26.2.03




O que é amizade?

Esta é uma pergunta com muitas respostas, como eu tenho descoberto -- para meu espanto -- nestes 38 anos de vida e 03 de vida virtual. A cada dia encontro uma resposta nova, algumas positivamente me assustam, outras me enojam; outras, no entanto, me deixam com falta de ar, tamanha a beleza delas.

Não vou listar aqui estas respostas, nem as mais feias, nem as mais bonitas. Vou apenas tentar declarar a minha. É uma verdade pequenininha, de um coração bobo, confiante, que tem as portas escancaradas. Meninos e meninas, não tentem fazer isto com o coração de vocês. Os resultados não são bons, às vezes acho que meu coração não pára de bater e desiste, de teimoso que ele é. A quantidade de lágrimas que já derramei dava para irrigar todo o estado do Ceará.

Desculpem o post feio. Eu sei que as pessoas me procuram aqui no Asa porque querem um pouquinho de beleza, de leveza, de lirismo. É o que eu tenho tentado oferecer ao meu coração e ao de vocês, mas não hoje. Hoje eu estou com o coração gritando como uma Banshee, a lavar roupas sangrentas na beira de um riacho. Quem não quer me ver chorar, que saia agora, sem nenhum ressentimento da minha parte.

Bem, voltando à minha resposta. Como vocês que me lêem (ainda me espanto com isto, sabem?) já devem saber, minha avó paterna era de família italiana da Calábria. Gente tosca, camponesa, como eram toscos camponeses os Medeiros lá do Mato Grosso, fazendeiros criadores de gado. Como eram toscos os índios da família da minha bisavó materna, gente que andava pelada pelo meio do mato. Sou uma camponesa tosca, sem um pingo de nobreza no sangue. Uma cadela vira-lata, sem nenhum pedigree que me redima.

Sou, portanto, uma pessoa simples. A comidinha aqui de casa é um arroz branco, um guisadinho de carne, um leguminho refogado, a onipresente macarronada com frango assado. Um feijão preto, como carioca gosta. Saladinhas diversas. Os hábitos são simples também. Acordo entre oito e nove horas, tomo café, arrumo a cozinha e dou uma olhada nos e-mails. Até umas onze horas, trabalho no computador, traduzindo, escrevendo, editando textos. Aí eu paro para fazer o almoço, sirvo a comida, arrumo a cozinha de novo. À tarde, mais um pouco de computador e Internet, e depois saio para trabalhar. Chego em casa às onze da noite, lancho e venho procurar meus amigos virtuais antes de dormir. Raramente durmo antes de duas da manhã.

Simples, banal. Sem nenhum enfeite. Vida de gente que não tem grandes mordomias. Mas sou muito feliz com a vidinha que tenho. Porque procuro enfeitá-la com virtudes, também simples, que aprendi no colo de minha mãe:

"A família é tudo na vida de uma pessoa."
"Mentir é a pior coisa que se pode fazer."
"Nunca vire as costas para um amigo ou parente."
"Seja leal com seus adversários."
"Seja uma boa católica e ame a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesma."
"Confia sempre seus problemas nas mãos de Maria Santíssima."

Tenho procurado obedecer minha mãe à risca, desde muito pequena. Principalmente a parte da mentira, que sempre abominei. Não minto. Nunca. Algumas pessoas até se irritam com isto, porque eu sempre escolho o caminho da sinceridade. Não sou nada diplomática. Não enfeito o pavão. Se eu digo que gosto de algo que um amigo escreveu, é porque gosto mesmo. Se não gosto, digo que não gosto e porque.

Se digo que amo uma pessoa, é porque amo mesmo. Algumas pessoas acham graça da minha mania de usar apelidos no diminutivo, ou de chamar todo mundo de meu amor, meu querido. Já até implicaram com o número de exclamações que uso num texto. Pois bem, podem procurar. Neste texto não há exclamação alguma. Estou vazia de exclamações. Estas eram (são? serão? não sei) apenas manifestações de alegria. Sou uma pessoa que gosta de sorrir, e minhas exclamações e meus pequenos apelidos faziam na Net a vez dos meus sorrisos.

Portanto, se digo que sou amiga de alguém, mesmo de alguém virtual, é porque eu estou com as portas do meu coração abertas, escancaradas -- porque não dizer arreganhadas -- e esta pessoa pode se servir livremente de tudo o que a Sue é, de tudo o que ela tem. Mesmo. Não é força de expressão. Minha vidinha simples, meu coração simples, minha alma simples, minha história de vida, tudo, tudo, entrego nas mãos daqueles a quem chamo de amigos. Porque aprendi com meu pai, milico e carcamano, que amigo é a família que a gente escolhe. E que na família a gente sempre confia, porque no final das contas é a família sempre que cuida de você. Visão simples, diretamente da terra dos Capos, do Cosa Nostra.

Esta é a Sue, mistura confusa do belicismo honrado do pai e da doçura religiosa da mãe. Uma pessoa que acha que tudo podem os amigos e as pessoas que ama. Que nada é pequeno ou bobo demais, se um amigo precisa conversar. Que tudo procura perdoar, porque tudo procura entender. Que segredos são coisas que não contamos aos adversários, pois aos amigos tudo se pode contar.

Ah, pobre menina Sue. Ninguém avisou a ela, pobre criança, que no mundo de tudo se desconfia; que as pessoas sempre partem do pressuposto que você vai mentir e enganar; que ser uma pessoa amorosa, num mundo amargo como este, é considerado motivo de chacota. E a Sue cresceu achando que ia encontrar, em algum lugar, alguém que a enxergasse toda, e toda a aceitasse. Não falo de um amante, não. Falo de um amigo. Que pode ou não ser o amor.

Continuo a procurar. Por duas ou três vezes, pensei ter achado. Amigos em quem confiava implicitamente. A quem contava tudo. De quem esperava uma coisa só: compreensão. Que me soubessem ler o coração.

Ao mais recente, que parece pronto para partir, envolto numa muralha de silêncio, eu apenas pergunto: porquê?

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