7.8.02

A borboleta não esquece que um dia foi minhoca. E que o tempo de minhoca foi o mais longo da sua vida. Toda asa de borboleta é fruto do arrasta-arrasta da barriga de uma minhoca. A borboleta é uma minhoca que quis passar pelo sofrimento da metamorfose, pela solidão do casulo, pelo medo do desconhecido. Ela sabe – como sabe! – que o tempo de voar é curto, que a urgência de juntar-se ao companheiro é extrema, porque a vida é breve.

Só tem alma de borboleta a pessoa que já teve o seu quinhão de vida de minhoca. Que já teve de arrastar-se pacientemente, milímetro por milímetro, levando muito tempo para se chegar onde se deseja. Aquela pessoa que constrói vagarosamente seu casulo, e dentro dele permanece enquanto transforma, dolorosamente, sua natureza. Ter alma de borboleta não é coisa para pessoas jovens.

O jovem, quando nasce voando, nasce mariposa. E rápido se queima na luz mais brilhante que encontrar. O jovem não tem paciência para construir seu isolamento voluintário, para suportar a solidão, a não ser que tenha tido verdadeiramente uma vida de gênio, com o sofrimento correspondente e o isolamento inevitável. Eu conheço apenas um jovem que tem alma de borboleta. Mas conheço algumas pessoas maduras que construíram suas asas multicores dentro do sofrimento, e hoje voam por aí, com o coração partido. Pois não se pode ser borboleta sem o coração partido.

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