31.8.02

Lentamente o casulo se dissolve. Foi a dor que diminuiu ou eu que fiquei mais forte?
Ocean Gypsy
(M. Dunford / B. Tatcher)
© Turn of the Cards Music

Try to take it all away, learn her freedom just inside a day
And find her soul to find their fears allayed
Try to make her love their own, they took her love, they left her there
They gave her nothing back that she would want to own

Gold and silver, rings and stones, dances slowly off the moon
No one else could know, she stands alone
Sleeping dreams would reach for her, she cannot say the words they need
She knows she’s alone and she is free

Ocean Gypsy of the Moon
The Sun has made a thousand nights for you to hold
Ocean Gypsy, where are you?
Shadows followed by the stars have turned to gold, turned to gold

Then she met a hollow soul, filled him with her light and was consoled
She was the Moon and he the Sun was gold
Eyes were blinded with his light, the sun she gave reflected back the night
The Moon was waning almost out of sight

Softly Ocean Gypsy calls, silence holds the stars awhile
They smile sadly for her where she falls
Just the time before the dawn, the sea is hushed, the ocean calls her
Day has taken her, and now she’s gone.

Ocean Gypsy of the Moon
The Sun has made a thousand nights for you to hold
Ocean Gypsy, where are you?
Shadows followed by the stars have turned to gold, turned to gold

No one noticed when she died, Ocean Gypsy shackled to the tide
The ebbing waves returning, spreading wide
Something gone within her eyes, her fingers lifeless struck the sand
Her battered soul was lost, she was abandoned

Silken threads like wings still shine, winds take pleasure, still make patterns
In her lovely hair, so dark and fine
Stands on high beneath the seas, cries no more, her tears have dried
“Oceans weep for her”, the ocean sighs

Ocean Gypsy of the Moon
The Sun has made a thousand nights for you to hold
Ocean Gypsy, where are you?
Shadows followed by the stars have turned to gold, turned to gold

30.8.02

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O Unicórnio e o Caçador (Parte I)



Ela era um unicórnio diferente. As pessoas geralmente associam um unicórnio com paz e bem-aventurança, com cura e inocência. Ela, no entanto, era o unicórnio da inocência perdida, e tinha durante sua longa vida usado mais vezes seu chifre mágico como espada que como meio de cura. Sim, ela tinha matado e ferido. Nunca por opção, mas com o cerrar de mandíbulas e a determinação feroz de quem luta por aquilo que tem de mais precioso. Ela não se esquivava de derramar sangue, mas toda a vez lhe vinha o medo que o cheiro de sangue derramado deixasse de lhe subir às narinas como podridão e ficasse atraente. Ela tinha medo de se tornar o que mais odiava: de se tornar uma criatura que mata por prazer. Temia esquecer que era um unicórnio. Não encontrava há muito com outros de sua espécie, que haviam se recolhido do mundo sensível para evitar encontros com seres humanos modernos.

Os humanos haviam mudado muito, e já fazia centenas de anos desde que a última donzela virgem e pura de coração havia colocado uma guirlanda de flores em seu pescoço. Muito, muito tempo se passara. Hoje era raro encontrar donzelas de qualquer espécie, e as mulheres não sabiam mais fazer guirlandas. A maioria nem tinha mais jardim para plantar flores. Ela, no entanto, não conseguia abandonar tudo com a facilidade dos outros unicórnios, sentia-se presa ao mundo material por um amor desesperado, e vezes sem conta ela se perguntara se esta sua incapacidade não seria uma falha grave em seu espírito. Será que lhe faltava algo?

Ser um unicórnio solitário no mundo moderno fazia com que ela fosse arisca e temerosa. Poucos eram os lugares onde ela corria livremente. Na maior parte das vezes ela velava o sono das crianças escondida por trás do reflexo de prata da lua, e nem mesmo as crianças sabiam que ela estava ali. Não, nenhum humano podia vê-la mais, pois a reação de reverência e adoração dos humanos de outros tempos desaparecera. Agora, humanos de todas as idades eram predadores. Até as crianças bem pequenas, que em tempos remotos ao vê-la diziam “bonita!”, hoje usavam outras palavras, como “meu!” e “dá!”.

Ela estava só, totalmente só, sem iguais e sem amigos. Lentamente a tristeza tomava conta dela, e transparecia em todo o seu corpo. Ela já tinha sido da cor da areia mais branca quando bate o sol forte, agora sua pelagem tomava a cor amarelada do marfim antigo. Ela não tinha mais brilho e – se não fosse um ser imortal – poderíamos dizer que a velhice estava tomando conta dela. Mas não era velhice, não no sentido que os humanos ficam velhos, era cansaço. Cansaço de alma. Uma alma recoberta por anos de solidão e desencanto.

