27.11.03






Espantoso



O meu amigo Bruno escreveu um post no dia 25 de novembro que é tão espantosamente como me sinto – isso acontece um bocado conosco, né Bruno? – que eu tive de copiar aqui. Tudo, tudo que ele fala a respeito de si pode ser aplicado a mim. É rigorosamente a mesma coisa. E, como um comentário particular: Bruno, sempre vou amar você, do jeitinho que você é. E sei que a recíproca é verdadeira.

Uma pessoa que me é muito querida (embora não acredite muito nisso) veio conversar sobre relacionamentos, e exemplificando com o seu próprio, deu origem a uma discussão muito saudável. E me trouxe à lembrança sentimentos, e eu chorei mais uma vez. Chorei sim, não pelas lembranças em si, mas pelas coisas que eu passei e que, mesmo sabendo ser parte do meu crescimento, fazem sofrer. E porque mesmo que você passe cola em um vaso, ele nunca será o mesmo.

Daí me veio a pergunta: Você não tem medo de se decepcionar?
E aqui vai a resposta:
Não. Não tenho medo de me decepcionar.

Isso acontece porque simplesmente eu não espero mais nada das pessoas. Apenas aguardo o que elas querem me dar. Às vezes, é bom, às vezes, nem tanto. Aí eu simplesmente continuo minha vida. Claro que tem horas que o coração bate mais forte, e quando eu menos espero, vem um sentimento ruim, uma facada no meio do peito, que acaba por me derrubar. Mas o que eu posso fazer? Não tenho como controlar os outros.

Claro que erro. E me decepciono. Mas não me escondo atrás de máscaras, não simulo situações nem tento ser outra pessoa. Sou eu mesmo, e não canso de mostrar isso a todos. Não por narcisismo, e sim para que as pessoas gostem de mim como sou. Não preciso que o mundo me ame, mas preciso SIM, que as pessoas que digam estar ao meu lado REALMENTE estejam. Por isso procuro ser transparente. E isso magoa as pessoas às vezes. Mas, se as pessoas usassem seu lado racional algumas vezes do dia, veriam que isso é necessário, e que a maioria das críticas pode ser usada (e deve) como crescimento pessoal. E por mais que doa, dói muito mais uma facada por falsidade. Pelo menos em mim.

Mais uma vez: não me ame. Ninguém te obriga a isso. Mas não diga que me ama sem REALMENTE fazê-lo.

Sou intenso e sensível. Isso é ótimo por um lado, e por outro, uma droga. É bom, porque todos os momentos bons da minha vida são aumentados, e eu os vivo muito mais intensamente. E o lado ruim é que o mesmo acontece com sentimentos desagradáveis.

O fato é que eu vivi muita coisa por ser intenso. E a minha própria experiência me mostrou que vale muito mais a pena eu mostrar quem sou, esse ariano raivoso que muitos de vocês leitores já conhecem. Porque o que acontece é que muitas pessoas se afastam de mim pelo que sou. Mas as que ficam, ficam de verdade. Não tem meio termo.

E vale a pena. Conheci amigos maravilhosos assim, vivi momentos mágicos, criei amizades eternas. Não só pela web, mas na vida real também. Procuro estreitar meus relacionamentos, pois gosto de estar junto. Além de tudo sou muito carente, preciso de contato. Tenho uma necessidade de ajudar a quem gosto (isso não é natural de todos?). Tenho vontade de cuidar, de ver como posso fazer pra ajudar, embora nem todos estejam abertos a isso. Mas este problema é para outro post.

Enfim, esse é um pedacinho do Bruno. O carinha que escreve isso tudo aqui.

Talvez se as pessoas simplesmente vivessem suas vidas, e racionalizassem um pouco sobre si mesmas, e fizessem auto-análise, o mundo seria um lugar melhor de se viver.

19.11.03





Novo Blogamigo



Bem, meus amigos e leitores habituais, sabendo eu moro no Rio de Janeiro e nunca pus os pés em Portugal ou em qualquer outro país da Europa (infelizmente), estão certamente imaginando se eu pirei de vez. Não, ainda não. Melhor que isto, conheci o site de um divertido velho que mora no topo de uma montanha, é português, monarquista e amante das plantas e flores. Eu não sou portuguesa, mas simpatizo com a monarquia e tenho a afinidade natural das borboletas por plantas e flores. Por consequência, ficamos amigos facilmente.

Esta imagem é um presente para ele, e seu banner já está na coluna da esquerda. Seja benvindo ao Asa de Borboleta, Velho da Montanha!




Solitude...



Muitas vezes descubro que o que outra pessoa escreveu é mais capaz de descrever o que eu estou sentindo do que eu mesma poderia. Não tenho problema nenhum em reconhecer que há pessoas mais capazes que eu. Isto significa que há muito ainda a aprender e crescer. Nestes últimos dias, tenho aprendido muitas coisas novas, algumas dolorosas, outras muito, muito boas.

Uma destas coisas muito, muito boas é que possuo amigos maravilhosos e um destes amigos me deu de presente este texto de Geraldo Eustáquio. Não podia caber melhor na situação em que me encontro e na minha proposta de vida. Agradeço ao autor e à querida amiga Atena que me presentearam com beleza e tranquilidade. E lembro sempre que um amigo querido diz que a Caridade primeira é para si.


Amar o que eu sou
todo indivisível que constitui o ser
e o acontecer no meu corpo
no espaço e no tempo.


Amar as coisas que eu faço
e o modo como eu as faço.


Amar minhas limitações
como amo minhas possibilidades
e nos meus acertos e erros
amar o meu projeto
que vai se transformando em obra
no trabalho da construção de mim mesmo.


