21.9.03




Acalantos



Ah, corpo cansado, mente fatigada de tanto pensar. Como é benvindo quando chega o momento de entregarmos tudo isto à força reparadora do sono. "Dormir, talvez sonhar", diria um certo príncipe da Dinamarca...

As lembranças mais bonitas da minha infância geralmente são da hora de dormir. Quando era bem pequena, morava com meus pais e meu irmão mais velho na casa de minha avó materna. Antes de dormir, deitava a cabeça no colo daquela velhinha tão doce, velha bugra mestiça tão querida, que calmamente me afagava os cabelos enquanto rezava seu terço. Depois, quando eu não estava já caindo pelas tabelas de sono, lia algum conto da carochinha para mim, com as aventuras do esperto Pedro Malasartes.

Ou então, deitava direto em minha cama, e minha mãe vinha me cantar cantigas, acalantos, e ficava eu a escutar as canções de bichos-papões, de sapos-cururús e bois da cara preta, de anjinhos e de Maria... e eu me entregava à doce música de minha mãe e adormecia contente.

Quando preparamos corpo e espírito para dormir, e vagarosamente os nós do dia se desfazem em relaxamento, a mente divaga livre. E passeia por lugares mágicos, cenas ancestrais, conversa com o vento e as flores.

Isso, se estamos em paz.

Que estejamos, então, em paz.



COURTYARD LULLABY (4:50)
Words and music by Loreena McKennitt

Wherein the deep night sky
The stars lie in its embrace
The courtyard still in its sleep
And peace comes over your face.

"Come to me," it sings“
"Hear the pulse of the land
The ocean's rhythms pull
To hold your heart in its hand."

And when the wind draws strong
Across the cypress trees
The nightbirds cease their songs
So gathers memories.

Last night you spoke of a dream
Where forests stretched to the east
And each bird sang its song
A unicorn joined in a feast.

And in a corner stood
A pomegranate tree
With wild flowers there
No mortal eye could see.

Yet still some mystery befalls
Sure as the cock crows at morn
The world in stillness keeps
The secret of babes to be born.

I heard an old voice say
"Don't go far from the land
The seasons have their way
No mortal can understand."


ACALANTO DO PÁTIO (4:50)
Letra e música por Loreena McKennitt

Engastadas no profundo céu noturno
As estrelas se quedam em seu abraço
O pátio está ainda adormecido
E a paz toma conta de teu rosto.

"Vem para mim” ele canta
"Escuta o pulsar da terra
O ritmo do mover do oceano convida
A pousar teu coração em suas mãos.”

E quando o vento se torna forte
Por dentre os ciprestes
Cessa o canto noturno das aves
Então reúne as lembranças.

A noite passada falastes de um sonho
Onde as matas se estendiam para o leste
E cada pássaro trinava seu canto
Um unicórnio se juntava ao encontro.

E num canto estava
Uma romãzeira
Junto de flores silvestres
Que olhar mortal não enxergava.

Perdura ainda um mistério
Certo como o canto matinal do galo
O mundo, imóvel, guarda
O segredo dos bebês por nascer.

Escutei uma voz anciã dizer
“Não te afastes da terra
As estações têm suas leis
Que mortal nenhum pode entender.”


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