Não era natural nela fugir, se esconder, lutar e machucar. Ela era um ser que se deleitava na companhia de outros, na admiração que sabia suscitar. Um unicórnio era naturalmente vaidoso, e ela havia sido das mais vaidosas entre eles. Agora, quem se importava? Para quê manter-se bonita, se nem mesmo os animais a reconheciam mais? Se não haviam mais puros de coração, que soubessem quem ela era?

Depois de pensar muito, ainda incapaz de abandonar o mundo que tanto amava e onde vivera por tanto tempo, ela tomou uma decisão: se no mundo não cabia mais sua beleza, ela se sacrificaria por ele antes que a feiúra do mundo a transformasse em um arremedo de si mesma. “Melhor derramar meu sangue, para que seja sugado pela terra e transformado em vida, que tornar-me um espectro e lentamente desaparecer” pensava ela. E começou a buscar alguém que a reconhecesse pelo que ela era, e a ajudasse a fazer este último sacrifício.
O Unicórnio e o Caçador (Parte II)

Ele não era caçador por gosto. Pelo contrário, tantas vezes o olhar de suas presas, enquanto sucumbiam, era rememorado em noites longas de insônia. Ele não era caçador por prazer, era por necessidade, e era dos melhores. Ele era um caçador moderno, um “executivo”, e caçava outros de sua espécie.

Em sua infância e juventude ele possuíra um espírito sensível como poucos, e isto era a causa de brigas constantes entre seus pais e ele. “Pare de sonhar, menino!” “Esta história de ficar em casa lendo romances já foi longe demais! Vá lá fora jogar bola!” A ladainha não tinha fim. Ele insistira com seus pais e tivera aulas de piano, mas o sonho de ser um concertista foi podado na raiz: “Música clássica uma ova! Isso é coisa de boiolinha! Você vai trabalhar na empresa do seu pai, e você sabe disso. Vá estudar administração. Piano é um bom hobby, elegante e refinado. E só.”

Com o passar do tempo, sua sensibilidade foi recoberta com camada após camada de cinismo, e ele descobriu que tinha uma armadura ao invés de uma alma. Por dentro, oco. Por fora, duro como uma rocha. Foi o primeiro de sua turma de administração, e levou a empresa de seu pai a um sucesso que nunca tivera. Ele era rico, famoso, conhecido como empresário impiedoso. Quanto mais impiedoso era, mais a sociedade o incensava e caía a seus pés, e mais ele se odiava.

Como uma espécie de autoflagelação, ele caçava também animais selvagens. Cada um deles que morria em suas mãos era uma faca cravada em seu coração, era mais um fantasma a percorrer o deserto da sua alma. Era como ele se castigasse pela traição à sua natureza verdadeira, matando a natureza a seu redor. E ele era bom neste tipo de caçada também. Caçara animais de todos os tipos, em todos os continentes. Tinha uma sala de troféus em sua casa, onde colocara seu piano. Enquanto ele tocava, os animais o fitavam com seus olhos de vidro. Vazios, como sua alma.

Ele caçava, e não sabia porque caçava, mas sabia que tinha que continuar caçando. Caçou uma linda mulher para ser mãe de seus filhos, caçou para eles as melhores escolas. Mas era um marido de coluna social e um pai de porta-retratos. Sua mulher e seus filhos não conseguiam furar a armadura, e não desconfiavam do deserto que havia lá dentro. A esposa se conformara com a vida de enfeite, e as crianças com a orfandade. Ninguém estranhava mais. Só ele sofria. E quando a dor estava a ponto de o destruir, ele ia para a sala de troféus e tocava piano. Ou partia para o mato para caçar.

Foi tocando piano no escuro, de madrugada, numa noite de lua cheia, que ela o encontrou pela primeira vez. Ele não a viu, a claridade da lua a escondia. Mas ela viu a morte nas paredes, e o tormento em sua música e em seus olhos. Ela entendeu que ali estava alguém que via a morte como ela. Alguém que entenderia quem ela era e o que ela queria. E o unicórnio decidiu que este seria o caçador que a abateria.

O Unicórnio e o Caçador (Parte III)

A caça estava arisca naquele dia, e ele pensava num misto de alívio e ansiedade que voltaria naquele dia sem um troféu, quando ela surgiu do meio das árvores. Só a sua presença trincou sua armadura de cima a baixo. Os dois podiam ouvir sua alma estalando como geleira na primavera. Ela se pôs diante dele, linda, trágica, só, eterna. Ele estava diante dela, nú e amedrontado, mortal, efêmero. Os dois se amaram perdidamente.