Amar-me como eu estou aqui e agora
vivendo a vida simplesmente
naturalmente
com o ar que eu respiro
o chão que eu piso
as estrelas que sonho.


Às vezes gostar de mim é um desafio
uma prova de fogo
que revela se eu realmente me amo
ou apenas finjo amar-me.


Gostar de mim na perda
quando a vida me fecha uma porta
sem nenhum aviso ou explicação.


Gostar de mim quando me comparo com os outros
quando me avalio pelos padrões estabelecidos
se sucesso, beleza, inteligência, poder,
deixando de amar o que eu sou
em nome daquilo que me falta
ou daquilo que me sobra
em relação ao meu semelhante.


Gostar de mim quando erro
quando fracasso
quando não dou conta
quando não faço bem feito
e ainda encontro quem me critique
ou zombe de mim por eu ter sido
apenas o que eu sou:
limitado, vulnerável, imperfeito, humano.


Gostar de mim no fundo do poço,
cabeça a mil,
coração a zero,
e ainda assim
ser capaz de ouvir e respeitar
as referências de meu próprio corpo
como um amigo fiel, atento e carinhoso.


Estar comigo e me fazer companhia
quando mais ninguém parece estar disposto
a me acolher e me aceitar.


Estar do meu lado
ainda que todos permaneçam contra mim...


17.11.03






Quando perderes o gosto humilde da tristeza...
Manuel Bandeira



Quando perderes o gosto humilde da tristeza,
Quando, nas horas melancólicas do dia,
Não ouvires mais os lábios da sombra
Murmurarem ao teu ouvido
As palavras de voluptuosa beleza
Ou de casta sabedoria;


Quando a tua tristeza não for mais que amargura,
Quando perderes todo estímulo e toda crença,
– A fé no bem e na virtude,
A confiança nos teus amigos e na tua amante,
Quando o próprio dia se te mudar em noite escura
De desconsolação e malquerença;


Quando, na agonia de tudo o que passa
Ante os olhos imóveis do infinito,
Na dor de ver murcharem as rosas,
E como as rosas tudo que é belo e frágil,
Não sentires em teu ânimo aflito
Crescer a ânsia de vida como uma divina graça;


Quando tiveres inveja, quando o ciúme
Crestar os últimos lírios de tua alma desvirginada;
Quando em teus olhos áridos
Estancarem-se as fontes das suaves lágrimas
Em que se amorteceu o pecaminoso lume
De tua inquieta mocidade:


Então, sorri pela última vez, tristemente,
A tudo o que outrora
Amaste. Sorri tristemente...
Sorri mansamente... em um sorriso pálido... pálido
Como o beijo religioso que puseste
Na fronte morta de tua mãe... sobre sua fronte morta...

15.11.03




Homem de Preto



Ela chegou sozinha. Entrou em silêncio. Sentou-se no canto mais escuro da grande igreja barroca. As lágrimas, teimosas e fartas, escorriam sem parar e sem que ela fizesse qualquer movimento para estancá-las. Um soluço esporádico incomodava os espantados vizinhos de banco.

A maior parte do tempo ela mantinha os olhos baixos, as lágrimas regando e enchendo lentamente o côncavo de suas mãos pousadas sobre suas coxas. Ouvia sem escutar o movimento e a missa solene que prosseguia. Os momentos em que tinha de ficar em pé eram os mais difíceis, pois então não havia como não ver o vulto de preto estendido descalço no chão, em frente ao altar.




Aquele vulto de negro tinha sido parte de sua vida desde o berço, quando ele visitara a casa de sua avó e abençoara o bebê que ela fora. Maiorzinha, levada pela mão da tia, ia visitar aquele grande homem sorridente, sempre de preto. Ela menina ia ficando mais e mais intimidada quando seus olhos iniciavam a viagem do chão até seu rosto. Desde os sapatos pretos reluzentes, passando pelo hábito preto e grosso – com aquele aventalzinho engraçado na frente onde ele escondia as mãos – até chegar ao rosto. Aí, todo sentimento de intimidação sumia, porque a criança pequena que ela era encontrava o brilho alegre do olhar daquele homem, que parecia dizer “sou criança também, mas não conte a eles!”. Ela não conseguia evitar de abrir um largo sorriso.

Ao longo dos anos foi sempre assim, ela aprendia rapidamente a interpretar os diferentes brilhos do olhar daquele homem de preto. Depois que ficou maior, e fez sua primeira comunhão em Brasília, esperava aflita as oportunidades de pegar um avião para o Rio de Janeiro, onde seu amigo a esperava. Eles chamavam aquelas visitas de “confissão”, mas ela via aquilo apenas como matar as saudades de seu amigo – muitas vezes, durante diversas fases de sua vida, o único amigo verdadeiro.

No meio das conversas, períodos longos de silêncio, sentados num canto do jardim, escutando o distante rugido do centro da cidade e o silêncio reinante naquele recanto. Uma vez, um sabiá pousou na frente deles e os três ficaram a se fitar, imóveis, até que o pássaro cansou da brincadeira e levou seu peito vermelho para longe dali, mas não sem antes deixar uma estranha alegria no peito da menina.

Na adolescência, a natural atitude de desafio da idade se desmanchava por completo na presença do homem de preto. O sorriso compreensivo, a voz pausada e modulada, aquele olhar penetrante onde sempre pairava uma alegria, aquilo tudo a acalmava. Ele, ao contrário dos pais, escutava atento e com a maior seriedade o que ela lhe dizia. Concordando ou não, nunca fazia com que ela se sentisse tola ou incapaz.

