13.11.02



Amores de Borboleta

SONETO DE QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
de uma brancura de manhã raiada.

Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada.

Porque te vi nascer, de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura.

Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.
(Rio, 1941)

Vinícius de Moraes escreveu sonetos mais famosos, mais alegres, melhores que este. Mas esta manifestação de um jovem homem de 28 anos (sim, 28 anos é bem jovem) me toca no fundo do coração, porque tive amores assim. Amores de quarta-feira de cinzas, que começaram já com data para acabar. Foram vários os motivos... ele tinha compromisso com outra, era muito mais velho ou muito mais novo, simplesmente não queria o que eu queria. Então, estes amores são transformados em amizades sensuais (DETESTO o nome "amizade colorida", como se todas as outras fossem cinza...) que depois, se tivermos sorte, viram amizades normais. Alguns destes amores se perdem no tempo, ou acabam como acaba toda a paixão... em cinzas.

O amor deste tipo mais doce e mais doído é o da mulher mais velha pelo rapazinho. Ah, como é lindo olhar o mundo e a você mesma pelos olhos daquela pessoa tão inocente ainda, uma criança barbuda com menos cicatrizes e mais entusiasmo que você. Como a sua experiência maior se transfoma em doce contemplação daquela pessoa de alma tenrinha. Como dão um ao outro prazer e alegria, carinhos e brincadeiras. E como as pessoas jogam pedra...

Acontece que o que as pessoas não lembram é que este é um relacionamento quase que arquetípico, e uma tradição muito, muito antiga. Sociedades da antiguidade possuíam uma bela tradição de homens e mulheres mais velhos iniciarem sexualmente os jovens que entravam na puberdade. Ensinavam-os a dar e receber prazer, a cuidar do próprio corpo e do corpo do outro. O Kama Sutra, que nossa mentalidade podre transformou em manual de sacanagem, é um dos antigos exemplos do preparo que os jovens recebiam para o matrimônio. É, para o matrimônio. NÃO É um manual de sacanagem, olha só! Quem diria, hein?

Dizem os frios cientistas da modernidade que o homem alcança seu pico sexual aos 18 anos, enquanto que a mulher aos 35. Isso deve ter alguma razão, biológica, cultural, emocional, sei lá. O que sei é que tive namorados mais velhos, da minha idade, um pouco mais novos, e em nenhum destes relacionamentos eu encontrei a doçura do homem mais jovem. Eu dei de lembrar hoje de todos os homens que amei, não foram tantos, alguns foram breves, mas todos eles me tornaram a mulher que sou hoje; e se meu querido amigo Alex Cabedo diz em seu artigo no site Outonos que os homens não querem saber destas coisas, e que sonham com sua virgem pura e intocada, bem, as mulheres que forem sinceras, mesmo que apenas consigo mesmas, vão concordar que o olhar de adoração e a resistência sexual de um rapazinho faz maravilhas. Mas é para durar pouco.

Nunca vi um relacionamento de pessoas de idades muito diferentes dar completamente certo. Eu acho mesmo que um dos pontos cruciais de um relacionamento é o compartilhar de visão de mundo. Casais devem caminhar juntos para o mesmo lugar. A chance disto acontecer com pessoas de idades muito diferentes é mínima. E se acontece da mulher ser a parte mais velha do relacionamento, então a coisa piora. O pobre rapazinho vira gigolô, aproveitador de mulheres, ou simplesmente objeto de troça dos amigos. A mulher vira uma louca obcecada por sexo, que não consegue uma pessoa da sua idade e abusa de meninos. Não, não dura. E não é para durar. É como o verão, quente, sensual, e efêmero. Existe mesmo um filme, o Verão de 42, que mostra o impacto de um romance destes na vida de um menino. Impacto bom. Necessário, até. Mas não é para ser compromisso de vida.

Portanto, digo aos jovens que cruzaram minha vida: vocês encheram minha alma de doçura e alegria, e partiram em paz para os braços de suas futuras companheiras, espero que sabendo um pouco mais o que significa o encontro amoroso e respeitoso entre macho e fêmea. Eu nunca os esquecerei, guardo comigo lembranças maravilhosas. Faria tudo de novo.

Mas ainda aguardo, só, Aquele que Virá.

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