O choque de vê-la fez com que ele caísse de joelhos. Os olhos dela se suavizaram com a reação, e ela tocou um humano pela primeira vez em centenas de anos. Um leve toque com seu chifre, como uma bênção. A armadura partiu-se em mil pedaços com um estrondo. Ele começou a chorar. Chorou muito, muito tempo. Chorou por cada animal que matara, por cada homem de quem tomara o pão, por cada sonho perdido, chorava não sabia mais porque. Era um dilúvio na sua alma. E ela pairava por sobre as águas.

Ela esperava, paciente. Sim, é assim que tem de ser, assim foi predestinado. Ela sabia. O amor dela por ele tornava o que estava por acontecer ainda mais sagrado. Num gesto de carinho, aproximou-se mais dele, e esfregou seu focinho aveludado no ombro curvado pelo choro. Ele agarrou-se a seu pescoço, desesperado, e chorou. Não poderia parar de chorar, nem se tentasse. E ele não queria parar. Um longo tempo depois, esgotado o pranto, ela sussurrou em seu ouvido: “Faça o que tem de fazer...”. Ele não conseguia falar, apenas sacudia a cabeça, exausto. Agarrado a ela. Não. Ela pediu: “Olhe para mim... Olhe em meus olhos.”

Ele abriu os olhos e ela deu um passo atrás. Perdera o tom amarelado, perdera a desesperança. Ela faiscava como um prisma, refletindo todas as cores, era toda luz branca. Ele temia ficar cego depois de tanta luz. Ela olhava dentro de sua alma e via os indícios de primavera ali também. “Vamos, amado, termine o que começou. Liberte-nos.”
[O Unicórnio e o Caçador (Final)

Ele não sabia de onde tirara forças para chegar em casa. Tinha uma sensação de afastamento, e imaginava estar com uma aparência de lunático. Achava que os filhos e a mulher gritariam de espanto ao ver a loucura e o sofrimento em seus olhos... e a luz. “Eles vão fugir de mim aos berros”, pensava.

O choque de tudo o que acontecera deixara-o anestesiado, e ele observava a si mesmo de uma distância, como se não fosse ele andando até o carro, jogando a mochila no banco do carona, girando a chave na ignição, tomando a direção da cidade. Num gesto automático, ligou o cd-player do carro. Era Mozart tocando. A música ajudou no resto do caminho.

A casa estava escura, as crianças estavam passando o final de semana na casa da avó materna. Tudo estava silencioso. Vagamente, ele se perguntou onde andava a mulher, mas um cansaço imenso o invadiu. Arrastou-se até o banheiro, tirou as roupas todas e entrou no chuveiro. Ficou lá, parado, deixando a água escorrer por uns 40 minutos. Depois enrolou-se num roupão atoalhado e caiu na cama ainda molhado. Dormiu.

Acordou com a mulher o sacudindo. “Você está se sentindo bem?” ela perguntava, meio desconfiada. Da outra dimensão onde ele se encontrava, ele olhou para a sua mulher, e ela nunca pareceu tão linda, tão maravilhosamente certa para ele. Ele olhava para ela encantado, como se nunca a tivesse visto antes.

“O que foi? Você está estranho...” ela perguntou alarmada. Ele sorriu, embevecido, e disse: “Eu amo você. Muito.” Puxou sua mulher para cima de seu corpo e a beijou. Como se fosse a primeira vez. Ela estava assustada, nervosa, depois surpresa. Havia muito tempo desde o último beijo, e ele nunca a beijara ASSIM. Quem era aquele homem que aparecia de repente de dentro de seu marido?

Depois do beijo, palavras. Ele apresentou à sua esposa tudo aquilo que ela não conhecia - sua alma - agora não um deserto, mas uma floresta onde habitava um unicórnio. Quando sentia a presença DELA, por entre as árvores, as lágrimas desciam. Por fim, as lágrimas de sua esposa também caíram, e eles passaram a noite toda se conhecendo novamente.
Vejam só que interessante... o Cássio fez o teste e deu borboleta... o Dennis fez o teste e deu um coração (claro!) ... EU fiz o teste e olha só o que deu!



Que coisa meiga você é?

Obrigada, Cassio, pelo link...

29.8.02

O casulo é escuro. Dentro dele, a sensação não é tanto claustrofóbica quando de torpor. Não se tem o desejo de se mexer, de sair. Desta vez, o casulo é um deserto escuro, onde estou completamente só. Nem as lembranças estão aqui, só minha alma e a escuridão, o silêncio.

Estou em uma espécie de estase. Sinto a dor e a desolação, mas isso não me impulsiona a fazer coisa alguma. Sinto a dor e observo a dor de uma certa distância; a não ser nos momentos que a alma do casulo faz contato com a mente e o coração. Aí, são espasmos de dor muito forte, que me prostram também fisicamente.