Quando a mãe da jovem adoeceu, seu homem de preto redobrou suas atenções, ligando toda a semana e insistindo que ela se juntasse ao grupo jovem que ele orientava. Ela foi, apenas para estar com seu amigo, nada tinha em comum com a maioria daqueles adolescentes que cantavam tão alto e batucavam seus violões na missa. Ela tinha crescido escutando a voz de seu amigo no canto gregoriano, sob a sombra cheia de contemplação daquele Mosteiro.

Morre-lhe a mãe, e a saúde de seu já idoso amigo começa a fraquejar. Pouco a pouco, ele enfraquece diante dos seus olhos, mas tamanha era a força daquele espírito que ela não percebeu nada além do olhar cada dia mais arguto em desvendar seus pensamentos e humores, e a palavra cada dia mais caridosa.




Agora ela estava ali, e seu amigo, seu homem de preto, repousava no chão de pedra da igreja onde eles sempre se encontravam. As mãos não mais escondidas no bolso do hábito, mas recolhidas dentro das mangas. O capuz que ela sempre vira pender sobre os ombros, pela primeira vez cobria sua cabeça. Os pés, ela os via pela primeira vez sem seus sapatos pretos sempre bem engraxados. Ela nunca o vira tão quieto e tranquilo, parecia dormitar, mas ela sabia que aquele era o sono eterno, merecido depois de uma longa vida de estudo, trabalho e problemas de saúde.

Seu irmãos de hábito se arrumaram em torno dele, e ela sente dor aguda da separação iminente. Sendo mulher, jamais poderá visitá-lo no claustro onde ele dormirá. Não sendo parente, não poderá jamais convencer àquelas pessoas espantadas de vê-la chorar tanto a morte de um padre que aquele monge era seu pai. Não sendo da ordem beneditina, não poderia jamais compartilhar com ele esta irmandade especial advinda de ser filha de São Bento. Ele ia ser radical e definitivamente separado dela.

Eles o levaram em procissão e ela seguia, tornada apática pelo tamanho do seu sofrimento. Seguia mais ou menos no meio da multidão que acorrera ao velório e ao enterro, multidão que era para ela nova fonte de dor, pois nem mesmo a exclusividade de saber que ele era especial ela tinha.

Colocado suavemente dentro de sua última morada, a fila dos amigos que iam prestar os últimos respeitos se forma, e cada um recebe uma pedrinha, que deposita sobre o caixão agora fechado. Ela quase guardou aquela pedra na bolsa, mas afinal queria que ele tivesse contato, por ínfimo que fosse, com algo que pertencera a ela, nem que fosse por alguns instantes. Jogou a sua pedrinha também.

Ao deixar o claustro, grossas lágrimas de chuva começaram a cair do céu de março, pois aquele dia o Rio de Janeiro chorou copiosamente a morte de um filho ilustre. Vagarosamente ela desce a ladeira no meio da chuva, indiferente, mas pára um instante para olhar para trás. Aquela imensa construção de pedra sempre o abrigara. Agora, misteriosamente, toda a construção sorria o seu sorriso, e todas as vidraças brilhavam com a luz do seu olhar. Pois ele virara o Mosteiro, e o Mosteiro virara João.

14.11.03




A Caridade e o Afeto – Entre Dois Amores



Aconteceu uma coisa engraçada com o último post. Enquanto que algumas amigas deixaram adoráveis comentários a respeito dele, alguns amigos foram do indiferente às vias de fato, pedindo inclusive que eu o retirasse. Sim, reparem bem, amigas de um lado, amigos de outro. Um deles cogitou que isto fosse “rabugice masculina”. Talvez, talvez. Mas acho que é mais complicado que isto.

O maior senso de estranhamento que senti dos meninos em relação ao post – onde presto uma homenagem ao bonito e forte sentimento de amor que liga um ser humano e um animal – foi que o post tratou um “mero” animal com emoção que deveria ser direcionada apenas ou principalmente aos humanos. A expressão mero animal é toda minha. Nenhum dos amigos que criticou o post a usou. Usaram outras: “sentimentalóide”, “Pollyana”, “parece um texto da Xuxa” (e eu nem sabia que a Xuxa sabia escrever!). Um amigo formalizou as objeções dele, dizendo que sente antipatia de militantes de “direitos dos animais”.

Enquanto falo tudo isto, quero declarar que não me incomodou nem ofendeu um átomo que seja a posição que qualquer amigo meu, mesmo as que foram mais vociferantes. Muito pelo contrário, acho bom que as pessoas sejam específicas a respeito de qualquer objeção que fazem ao que eu escrevo, pois me permite olhar o meu texto com outros olhos, e aprendo muito.

O fato é que a coisa fica resumida deste jeito: quem entendeu que o post era simplesmente a expressão da minha tristeza e zanga com os maus tratos a animais – e acha isto uma coisa positiva – gostou do post; quem achou que animais não merecem uma emoção deste tamanho; ou que um boi, um mosquito, um gato ou um cachorro são basicamente animais e matar um ou outro acaba dando no mesmo; ou ainda que eu devia me preocupar mais com os maus tratos a seres humanos que com animais, bem, estes não gostaram do texto. E todos eles têm direito à sua opinião.

E eu tenho direito de expressar a minha, sobre a qual meditei longamente durante a noite, antes de escrever isto. Piegas, sentimentalóide, pollyanística o quanto for, ela é a expressão do que penso e sinto, e acho que tenho de explicá-la melhor.

