17.12.04

O Contrário do que se Esperava


Uma amiga veio correndo contar: você viu? Não vi. O que foi? Vai lá.

Ah, nada mais era que um Conto de Natal.

O Espírito do Natal Passado apareceu, de monóculo e barriguinha saltando da camisa apertada. Com as falhas dos cabelos deixando o couro cabeludo muito branco aparecer, ele contava uma história de como às vezes confiamos em quem não devíamos. Com respingos de Nescau por toda a expansão abdominal, o ser ectoplásmico ria-se e fazia o monóculo saltar. Livrei-me deste com uns respingos de água benta.

Apareceu-me, então, o Espírito do Natal Presente. Jovem, longos cabelos negros combinavam com os longos dedos de músico. Ao mover-se, o cheiro de 4711 perfumava o ambiente. Este me contou uma história de aventura, de como nós mesmos construímos nosso presente. Quando eu estava aconchegada em seus ombros largos, disse baixinho: lembre-se que estou aqui.

Enquanto ainda sentia o odor de sua Colônia no ar, o Fantasma do Natal Futuro apareceu. Bem, apareceu não é bem o termo. Ele surgiu como o Gato aparece para Alice, primeiro apenas o sorriso, depois os olhos. Nunca chegou a aparecer totalmente, mas deixou o desafio no ar:

"Catch me if you can!"

E é em direção a este futuro que corro feliz e apressada. Porque quem vive de passado é museu, e as pessoas que têm medo de viver. Porque, ao contrário do que se esperava, o que vi não me feriu, me deu a certeza de que o mais certo que eu fiz na vida foi me livrar de um fantasma careca e barrigudo que tem como único mérito malabarismos divertidos.

Besitos

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