8.6.04





Dorothy Chan

Aquilo que eu gostaria



Você, amado, na sua inocente confiança em mim, ofereceu para me dar um presente. Pediu-me, ó criança linda, que escolhesse. Nem percebeu os monstros que cutucou com seu olhinho brilhante.

Que sabe você deles, não é mesmo? Eu os mantenho enjaulados, fechados, lacrados no calabouço mais fundo que fui capaz de construir aqui dentro. Com a ajuda de Deus, lacrados eles ficarão, apesar de terem uivado como lobos famintos à sua doce menção de um presente.

O presente que gostaria de receber, você não pode me dar. Queria ter vinte anos, e manter a consciência que conquistei chegando até aqui. Queria poder andar de mãos dadas no shopping e me agarrar com você no cinema. Na saída, lanche do mac e caminhada lenta para casa, com direito a beijos em todos os sinais. Queria poder exibir para este mundo maldoso a pureza de nossos sentimentos, com a segurança que o escudo de nossa juventude nos protegeria.

Queria, como só querem os muito desesperados, ser sua princesa encantada. Mas, do jeito que as coisas são, respiro fundo e desisto de pedir antes de escutar o não. E me contento em ser sua fada-madrinha.

Pelo menos para isso me vale ter asas de borboleta.

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