27.8.05

Tem dias que o sol me faz borboleta. Eu olho este céu azul do Rio, intenso com a luz dourada do sol daqui, e me dá vontade de voar em cabriolas como a mais baldia e pequena das borboletas amarelas. Voar em volutas, em elipses, em exclamações. Alguns dias exigem que eu seja uma borboleta-manhã.

Outras vezes, o sentido agudo da beleza-triste me faz borboleta. Uma borboleta toda negra, com um único pingo de cor intensa, carmim, como um grito de alerta. Nestes dias eu me quedo silenciosa e cheia de presságios. Nestas vezes tenho de ser uma borboleta meia-noite.

Vez ou outra, é a poesia que me torna borboleta. Vez ou outra, a borboleta azul invade a alma como se pousasse numa flor, num lento abre-fecha-abre de grandes asas transparente-aveludadas. É imperioso que - vez ou outra - eu seja a borboleta que aparece de repente, num rasgo de sol da tarde, declamando poesia.

De vez em quando, ah, de vez em quando eu encontro você. Você me faz borboleta. Uma borboleta monarca, quente, laranja, absoluta em minha necessidade de resvalar minhas asas num suave beijo de pestanas pelo seu queixo moreno. Tangenciar num toque leve, leve, a linha do seu pescoço. Derreter e me pingar inteira em sua pele, cobrindo com meu vôo seu território. De vez em quando. Ahh... de vez em quando. Mesmo em pleno inverno. Mesmo no meio da madrugada. Sua presença me transforma numa rainha com asas de borboleta.

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