7.6.03

O ruim de quando as pessoas partem para o infinito antes de nós, é que ficamos sem aquela parte -- às vezes importante -- do nosso coração, e não podemos jamais recuperá-la.

Perdi um bocado da alegria de estar na Internet com a partida do meu Carneirão. Ele era uma pessoa que invariavelmente me fazia sorrir, e trazia um comic relief para a feiúra que nos circundava. Trazia para mim, lá de longe, de Barcelona, um olhar de admiração pela minha feminilidade que me fazia muito bem. E uma amizade alegre e sem desarmonia. Hoje me bateu uma saudade imensa do meu Carneirão, uma vontade meio maluca de escrever um e-mail para ele. Escrevo aqui, Alex amado. Aguardo resposta em meus sonhos...

A morte de minha mãe me tirou o colo. Com ninguém mais fui capaz de simplesmente recostar a cabeça e me deixar amar sem sobressalto. O amor que recebemos de uma mãe é um amor sem medo. Todos os outros que tive sempre tiveram a sua parcela de inquietação, de ansiedade. Eles estão aqui mas podem acabar, são mais frágeis. Mãe, estou cuidando de todos como prometi, mas às vezes precisava tanto ser apenas sua criança novamente... manda para sua filha a sua bênção, querida...

A morte de meu confessor, D. João, me tirou a tranquilidade. Quando ele era vivo, eu sabia que qualquer dúvida que me assolasse, fosse ela espiritual ou intelectual, eu podia procurar aquele homem culto, sábio e que me amava e queria verdadeiramente meu bem. Eu sabia que ele tentaria sempre me esclarecer sem me abafar, sempre me ensinar sem me manipular, sempre me guiar sem me empurrar. Paizinho João, quando vou à missa no mosteiro, escuto clara e forte a sua voz, no Canto Gregoriano. Fala comigo no meu coração, aguça meu olhar e minha intuição. Fortalece meu espírito, meu pai amado.

Os meus mortos, os meus mortos. Como eles são parte de mim, como têm estado presentes! A todos eles, peço que me firmem nesta vida, que me apóiem nas missões que ainda tenho que cumprir, e que preparem minha chegada à Morada Eterna. Meus amores, ajudem sua Borboleta exilada aqui neste lugar por vezes tão penoso. Mandem daí a alegria interior que eu preciso. Há muito ainda o que fazer antes de me juntar a vocês. Quisera fosse logo....

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