O mais engraçado é que a vida continua. Business as usual. Ninguém à minha volta percebeu o casulo, a não ser minha irmã, que reclamou que eu estou calada demais, quase uma autista. Acho que ela está mais certa que imagina.
Hoje a borboleta levou-me a passear. Fomos até a Floresta da Tijuca, estava fazendo um dia privilegiado de sol e céu muito azul, e os cariocas exerceram sua eterna preferência pelo mar. Eu e minha alada amiga fomos ao encontro das nossas pedras. Estávamos sós, eu e ela, numa paz de cigarra cantando ao longe, de riacho escorrendo pelo morro...

As asas dela faiscavam no sol, ficavam quase prateadas, ela estava linda, linda. Eu, pobre de mim, passando pela maior ressaca da minha vida, amassada e arrebentada como sapato tirado de boca de cachorro. Passei os últimos três dias em luto fechado, porque meu coração foi desenganado pelos médicos. "Amor impossível", foi o diagnóstico. Morte cerebral do sentimento em pouco tempo.

Lá estava eu, no meu lugar favorito entre todos, só com minha borboleta, deveria estar feliz, mas estava encafifada com a ironia profunda de certos desenlaces. Encostada na base de uma mangueira anciã, me quedei a ouvir o canto do riacho. O riacho, que tantas vezes ouvira cantar alegremente enquanto voava por cima das pedras, gemia lentamente. Pus-me a gemer também, e as lágrimas correram mais velozes que as águas aos meus pés.

A borboleta elevou-se no ar e começou a dançar ao sol. Ela virava aqui e ali como uma pipa, rebrilhando com seus reflexos prateados. Logo, milhares de borboletas se juntaram a ela. Borboletas de todas as cores, de todos os tamanhos, dançavam numa nuvem multicolorida acima da copa da mangueira.

Lembrei-me do discman na bolsa. Lembrei-me também que estava lá dentro o Requiem de Mozart, que tem sido meu companheiro incansável nestes últimos dias. Coloquei os fones de ouvido e comecei a tocar no random. As borboletas pareciam escutar a música também. A dança delas ficou ainda mais etérea ao som de Mozart.

"Rex tremendae majestatis,
Qui salvandos salvas gratis,
Salva me, fons pietatis"

Ah, amigas... a borboletas são as melhores amigas de quem sofre, porque a tragédia de uma beleza tão intensa e tão duramente conquistada ser tão efêmera parte seus corações desde seu nascimento. O casulo... sim, amigas, o casulo... mais um... sim... sim.

28.8.02

Eu preciso encontrar um livro de etiqueta muito especial. Não é um livro de etiqueta comum, que ensine como agir em situações normais, do dia-a-dia. Nada de “o que levar para a dona da casa no dia da festa”. Não, o livro de etiqueta que eu procuro deveria se chamar algo assim: “Como manter as boas maneiras em situações insustentáveis”.

O índice seria assim:

Capítulo 1 : Amando sem ser amado – que vestir?

Capítulo 2 : Ele(a) não responde aos e-mails – devo ligar?

Capítulo 3 : Esperar – uma arte

Capítulo 4 : Maquiagem que não borra – saiba fazer

Capítulo 5 : Morto por dentro? Aja normalmente

Capítulo 6 : Roupas – cores que disfarçam abatimento

Capítulo 7 : Conversando coerentemente com as pessoas

Capítulo 8 : O desafio da hora de dormir

Capítulo 9 : Levantando da cama de manhã

Capítulo 10 : Você lhe ofereceu seu maior tesouro e ele(a) recusou. E agora?

Se alguém aí conhece um livro assim, eu estou precisando de uma cópia. Com urgência.
Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez.

26.8.02

Fui dormir dentro de uma bolha de dor. Mas a dor era tanta que eu estava anestesiada. Meu corpo e minha mente, no entanto, não vão permitir que eu passe por isso sem sentir. Ah, meu coração pediu tanto, implorou de joelhos, mas estes dois quando se juntam não tem escapatória: acordei com o corpo e a mente dotados de uma hipersensibilidade surreal. E aí, cada pontinha de dor eu sinto como um choque de alta voltagem. Paciência.
Devagar, bem devagar...
Pequenos cacos de vidro
Pequenas adagas
Um pacote de duas mil giletes
Cinco espadas pontiagudas
Três mil metros de arame farpado
Devagar, bem devagar...
entrou tudo no meu coração.
Riiiiiiiippp! Está rasgado em tiras.

Como é mesmo que se respira, borboleta?
Esqueci...

24.8.02

Existem coisas muito belas neste mundo, coisas muito feias, coisas suaves e febris, calmas e aterradoras. Alguns contatos entre as almas das pessoas trazem um sentimento tão grande e tão certo, que vem ao nariz um perfume de santidade, de paraíso. Em outros casos, um cheiro putrefato invade nossos sentidos, o nariz arde, os olhos lacrimejam... A tristeza maior é que as pessoas acham que tanto em um caso quanto no outro, estas coisas acontecem entre determinado TIPO de pessoa, como se fosse possível prever tal coisa.