Eu já verbalizei neste blog diversas vezes e de diversas formas a minha religiosidade. E a religião cristã que abraço o tempo todo fala da igualdade e irmandade dos homens, todos filhos de um mesmo Deus. A Caridade com o próximo é a virtude mais forte que um ser humano pode ter. E eu abraço esta doutrina da caridade. Mas, e os animais? Têm mais valor que um ser humano? Não. Mil vezes não. No entanto... deixem-me colocar aqui uma pequena citação da MARAVILHOSA biografia de São Francisco de Assis escrita por G. K. Chesterton, recentemente traduzida e publicada pela Ediouro:

“Ele [o santo] não chamava a natureza de mãe; chamava um burrico específico de irmão ou uma pomba de irmã. Se chamasse uma garça de tia ou um elefante de tio, como possivelmente o faria, ainda assim estaria indicando que eles eram criaturas específicas às quais o Criador atribuíra um lugar particular, não meras expressões da energia evolutiva das coisas. É nisso que seu misticismo se aproxima tanto do senso comum da criança. Uma criança não tem dificuldades para entender que Deus fez o cão e o gato, mesmo que saiba que a criação de cães e gatos a partir do nada é um processo misterioso que está além de sua imaginação. Mas nenhuma criança entenderia qual a intenção de se misturar o cão, o gato, e tudo o mais para formar um monstro com inúmeras pernas e dar e ele o nome de natureza. A criança se recusaria terminantemente a entender um animal assim. São Francisco era um místico, mas acreditava no misticismo, não na mistificação. Como místico, era inimigo mortal de todos os místicos que diluíam as extremidades das coisas e as faziam desaparecer no seu ambiente. Era um místico da luz do dia e da escuridão, mas não um místico das coisas indefinidas. Era exatamente o oposto do visionário oriental que só é místico porque é cético demais para ser materialista.” (págs. 98/99)

Pois então. Eu chorei, e chorei MESMO, a morte do Yahoo, amigo do Mau - graças a Deus rápida e acidental, não fruto de maldade de terceiros -, que brinca tão lindo na foto com uma plantinha. Um gato tão parecido com minha gatinha Pompom. Como chorei a morte do cãozinho Buggie, que pertenceu à minha mãe e depois da sua morte a mim. Um cão que cuidei por 16 anos com muito afeto, e que deixou um oco no meu coração quando partiu. E acho monstruoso que alguém possa chutar um animal a ponto de afundar seu maxilar, como já me contaram, simplesmente porque não vê o sofrimento que causa, não enxerga.

Eu olho um menino de rua e não enxergo nem um problema nem uma ameaça, enxergo um menino. Eu olho um cão ou gato de rua e não enxergo um foco de zoonose, mas uma chaga na nossa condição humana. AQUELE cão, AQUELE gato, eles são nossa responsabilidade, e, se estão na rua, a culpa e a vergonha são nossas. Chutar, queimar, esfaquear ou envenenar só aumenta a chaga na nossa condição humana. E não venham me dizer que não. O homem é, sim, senhor da criação. Mas o que falar de um dono que flagela sua posse até a morte? E não, isso não é militância ecológica. É a expressão da minha consciência cristã.

Sei que o homem vem antes do animal, como a Caridade vem antes do afeto, mas confesso que – estando numa situação onde tivesse de escolher entre salvar a vida de minha gata Pompom e de Fernandinho Beira-Mar (ou mesmo de uma menina loira e linda como a menina Von Richtoffen, que tão docemente planejou o assassinato dos pais à pauladas) – pedia perdão a Deus e fazia a escolha do coração. E que Ele me perdoe se eu estiver errada.

12.11.03







Para Yahoo,
Revisto e Ampliado

Fotos do Mau - Clique nas fotos para ver mais



Não, este felino não é meu... nem sequer conheço seu dono. Foi um destes acidentes, sabe quando estamos no blog de uma amiga e vemos o comentário de uma pessoa nova, ficamos curiosos para saber quem é aquela pessoa e vamos investigar os links? Pois foi assim.

Descobri que ele é uma pessoa que gosta de músicas parecidas com as que gosto – jazz, progressivo, instrumental – e que ama gatos como eu amo. E, por uma infelicidade, perdeu seu amigo cedo demais. Eu não sei do que o gatinho Yahoo morreu, mas quando um gato de apenas três anos com aparência tão saudável morre, geralmente significa algum tipo de maldade humana.

Me emocionei muito com a linda homenagem que está no link da foto do Yahoo. Eu não entendo porque as pessoas são tão más com os gatos. São bichos limpos, afetuosos, inteligentes e elegantes. Ágeis e belos, enchem uma casa de alegria. Esta lenda de que não têm afeto pelo dono é a maior besteira do mundo. Minha gatinha veio me seguindo, miando de dar dó, até eu tomar uma providência e parar para falar com ela. Ela estava abortando sozinha no meio da rua, e com as vias respiratórias cheias de muco por causa de uma rinotraqueíte. Naquele mesmo dia eu a levei ao veterinário, e bastou eu ficar acariciando seu pêlo para que ela permitisse que o médico aplicasse três injeções nela. Até hoje é assim, basta que eu converse com ela que qualquer veterinário pode trabalhar tranquilo. Ela me ama tanto quanto eu a amo.

Animais, nas vidas de quem os têm, são membros da família. Acho positivo para a humanidade que seja assim. Longe vai a época que a vida humana tinha tão pouco valor e se perdia com tanta facilidade quanto hoje se mata um mosquito ou barata. Nesta época, é claro, a vida dos animais tinha ainda menos valor que o parco valor dado à vida humana. Mas a humanidade caminha, e caminha na direção de ser cada dia mais humana, no sentido moral e metafísico. Com a humanização do homem, humaniza-se também a postura dele em relação aos animais. Eu só posso encarar a maldade do homem com animais, e mais especificamente com os gatos, como sinal de profunda inveja da beleza, da inocência e da alegria. Como uma profunda falha do desenvolvimento humano.

