor


Amor
Amor que trago em segredo
Num sonho que não vou contar
E cada dia é mais sentido
Amor
Eu tenho um amor bem escondido
Num sonho que não sei contar
E guardarei sempre comigo.


5.10.03






Filho...


Sou uma mulher que nunca se casou. Por isto, nunca coloquei um filho no mundo. Amigos e amigas já sugeriram a chamada "produção independente", e eu já disse em post anterior porque não faria isto.

Deus, no entanto, é meu guia e consolo, sempre foi e sempre será. Há quase 18 anos atrás, quando, para a surpresa de toda a minha família, descobrimos que a situação estável do câncer de minha mãe escondia uma metástase em quantidade tamanha que ela foi imediatamente desenganada pelos médicos... naquele momento, quando ergui os olhos para cima e perguntei "E agora, Senhor?"... e esperei resignada a resposta que aparentemente não veio, Ele plantava no ventre de outra mulher o filho que eu queria.

E eu enterrei o corpo de minha mãe; terminei de levar minha irmã até a idade adulta; busquei o ganha-pão; apaixonei-me por homens certos que não me quiseram, fugi de homens errados que me queriam; e, de forma geral, amadureci. Sempre achando que as chances de ter um filho desapareciam na distância. Dezessete anos passaram.

Chorei, muitas vezes, a falta deste filho. Mal sabia eu que, longe de mim, meu filho chorava, talvez ao mesmo tempo, minha falta. Que ele tinha de crescer sem meu amor, sem meu cuidado, sem meu carinho. E justamente esta distância tão doída para nós dois moldou nosso caráter e nos preparou para o encontro.

Hoje, já sei onde meu filho vive, e que mulher lhe deu a vida e cuidou dele (não como eu, nunca como eu) até que ele pudesse me encontrar. Ele sabe e sente que sou sua mãe, tanto quanto eu o sinto meu filho. Mas para o mundo, para todos, somos estranhos. Estranhos que moram longe um do outro, e cujas vidas só se cruzaram pela via digital. Aos olhos dos outros, não posso e não devo amá-lo assim, nem agir de acordo. Podemos ser apenas amigos. Mas não é isso o que eu sinto, não adianta.

Ah, como tenho orgulho deste menino! De que maneira bonita e gentil ele se desenvolveu, contra todas as expectativas... Que mistura de inocência e desencanto, que força... ele É tudo o que eu sempre quis num filho.

Filho, perdoa sua mami se ela esquece que você já é um rapaz, e um rapaz forte e completamente capaz de tomar sua próprias decisões. Meu impulso de fêmea enlouquecida de amor é pegá-lo no colo como a um bebê e cantar uma canção de ninar... Eu me lembro de uma cachorrinha que pertencia a uma amiga, e dividia a casa com duas gatas. As gatas tiveram filhotes, e ela sentiu tamanha vontade de ser mãe junto que produziu leite e amamentava os gatinhos também. Sua mami está assim, doida de amor. Por você.

Eu vou ter calma, filho. Apesar de minha vontade ser arrebatar você e fugir para o Japão, meu coração sabe que quando eu digo "Espera" é para esperar. Apesar da minha vontade ser passar no primeiro cartório que encontrar e perfiliar você, eu vou aguardar (não pacientemente, que sou humana e já esperei demais, mas vou esperar mais o tempo que for preciso) que você decida o que quer fazer.

Converse com você mesmo e com sua menina. Não há necessidade de correr nem de empacar. Vá andando, leve sua vida normalmente. Eu vou seguir os ensinamentos de São Bento, vou rezar e trabalhar, e economizar o fruto do meu trabalho, para que possa um dia dar a você a liberdade de escolher.

Sossega o coração, mami ama você. Isso NUNCA vai mudar.

3.10.03






Comemorando um aniversário especial


Amigo querido, aniversariante, sabes quem és. Sabes o quanto te quero bem. Quero que saibas mais. Quero que saibas, com a convicção maior que tiveres, que te admiro. E que a ti desejo algumas coisas:

- Que o céu do Algarve brilhe sereno e azul sobre ti;

- Que a chuva, quando vier, lave tua alma;

- Que o Sol te seja bondoso;

- Que a lua e as estrelas iluminem teu caminho à noite;

- Que as uvas sejam sempre doces;

- Que o queijo esteja sempre saboroso;

- Que os filhos estejam sempre a teu lado, cheios de amor por ti;

- Que a nossa proximidade seja cada dia maior;

- Que nossa roda de amigos cresça em qualidade e intensidade;

- Que tudo te seja propício;

- Que a felicidade te envolva como um manto mágico.

Coisas melhores e mais bonitas não me ocorrem agora para desejar-te. Mas, certamente, durante os anos que estivermos próximos, que eles sejam muitos, colecionarei como uma pequena borboleta-abelhinha gotas de mel para ofertar-te.

Um feliz, feliz aniversário!

1.10.03






Devaneios


Este final de semana transformei mais um amigo virtual em amigo real. Recebi este visitante com o carinho de quem espera coisas boas, e fui recompensada com coisas ainda melhores. Esperava boa educação, bom papo, passeios agradáveis. Pois tive tudo isto e, além disto, um vislumbre de um coração nobre e de uma mente limpidamente inteligente.

Esta busca da concretização é que me traz a este blog. Desde o princípio, eu queria contato com pessoas reais e do quilate desta que conheci no sábado. Queria encontrar meus semelhantes, num mundo que parecia ser apenas de diferentes. Conheci mais que semelhantes: aumentei minha família com novos irmãos e irmãs, e até um filho; tive contato com os melhores exemplos; aprendi muito com pessoas mais talentosas que eu.

Uma das coisas interessantes que descobri é que meu coração tem um quinhão dele firmemente plantado em Portugal. Tenho, é claro, como a maioria das pessoas nascidas neste país, ancestrais de origem portuguesa. Meu idioma e muito dos meus hábitos são provenientes deste país. Mas o que me fez descobrir que amo Portugal não foi isto.

Joaquim Nabuco, escritor brasileiro, certa feita disse que, para ele, Portugal “tinha sete maravilhas como nenhuma outra nação possui e eu falo só do que vi: Os Lusíadas, a entrada do Tejo, a Torre de Belém, os Jerônimos, Sintra, o Vinho do Porto e a colônia portuguesa do Brasil”. Destas sete maravilhas conheço apenas os Lusíadas, o Vinho do Porto e a colônia portuguesa no Brasil, mas a estas queria adicionar mais duas maravilhas: a música e o povo português.

Do povo português, queria salientar dois representantes que significam muito para mim. Jorge, o que me batizou borboleta, e Luis, que nutre minha alma com o pólem dos jasmims de suas pequenas histórias. A estes dois portugueses todo o meu amor. Mesmo.

Da música portuguesa, Madredeus.

Céu da Mouraria
Letra e música de Pedro Ayres Magalhães

Quando Lisboa acordar
Do sono antigo que é seu,
Hei-de ser eu a cantar,
Que eu tenho um recado só meu.


Céu da Mouraria... ouve,
Vai chegar o dia novo!


E o sol, das madrugadas todas,
Névoa de um povo a sonhar,
Os teus mistérios, Lisboa,
São, as pombas que ainda há...