Tenho amigos que, ao mero contato eletrônico, trazem bênção e alegria à minha vida. Estas pessoas são poucas, posso contá-las com os dedos de uma mão, mas fazem com que eu me sinta a mais rica das mulheres. Às vezes, pergunto a mim mesma o que eu fiz de tão certo para merecer presentes assim. Meus amigos aumentam o tamanho das minhas asas de borboleta.

Mas, às pessoas que querem trazer a putrefação para algo que é belo, para as pessoas que emporcalham tudo, eu aviso que minhas asas de borboleta não estão ao seu alcance. Mas o punhal que trago na língua está.

23.8.02

Recebi um bocado de sugestões de nomes para a minha borboleta, acho que vou acabar fazendo deste batismo um concurso!

21.8.02

"Marina viu uma borboleta voando no jardim. Ela não se surpreendeu com o fato da borboleta voar direto, atravessando o jardim, já que não achara coisa alguma bela para olhar, flor alguma na qual repousar. Ela adorava o modo de voar das borboletas. Sem linhas retas, sem pressa de chegar a algum lugar. Para cima e para baixo, para frente e para trás.

Então a borboleta parou. Ela não parara no jardim, mas decidira vir sentar na janela e olhar para Marina. Ela olhava para o ser sentado na janela, olhando para dentro. Este movia suas asas como a dizer olá, e quando Marina não respondeu, a borboleta decidiu enviar uma mensagem em código. Ao menos, é o que parecia para Marina. A borboleta batia na janela, primeiro com uma asa e depois com a outra, como se realmente estivesse enviando uma mensagem.

O problema era que Marina não entendia o código que a borboleta estava usando. Ela não entendia qualquer código de envio de mensagens. Em alguns momentos ela pensava que ela não tinha talento algum para se comunicar em qualquer idioma. Ela certamente não acreditava ter talento para se comunicar com Tom, de uns tempos para cá.(...)

Ela estendeu a mão para a borboleta. Encostou a mão na janela, enviando pequenas mensagens de volta para ela. Elas ficaram fazendo isso, dedos e asas batendo contra a janela, ambas satisfeitas em ficar ali e contemplar uma à outra por algum tempo.

O que pensava a borboleta dela, vivendo naquela casa, entre quatro paredes? O que ela sabia sobre as linhas retas nas quais as pessoas viviam? Escola, universidade, empregos; família, amigos, namorados, marido, filhos; quarto, apartamento, casa, casa maior, casa maior com jardim. Será que a borboleta se perguntava porque Marina não voava como ela – aqui e ali, para cima e para baixo, para frente e para trás – movendo-se onde quisesse, quando quisesse? Marina olhava para a borboleta e se perguntava a mesma coisa. Então, ela se lembrou de algo.

Ela havia lido em um jornal algo sobre uma teoria que tudo no mundo é entrelaçado. Se você muda uma coisa, então esta coisa irá modificar outras coisas também. Ela se lembrava do exemplo que eles deram: uma borboleta pousa em uma flor em algum lugar do oriente e isto modifica uma outra coisa, e então uma terceira coisa muda e uma outra e uma outra, até que, finalmente, acontece um terremoto no ocidente, a milhares de milhas de distâncias.

Marina observou a borboleta e perguntou: 'Que mudanças você trará à minha vida? Haverá um terremoto em algum lugar do mundo hoje? Haverá um terremoto em minha vida?' Ela sorriu ao considerar os próprios pensamentos e então espalmou a mão do outro lado da janela. Ela convidou a borboleta a entrar e pousar em sua mão. Mas a borboleta desapareceu no instante que a porta da frente se abriu e Tom entrou em casa."
(O Homem que Passava, por Collin Campbell; tradução, Assunção Medeiros)

20.8.02

Que coisa espantosa que é a vida. Quando menos se espera, aparece poesia diante de nós. E quem diria, num texto PEDAGÓGICO! No meio da aula de inglês, virei borboleta... Meus alunos gostaram!

"Marina saw a butterfly flying in the garden. She was not surprised that the butterfly seemed to be flying straight through the garden, not finding anything beautiful to look at, no flowers to rest on. She loved the way butterflies flew. No straight lines, no hurrying to get somewhere. Up and down and backwards and forwards.

Then the butterfly stopped. He didn't stop in the garden, but he had decided to come and sit on the window and look at Marina. She looked at him sitting on the window, looking in. He moved his wing as as if to say hello and when Marina did not answer, the butterfly decided to send a message in code. At least, that is how it seemed to Marina. The butterfly hit the window first with one wing and then with the other as if he really was sending a message.