Algumas pessoas podem objetar que eu, como muitos, como carne de diversos tipos de animal. Verdade. Mas não gosto de pensar no sofrimento de um animal sendo sacrificado. Espero que algum dia o corpo material não precise desta proteína sempre duramente conquistada. Mas ainda preciso de carne. Muitos, no entanto, passam muito mal com ela... é um problema moral interesante, mas não é o objetivo deste post.

Certamente quando morrermos, Deus não nos cobrará o animal morto para nosso alimento da mesma forma que certamente cobrará maus tratos a animais de estimação sob nossa responsabilidade. Veja, não é uma questão acadêmica. Da mesma forma que Ele vai nos perguntar "Dia tal na hora tal no lugar tal havia uma pessoa debaixo da marquise. Porque você fingiu que não viu?" Ele também poderá nos perguntar "e o que foi feito daquela ninhada de gatinhos que você abandonou amarrada dentro de um saco plástico, para morrer sufocada?" Qual a resposta que esta pessoa dará?

Hoje, através do Yahoo, quero homenagear todos os gatos do mundo. Animais que foram os últimos a se juntar a nós como companheiros de viagem, e ainda mantém o charme da independência. Espero que mais pessoas passem a apreciar gatos, e que eu veja menos e menos população animal na rua e menos e menos crueldade que leve à morte de animais tão bonitos. Para aqueles que já morreram devido à crueldade e selvageria do homem, peço a guarda de São Francisco de Assis.

Para o Yahoo, especificamente, peço desculpas por ter perturbado seu descanso com este post longo demais. Mas pelo que seu amigo Mau conta, você era um gato filósofo, que entenderá muito bem minhas motivações. Um beijinho, Yahoo. Descanse em paz.

11.11.03



Algumas divagações




Eu às vezes tenho esta vontade forte de desaparecer das vistas de todos os meus conhecidos. Não porque não goste de estar com eles, mas porque muitas vezes sinto que me enxergam de forma torta, e não sei o que fazer para consertar. O que é pior, começo a me enxergar distorcida também, e a minha auto-imagem não encaixa na minha alma. Incomoda como sapato apertado.

Então me dá uma vontade de fugir. Inventar um nome novo, sair por aí, virar uma cozinheira de navio chamada Dolores, ou uma shaper de prancha de surf de nome Kaila, enrolada o dia todo em uma canga, em alguma praia perdida do nordeste. Como seria bom ter esta existência novinha em folha, e poder descobrir que parte de mim sou eu e que parte de mim são as expectativas das pessoas que amo.

Assim, eu poderia saber de verdade quais são as minhas verdadeiras fraquezas e minhas verdadeiras forças. Mas como não faz meu estilo fugir - fugir seria fácil demais e não acredito em soluções covardes - o jeito é desfazer pacientemente este emaranhado de impressões, separar as linhas por suas diferentes cores, e ver se consigo bordar alguma coisa com isso.

Enquanto as borboletas esvoaçam dentro da cachola.

7.11.03



Borboletas e Flores




Tenho uma nova blogamiga. Sim, blogamiga, não é linda a expressão? Ganhei esta blogamiga de presente do Luis N, que mais uma vez me dá flores e alimento para a alma, e do meu querido João Fernandes do maravilhoso blog Fumaças. Aliás, já expressei aqui minha paixão pelos portugueses... os blogueiros de lá são fantásticos!

Bem, minha blogamiga chama-se Jacky, e é um doce de mulher, com paixão por flores. Ama tanto as flores quanto eu amo as borboletas, e pelo pouco que vi na entrevista que deu ao Ene Coisas, por motivos muito parecidos. Ela também prefere olhar para o lado mais bonito da vida, o lado que nos estimula a renascer a cada pequena morte da nossa existência por aqui.

Enquanto que eu busco na borboleta a imagem do renascimento, da coragem de enfrentar o casulo, vejo que a Jacky busca nas flores esta doação gratuita, esta oferta constante de beleza e consolo. As flores estão presentes nas maternidades e nos cemitérios, nos casamentos e em todos os outros dias especiais de nossas vidas. Elas precisam de muito pouco para dar muito em troca.

Perfume, beleza, alegria, paz, consolo, celebração, tudo isto representam as flores e tudo isto está lá no blog da Jacky. Benvinda, blogamiga!



P.S.: Obrigada pela correção, Luis N, blogamiga é mesmo melhor que blogomiga. Fica o post corrigido.


Que Trabalhão!



Olha, arrumar este blog depois de uma festa de arromba que durou dias é fogo, viu? Ah, mas valeu a pena!

Se esse blog falasse...

3.11.03






Ao Dennis:



Querido Amigo...

A Stella deu uma idéia. O Jules sugeriu o formato. O Ralph executou com maestria. Estas pessoas todas aderiram, porque têm admiração e afeto por você. Aqui está, de presente. A Turma do Dennis. Com banner e tudo, na sua festa "black tie". E aqui estão os membros todos que quiseram deixar uma palavrinha de afeto. As mensagens foram postadas por ordem de chegada.

Eu não vou falar nada, já disse tudo várias vezes. Espero que goste da surpresa... que já não é mais surpresa porque a Stella não esperou até de noite para postar o banner... O jeito é abrir a casa logo e esperar o resto do povo chegar à noite! Enfim.... aqui está, Pimentinha!

Sue





Dennis:
Admiro a força que tem em sua personalidade, além de imensa cultura, a personalidade forte que combate qualquer "inimigo", o carinho e lealdade com os amigos . Enfim, a força e delicadeza, que o Dennis sabe como ser.
Midori Elis




Caro Tio Dennis

Estou nessa difícil situação de encontrar palavras para descrever sua grandiosidade. Desde o dia em que começamos nossa amizade através dos comentários no blog, por e-mails e MSN, só tenho a agradecer. Por sua dedicação, carinho, compreensão, os valiosos e importantes conselhos que me deu, pela sua preocupação e tempo dispensados. Obrigado por me confiar segredos e por guardar os meus segredos. Você é uma das pouquíssimas pessoas que me transmitiram mensagens sábias e conselhos que ficarão no meu coração por toda a vida.

