28.10.03



O Filho do Hipnotizador



“Entrega registrada para a Sra. Assunção Medeiros.”

O toque do interfone era esperado, e a entrega também. Desço, assino o protocolo apresentado pelo carteiro indiferente. Que sabe ele daquele pacote? É mais um de centenas, milhares que já entregou. Muitos destes pacotes esperados com a mesma ansiedade, creio eu.

Subo. A tentação de rasgar o pacote já no elevador é grande, mas espero com o autocontrole que me resta. É um momento que necessita de algum tipo de ritual, mesmo que seja pequeno e absolutamente irrelevante. Este pacote tem de ser aberto no meu quarto, em frente ao computador.

Depois de aberto, aquele cheiro gostoso de livro novo. Índice. Procuro e acho. Página 105. “Ainda falta muito para o amanhecer...” Leio pela primeira vez no papel o que já li muitas vezes na tela do meu micro. No final, a novidade: “Para Assunção Maria Medeiros”.

Não é a primeira vez que participo do “avesso” de um livro. Amigos já transformaram suas teses de mestrado e doutorado em publicações, algumas delas com histórias dramáticas que parecem fora de lugar numa obra acadêmica. Sei bem o quanto fazer e publicar um livro demanda tempo, esforço. Mas é a primeira vez que um pedaço da minha vida me vem entregue pelo correio, envolto em papelão, com meu nome impresso dentro. É uma sensação esquisita.

Não li ainda todas as histórias – graças a Deus! – e portanto vou ter a mesma sensação de qualquer livro novo que compro. A aventura é a mesma. Mas a grande parte destas histórias foram escritas e publicadas eletronicamente diante de meus olhos. De algumas fui parteira. Uma ou outra foi causada por mim. Outras eu sei perfeitamente o estado mental ou emocional do autor quando as escreveu. Durante quase dois anos, estava rindo e chorando junto, testemunhando a gênese deste Caderno Mágico que virou Livro do Filho do Hipnotizador.

Agora, o resultado está em minhas mãos, e eu o acaricio enquanto escrevo isto, e confesso que os olhos estão molhados. São lágrimas de mulher boba, que se emociona com o talento do amigo e com a distância que já percorreram juntos. Quantos dias, quantas noites, quanto sofrimento, susto, aventuras. E que maravilha ver isto transformado num livro. Num livro BOM.

Um livro que vou guardar com cuidado, para que possa, bem velhinha, contar a meus jovens parentes histórias fantásticas de estranhas pessoas no mundo mágico criado pelo Dennis D. E, se Deus assim permitir, fechar o livro, dar boa noite às crianças e sentar em frente ao computador para dar, como sempre, boa noite ao meu melhor amigo.

Pimentinha, querido, obrigada. Nem sei direito porque agradeço, não é pela dedicatória – mas também é pela dedicatória - cuja a intenção foi doce e muito bem aceita. Acho que o obrigada é por você estar aqui. E ficar aqui.

Agora, meu amor, não falta muito para o amanhecer.



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