The problem was that Marina did not understand the code the butterfly was sending. She did not understand any code for sending messages. Sometimes she thought she was not very good at communicating at all in any language. She certainly did not think she was good at communicating with Tom anymore.(...)

She reached out to the butterfly. She put her hand on the window, sending out little messages to the butterfly. They continued like this for some time, fingers and wings knocking against the window, both of them happy to rest there and watch each other for a while.

What did the butterfly think of her, living in this house, living between these four walls? Did he know about the straight lines people lived along? School-university-jobs; family-friends-boyfriends-husband-children; room-flat-house-bigger house-bigger house with garden. Did the butterfly ask itself why she did not fly like him, here and there and up and down and backwards and forwards, moving where it wanted, when it wanted? Marina looked at the butterfly and asked herself the same question. Then she remembered something else.

She had read in a newspaper something about an idea that everything in the world is joined together. If you change one thing then this will change other things as well. She remembered the example they talked about. A butterfly lands on a flower somewhere in the east part of the world and this changes something else, and then something else changes and then something else and something else until, finally, there is an earthquake in another part of the world, in the west, thousands of miles away.

Marina looked at the butterfly and asked him: 'What changes will you bring to my life? Will there be an earthquake somewhere in the world because you stopped to visit me today? Will there be an earthquake in my life?' She smiled at her own thoughts and then opened her hand on her side of the window. She invited the butterfly to come and sit on her hand. But the butterfly disappeared as the front door opened and Tom came into the house."
(Cambridge English Readers - Level Three - The Ironing Man by Collin Campbell)

Depois eu traduzo com calma. Leve como uma borboleta.

19.8.02

Ultimamente tenho dado para pensar em crianças. Todas elas. As menorezinhas então me deixam hipnotizada, acho que existem algumas mães nervosas andando por aí, achando que sou uma daquelas mulheres seqüestradoras de bebês. Mas não, as crianças me fascinam porque a criança que eu esperava ter está murchando dentro de mim, à medida que o tempo passa e ela não vem.

Quantas amigas e amigos, sabedores da minha paixão pela maternidade, me aconselhavam a "produção independente". O que faço eu com o olhar questionador do meu filho, pensava eu então, como respondo a ele quando ele perguntar onde está o pai? "Filho, eu o roubei de seu pai, e roubei seu pai de você"? Não posso, nunca pude, imaginar tamanho egocentrismo que me fizesse privar propositadamente um filho meu de seu pai.

Meu filho, pobre anjo, ainda espera para nascer, cada vez com menos esperança. A necessidade que tenho dele virou um hiato na alma, e dentro deste nasce uma moita que está vagarosamente se enchendo de pequenos espinhos. Dentro desta moita, uma única rosa brilha perfeita. Quando penso em meu nenê, sinto uma fome e um aperto que fazem estes espinhos me comerem a carne... Meu pequenino, minha rosa, vagarosamente se afasta de mim, como a pressentir que esta mãezinha não vai recebê-lo em seu ventre, e transformá-lo de apenas possibilidade em criança concreta.

E mulheres abortam seus filhos!!! Passo momentos agridoces imaginando a curva da bochecha, o formato do nariz, a cor dos olhos de uma criança que jamais existiu, sem conseguir atinar como uma mulher arranca de dentro de si uma criança pulsando de vida, para jogá-la na lata do lixo... Essa criatura que é dela, carne produzida de sua carne, com seus olhos, ou os olhos de sua tia Maria, ou o bom humor de seu primo José... Porque é que as crianças hoje são consideradas "problema" e as mães tentam se livrar delas como da peste, em vez de imaginarem que coisas boas e belas de si e de sua família serão perpetuadas naquele corpinho? Quantas coisas também podem ser melhoradas e consertadas numa próxima geração!

Um dia, ouvi uma canção. Não esperava por ela, não estava preparada. Meus joelhos tremeram, minha cabeça tombou e caí num choro convulso. Uma outra mulher, talentosa, linda – que sei não ter filhos como eu, pois a conheço pessoalmente – falava da minha dor como se fosse a dela, cantava um anjinho morto, como meu quase-bebê... Ninava esta criança morta com sua voz cristalina... Annie, ah! Annie, você assim acaba comigo, eu pensava enquanto chorava. Mas não conseguia parar de ouvir. Uma, duas, vinte e cinco vezes seguidas eu ouvi esta canção. Ela mesma foi a doçura que afastou o amargor.