Agradeço a quem quer seja o responsável por eu ter encontrado o Caderno Mágico. Por ter me tornado seu amigo... e mais que isso, por ter ganhado um grandioso, maravilhoso e soberbo Tio. Obrigado de Coração Tio Dennis. Sucesso!!!
Seu sobrinho Binho





Um recado pro meu menino Dennis:

Depois de tudo o que vimos passar pela sua vida (das perdas e das vitórias) é impossível não sentir que somos mais que uma turma. Somos muito amigos. Tanto que tua alegria nos alegra muito e, de algum modo, o torna real.

Beijos à todos
Mariana




Muito bonito o banner Sue e tenho certeza que ele vai amar, principalmente porque sabe que é com muito carinho e paixão que o temos em nossos corações.

É incrível né Sue, mas você já notou que ele formou um exército de pessoas do bem? Note bem que antes de esperar pelos outros, ele primeiro gosta e acredita sem amarras no coração, e por isso as pessoas desta turma jamais vão abandonar o barco ou traí-lo de alguma forma, o comprometimento é baseado no respeito, na admiração e na verdade.

Lourdes




Grande tio Dennis!

Já estou preparando minhas havaianas azuis para meu desfile em homenagem ao seu sucesso (lembra?)! Mas lembre-se: se você parar na Academia eu as jogo na sua cabeça, vê lá hein, vê lá, rapaz!
Sucesso e abraço do Cabral




Querida Sue e Dennis ,
Encheu meu coração, de alegria seu e-mail. Isto logo na segunda de manhã é um feito.
Espero que a turma do Dennis seja assim cheia de alegria.
Estarei sempre por aqui .
Com carinho
Stella




Obrigada, brabuleta ;)

A homenagem é mais do que merecida. Poderíamos escrever um livro maior que o do Dennito se quiséssemos dizer tudo o que ele merece ler :}

Se hoje estamos reunidos, como uma turma, é devido ao Grande Caderno que nos aproximou e sempre nos trouxe além de ótimos contos, um amigo, uma companhia e a alegria de conhecermos outros tantos amigos do nosso amigo, que compartilham do mesmo caderno e que ao conhecermos nos apaixonamos, visto tratar-se de pessoas maravilhosas.

Isso não é bem uma festa virtual, é uma festa bem real. Festa feita em nossos corações com a magia de amizades que merecem muito carinho e homenagens. O Dennito sempre foi um amigo real e eu desejo muita sorte e felicidade a este pimentinha ;) Metade anjo, metade diabinho!! Um cara que sabe me tocar com palavras e tem a generosidade de me dar o prazer de ler textos brilhantes.

Não importa quantas vezes eu já te disse, Dennito, mas, eu continuo dizendo: Obrigada, meu amigo ;} Eu te amo!!!

A todos desta turma, um enorme abraço e espero conhecer mais de vocês que se estão no coração do Dennito, com certeza são muito especiais.

Beijos!!!
Margallyne Viana Martins a Marguinha




Nesta vida de blogueiro descobri que em alguns certos momentos (ou momentos certos) a vida aflora-se de uma plenitude incontestável.

São pequeninos detalhes que certificam realmente que a pessoa do outro não é fruto de nossa loucura. E assim, conversando com a alma, conhecendo somente a essência, sem qualquer circustância real que o limite, é que percebemos o quão imane e infinita é a alma do indivíduo. É o unico detalhe que subjaz e aprisiona para sempre os mais tênues limites entre a vida, a beleza e felicidade de se saber quem é.

E é assim que conheço o Dennis: apenas por pensamentos e sentimentos impressos em perfeitas palavras.
Ralph Spegel




Oi Sue, eu só fiquei sabendo disso agora... que pena. Bom, no próximo post já terei o banner. Abraços,
Flamarion Daia Junior



Postei em Junho, mas nada mais propício para o momento... Ao Dennis e aos amigos do Dennis...

Sintonia Virtual


Ah! Os meu pares

Vão surgindo aos poucos

e serão milhares

Vem com gritos roucos

De todos lugares

Vem ao meu encontro

E eu ao seu encontro

Vou correndo tonto

Pois nós somos pares

Pois somos milhares

Em todos lugares

Em todos os cantos

Entoamos cantos

e eles nos atraem

Pois não somos santos

Mas somos milhares.
Nelson Natalino






Dennis, uma brincadeira que encerra um forte segredo pode se transformar num pesadelo dantesco, como aquela inscrição terrível que lemos no tronco do carvalho aflitivo, ou num sonho leve, recheado de bon mots proustianos. A segunda alternativa, tu sabes, é muito mais aprazível. E tu, sendo sensível e humano, não me decepcionou. Muito obrigado, meu amigo. Se fiz de ti um esteio, foi porque precisava muito. Merci, mon cher.
Renan




Dennis querido ! Você viu que ótima idéia a Sue teve ? Essa 'festa' é para te mostrar, da forma mais clara possível, como você é querido - mesmo no chamado mundo virtual, que para nós é tão real.

Eu me lembro da primeira vez que entrei no Caderno. Foi por puro acaso, obra do destino mesmo : achei o blog da Mariana, e do dela para o seu foi questão de sorte : escolhi apenas pelo título. Acredito hoje que aquilo foi uma enorme obra prima do destino, que queria fazer o meu caminho cruzar com o seu.