Esta é a canção que uso para dizer a meu filho: Dorme, querido, mamãe está aqui.
A thousand angels

Rain fell on that morning
Without a warning
You said goodbye
Life had failed to hold you
Your spirit rose to a leaden sky
Then, when you were gone
The tears fell in a warm and clearing rain
Farewell for now, little one

Sleep, my angel, sleep sweetly
And try to remember
A thousand angels will sleep with you
And I believe you’ll always be with me
When I’m thinking of you
You are the diamond falling in my eye

Still, the stars above me
The world is turning, the days go by
Time heals, so very slowly
If time was only the reason why
Now, I hope and pray
There’ll come a day we’ll know and understand
Now, close your eyes little one

Dream, my angel, dream deeply
And try to remember
A thousand angels will dream with you
And I believe I’ll always be with you
When I’m thinking of you
You are the diamond falling from my eye

As long as I live
You are the diamond circling in my eye

Annie Haslan

18.8.02

Smile, though your heart is aching
Smile, even though it’s breaking
When there are clouds in the sky, you’ll get by
If you smile, through your fear and sorrow
Smile, and maybe tomorrow
You’ll see the sun come shining through for you


Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear maybe ever so near
That’s the time you must keep on trying
Smile, what’s the use of crying
You’ll find that life is still worthwhile
If you just smile


Em certas horas o coração frágil dos seres humanos parece que não agüenta a beleza. O coração fica dividido entre o aperto da melancolia e a expansão do arrebatamento estético, e parece que a alma vai rasgar ao meio. É nessas horas que se tem sorte de ter asas e alma de borboleta, pois já sabemos que toda a beleza é efêmera, e que por isso ela causa esta dor. E não apenas suportamos a dor, mas transformamos a dor e as suas lágrimas num doce néctar que alimenta o espírito.

Hoje eu me senti assim quando visitei a casa de um amigo. Na entrada, ele me recebeu com a linda canção “Smile”, do Nat King Cole. Foi muito hospitaleiro, mostrou-me a casa toda, seus desenhos, seus escritos. O tempo todo tocava uma linda canção. Depois de um determinado momento, sendo tudo tão lindo, pus-me a sorrir e a chorar, ao mesmo tempo. Sua casa, meu amigo, é bela como seu coração, e contemplar os dois parte meu coração em mil pedaços. Então, cada pedaço vira um coração.

Hoje estou toda coração.

16.8.02

boa tarde

14.8.02

Minha borboleta andava sumida... eu achei que ela estava sentida com a minha incapacidade de escolher um nome para ela. Hoje de manhã, ela voltou, com um presente! Uma rosa, linda, perfeita, do tom de rosa que eu mais gosto, que é a chamada "rosa-chá".

A rosa é tão linda que eu passei a maior parte da manhã parada em frente ao vaso onde a coloquei, contemplando. A beleza de uma rosa é ainda mais espantosa por ser tão breve. Merece que a contemplemos solenemente.

A borboleta hoje repousa no meu ombro esquerdo, e roça suavemente suas asas em meu rosto. Ah, borboleta, também amo você, um amor especial e complexo. Por isso mesmo fico muda quando preciso dar uma nome a você, e descrever este sentimento. Existirá um nome perfeito para a minha borboleta?

13.8.02

Alexandre Soares então, mandou uma sugestão linda... Phoebis, que é o nome de uma espécie de borboleta amarela das Américas... Este é lindo Alexandre, adorei a sugestão... mas o que significa? Eu e a borboleta estamos curiosas...
Meu querido Dennis Pimentinha veio ao meu socorro. Além de publicar aquele MARAVILHOSO blog chamado Caderno Mágico (cadernomagico.blogspot.com), ele me enviou a seguinte mensagem de e-mail:

"Bem... segundo Giacomo Puccini, o nome da Butterfly era Cio-Cio-San !!! Pelo menos é o que diz a ópera, né, querida Sue? Se quiser o libreto... clique em www.weblaopera.com e vá na seção libretos bilingües gratuitos, ok?"

Ok, queridinho, mas tem um problema... Em japonês, Cio-Cio pode ser muito bonitinho, mas em português vai pegar mal para a minha amiga... Mas fica registrada a sugestão e o endereço para amantes da ópera! Beijos, meu amigo...

Aeternus, Alexandre, Fabio, Dennis, Evandro, preciso de ajuda! Minha amiga precisa de um nome... Onde estão meus amigos na hora em que preciso deles?!?!
Obrigada pela presença, eterno amigo. Nunca deixo de visitar seu blog, o fantástico Descaminhos, em aeternus.blogspot.com ... Por favor, me ajude a escolher um nome para minha borboleta! Pergunte ao Gnomo Efêmero o que ele acha...