Você é maravilhoso Dennis, inteligente, culto, engraçadíssimo, um homem admirável. São poucas as pessoas com as quais eu me espelho, e você conseguiu ser uma das poucas a conquistar essa vaga dentro de mim. Talvez por sermos muito parecidos em determinados aspectos, mas acima disso, porque eu vejo em você um futuro que quero fazer acontecer para mim.

O Caderno sempre foi e sempre será o nosso 'café colonial', ponto de boemia, discussões polêmicas, acirradas disputas em palavras. Essa nossa 'turminha' está aqui para comprovar isso, oras ! Nunca se esqueça de que estamos todos aqui, unidos, sempre apoiando o Caderno e a abertura que temos ali para sermos o que somos, nos expressarmos da forma mais sincera possível.

Amigo, eu amo você. De verdade. Obrigada por dividir conosco as coisas tão belas que povoam sua mente.
Um beijo !
Da Corujinha Sally.




Apesar de não ter certeza de que você existe, pois ainda me resta uma certa desconfiança de que você é uma personagem criada pela Cely, vou me dirigir a você como se existisse: ô, já andam falando por aí de universo dennisiano. Confessa: você tem pretensões de ser Tolkien?

Deixando as brincadeiras de lado (não me refiro à desconfiança de que você é um alter-ego da Cely, pois isso é coisa séria), parabenizo-o pelo livro. Foi um projeto do caralho (a Sue, se a festa for de gente fina, como posso depreender pelo traje exigido, pode substituir essa última palavra por cacete, caramba ou afins)! Criar um blog, formar o público e - catapimba - publicar o livro.

Sim! Estou insinuando que tudo isso foi premeditado! Você criou o Caderno como meio para chegar ao livro! "Dennismo" é uma daquelas palavras que conseguem sintetizar muitos atributos: arteiro, criativo, malvado, menino-que-rouba-a-cereja-do-bolo-quando-ninguém-está-olhando, malvado, contundente, genial, malvado e malvado.

Parabéns, Cel... digo, parabéns, Dennis!
Rogério Prado Macedo




Desejo muito sucesso a você, Dennis, e a este livro, tanto quanto você tem tido no blog e maior que isto. Você o merece em primeiro lugar por escrever bons contos; ainda que eu seja bem mal informado, não tenho visto em outros lugares coisas como as que você escreve nem imaginação como a sua. E, depois, este sucesso é merecido porque você é uma pessoa boa, e quando uma pessoa boa tem sucesso a gente fica um pouco mais satisfeito com a justiça desse senhor tão estranho (o Sucesso). Ele é um sujeito deveras traiçoeiro, mas enquanto for possível mantê-lo amarrado e sob seu poder, desejo que ele permaneça com você.

Finalmente, como presente concreto, este Mercador rude e ignorante oferece um camelo para suas jornadas no deserto, e para que possa me visitar sem pedir o camelo emprestado dos outros.

abraços,
Alfredo Votta Jr


Meus queridos convivas, um minuto de sua atenção. Acaba de chegar uma mensagem especialíssima da maior lenda dos blogs brasileiros. Se fosse uma sinfonia, seria a nona de Beethoven. Se fosse um palácio seria o de Versailles. Se fosse um deus grego, seria Zeus. Mas é melhor que isto. Com vocês, a mensagem gravada do nobre Onofre Gusmão!

(por favor, silêncio respeitoso)




(acendendo um cachimbo)

Ora ora ora. Eu nem sabia que fazia parte da Turma do Dennis, o Pimentinha Paulistano. Perdoem minha demora em responder a esta tão simpática carta, mas é que a tecnologia aqui não estava colaborando.

Tudo bem que "turma" é uma coisa meio pobre. Antes fizesse parte do "clube" ou da fraternidade" - seria perfeito! - do D. D., mas enfim. Conquanto não faça parte da "galera do Dennis", dou-me por satisfeito.

Não tenho nem porque enviar um parabéns ao dileto pela publicação do livro de contos, porque seria dizer o que muito já foi dito. O rapaz é bom. É mais que isso, é excelente. Uma exceção. Um exemplo. Se estivesse morto, seria um mártir Herói da Pátria. Felizmente não está, e com tanta saúde que esbanja textos em seu Caderno Mágico - um dos primeiros blogues que acompanhei em minha vida, desde a época do primitivo e finado Dejetos (lembra-se?), quando Dennis D. ainda assinava com o sobrenome. Longa vida ao rei, se o rei for Dennis D.

Infelizmente não pude comparecer ao animado convescote em celebração aos feitos de D. D. Caso haja sobrado um pouco de caviar ou escargot, é favor enviar via sedex.

Beijos,
A Voz Por Trás de Onofre G.






2.11.03






Todos os Santos e Finados



Queridos amigos, este final de semana é dedicado a todos os que partiram. O dia de finados, hoje, é precedido do Dia da Todos os Santos. Acho que pouca gente pára um instante para questionar o porque destas datas adjacentes. Eu parei, e obtive do meu coração a seguinte resposta: honre e cultive a amizade de todos os santos, aqueles que agradaram mais a Deus, que conhecem os caminhos mais rápidos para o Coração de Jesus; peça pelas suas almas, para que alcancem a salvação.

Os santos mostram caminhos de salvação. As almas nos lembram que a vida passa depressa. Eles estão a nos esperar. Vamos ao encontro deles, ou caímos no abismo? A hora de escolher é agora, amigos queridos.

Oferecendo a vocês a doce imagem que está postada na EWTN, desejo um dia de paz e reflexão para todos, com menos lágrimas de saudade e mais esperança...


A visita



Adormeci no meio da tarde e tive um sonho. No sonho, subia as escadas para a varanda de uma destas grandes casas de fazenda, como uma das antigas fazendas de café do século dezenove. Grande, espalhando-se para a direita e para esquerda. Dois andares, alva, janelas e portas pintadas de azul fechado, com molduras de pedra. Piso e teto de tábua corrida. Nada me é familiar, mas tudo me é familiar. A varanda está vazia, mas a própria casa parece me convidar para entrar. Não sinto confusão nem medo, mas uma certa expectativa.

Logo defronte à porta de entrada, um corredor que de tão longo parece se estender até o infinito, com portas a intervalos regulares dos dois lados. A casa é muito antiga, mas não passa a impressão de velhice, muito pelo contrário, toda ela parece pulsar viva. A sala principal, à minha esquerda, está na penumbra. Uma luz bonita filtra pelas cortinas leves. Vejo duas grandes arcas encostadas nas paredes, com imensos jarros de louça repletos de flores do campo, um sobre cada arca. Surpreendo-me com os dois conjuntos modernos de sofá, de algodão cru e parecendo ser muito macios e confortáveis. A sala é imensa, e vejo que à minha direita existe uma sala de jantar igualmente grande, com duas imensas mesas de jacarandá. Encostadas na parede, ladeando uma porta, duas grandes cristaleiras repletas de louça.

Meio incerta sobre o que fazer, caminho devagarinho até a primeira cristaleira para observar os conjuntos de porcelana. A casa é toda muito linda e acolhedora, mas até agora não vi ninguém. Até que ouço uma voz...

- Oi, filha...

Dei um pulo. Ela estava na entrada da sala de jantar, sorrindo. Como sempre, sorrindo.

- Mãe?!?

Ela me deu aquele sorriso que reservava só para mim, aquele que ela dava quando estava muito satisfeita comigo. Ela estava diferente, especialmente do tempo que mais lembro, o tempo da doença. Ela estava... melhor. Era minha mãe, mas era minha mãe como ela devia ser, sem uma certa tensão que lhe fazia ranger os dentes, sem os medos que lhe toldavam os olhos, sem doença, sem seio amputado, com uma pele linda de pêssego e os olhos verdes cor de folha nova. Magra, com o corpo parecido com o que vi em sua foto de casamento, e um rosto sem marcas, sem idade determinada. Ao lado dela, quieto a me observar, sentado tranqüilamente, o Buggie, cãozinho que ela ganhou de presente de uma amiga. Também sem os sinais de doença e velhice, sem a cegueira.

- Mãe...
- Sim, filha. Que bom que você veio visitar.
- Eu estou dormindo, não estou?
- Está.
- Mãe, como você está linda!

Ela sorriu e me abraçou. Eu não sentia a vontade de chorar que sinto quando lembro de seu abraço acordada, porque não era uma lembrança saudosa, estava mesmo entre os braços de minha mãe. Quase protestei quando ela soltou do abraço e pegou minha mão.

- Seus avós vão ficar tristes de saber que você veio quando eles não estavam.
- Mãe, que lugar bonito!
- É nossa casa, Assunção Maria.
- Nossa casa?
- Sim, estamos aqui, todos nós. Suas tias e tios, seus avós e bisavós, todos nós. Seu irmãozinho também está aqui.
- Pedro Paulo está aqui?!?
- Sim, está.
- Posso vê-lo, mãe?
- Não, filha. Você só vai poder conhecer seus parentes que morreram antes de você nascer quando vier de vez para cá. Filha, não deixe de vir!
- Mãe, algum parente nosso que eu conheço não conseguiu vir?

Os olhos dela encheram de lágrimas, mas ela não falou nada. Cheia de culpa por ter entristecido minha mãe, mudei de assunto:

- Mãe, o Buggie! Ele está aqui também!
- Ah, filha, você sabe o quanto eu amo o Buggie e o quanto ele me ama. Ele me achou aqui.
- Posso pegar ele no colo?
- Pode.

Buggie nunca gostou muito de colo, era um yorkshire terrier muito peludo e morria de calor, mas sempre foi um cavalheiro e não se incomodou que eu o apertasse um pouco. A mãe foi andando em direção à sala de estar e eu a acompanhei com Buggie nos braços. Ela sentou em um dos sofás e eu sentei pertinho. Coloquei o Buggie no chão, e ele deitou naquela sua pose característica, as patas traseiras esticadas para longe do corpo, a barriga toda encostada no chão de madeira lustrada. Mamãe sorriu, perguntou:

- Quer cafuné?

Ela não precisou perguntar duas vezes, deitei imediatamente a cabeça em seu regaço, e ela acariciou meus cabelos. Ela cheirava ao seu perfume favorito, Fleur de Rocaille... o toque, o cheiro, tudo tão familiar...

- Mãe, não quero ir embora...
- Filha, você não pode ficar. Não é ainda sua hora de vir.
- Mãe, está tudo tão penoso... as coisas parecem ficar cada dia mais difíceis. Aqui sinto tanta paz...
- Assunção Maria, você sabe que ainda tem muito o que fazer. Agradeça a Deus por esta visita, e por saber que estamos aqui à sua espera, filha. Traga seus irmãos e seu pai para cá.
- Como, mãe?
- Reze, filha. Agora sossega, aproveita o cafuné...

Eu me acomodei melhor e ela continuou a acariciar meus cabelos, e a cantarolar baixinho as canções que cantava para me ninar em criança. Eu fui ficando sonolenta, mas briguei com o sono, porque não queria partir. Eu sabia que, se adormecesse, ia acordar longe dali. No entanto, a voz suave da minha mãe foi me embalando, os olhos foram pesando e fechando... antes de adormecer completamente, escutei baixinho a frase que ela disse para mim no hospital, um pouco antes de morrer...

- Filha, você é tão linda....



TRRIMMMMMMMMMMMMMMMMM!!!

Acordei num pulo, sobressaltada. Era o telefone. E era engano.