11.8.02

Viva, Sue! Consegui!
Em breve trarei algo para seu espaço.
Obrigado!
Aos visitantes do meu blog: queridos amigos, estou com um problemão. Eu PRECISO de um nome para este ser alado insuportável parar de me bater. Nunca vi borboleta truculenta como esta! Por favor, ela é bonita mesmo, grande, com umas asas azuis de encantar, apesar do mau gênio. Ela precisa de um nome bem bonito, para combinar. Mandem sugestões por e-mail, por favor... e desde já, obrigada.
Ah, Borboleta, enquanto arrumo meu chalé, precisamos encontrar um nome para você... Eu estava pensando... você já tem uma amiga chama Esperança - que, mesmo fugidia, continua por aqui. Que tal se eu chamar você de Fé, e rebatizar a gata como Caridade? Aiii! Borboleta, desculpe, estava brincando!....

9.8.02

Borboleta, preciso encontrar um nome para você... e contar que ELE ME DESEJA!!

O Paraíso existe, é um chalé com uma cama grande e macia, e uma lareira com um tapete branco e felpudo na frente dela. É lá que espero por ele. E sei que vem ao meu encontro. Maravilha das maravilhas....
Ploc-ploc-ploc-ploc-ploc. Silêncio. Ploc-ploc-ploc-ploc-ploc. Rrrrrrrrrrrr-rrrrrrrrrr. Ploc-ploc-ploc-ploc-ploc. Silêncio. Plec. Ploc-ploc-ploc-ploc-ploc. Silêncio.

Estou cheia de silêncio. É como se eu tivesse virado do avesso, e ficado cheia de ar por dentro, e minha substância fosse esses sons que escuto. O salto agulha da vizinha de cima, andando de um lado pra o outro, abrindo e fechando portas e gavetas. Que atividade! Ela hoje é mais real que eu. Os limites da minha pele não retém nada. O salto agulha da minha vizinha, o meu HD trabalhando, os sons dos carros passando lá fora, estes são meus vínculos com a realidade.

Se eu não escutar estes ruídos com as orelhas em ponta como um cão, a sensação que tenho é de que vou me desvanecer como fumaça... Hoje eu estou só sentidos e espera.. Os pensamentos voam aqui e lá, como a flauta de Terry Oldfield. Eu, que sempre sou tão concreta, hoje lembro uma bolha de sabão. Um movimento mais brusco e eu sumo no ar. Esta noite não sou feita de carne e osso. Sou feita de sonhos e reflexos multicores.

Lá vai o garçom da pizzaria em frente baixar a porta de ferro: trráááá!! Um ônibus passa com seu ronco forte, e depois o silêncio. Meu silêncio. Quem nunca escutou o silêncio como eu não sabe a riqueza de pequenos sons dos quais é feita a noite na cidade. É romântico imaginar os grilos e sapos cantando no campo, mas é aqui no meio desta imensa cidade que o silêncio parece gritar mais forte. O silêncio aqui é tão raro, entrecortado de risos e buzinas e cacofonias. Quando ele acontece, é apenas um instante de profundo calar, antes que algo ou alguém perturbe a noite. O silêncio na cidade é mais valioso.

Eu hoje só existo nestes intervalos de silêncio. Cada ruído me tira de dentro de mim, e eu flutuo no ar. O silêncio hoje é meu chão. Eu fico neste pisca-pisca de som-silêncio, sou-não-sou... Sou.... Que espanto é descobrir que se é, e mais nada. Se tudo mais me for tirado, eu ainda sou. Mas nos momentos em que eu viro a bolha brilhante no ar, nestes momentos eu não sou: eu desejo.

Ah, o desejo... armadilha doce, cilada em que nos jogamos alegremente. Eu desejo, eu o desejei de cara. Se ele me desejava ainda não importava, pois o meu desejo ainda me maravilhava tanto que não olhei para fora, para olhar o desejo dele. Meu desejo era um milagre em si, e nem quis pensar no milagre ainda maior da correspondência. Não ainda. Ainda vivia de mim, do meu coração acelerado, da bolha que flutua, querendo voar de encontro a ele. A bolha multicor apenas desejava estourar em um milhão de pequenas gotas de luz, de encontro a seu peito.

Logo, cedo demais, a necessidade da correspondência ficou mais forte que a necessidade do sentir. Agora estou no fio da navalha, como todos os que desejam, à mercê do “ser desejada de volta”. Fico a pular entre a euforia e o desespero, bem-me-quer, mal-me-quer. Bem ele me fala, e mal ele me liga. Bem ele me deseja, mal ele me escuta. Bem ele me acaricia, mal ele me acalenta. Bem ele conversa, mal ele me conta de si.

A distância é grande demais entre o silêncio e a bolha de sabão, e o que pode me fazer inteira de novo não está aqui....

8.8.02

Mas colocar links aqui é complicado! Ai! Lá vem a borboleta com as asas no meu rosto de novo. Ela não tem a menor paciência comigo...
Bom dia... apesar do dia não estar bonito, acordei com a sensação de que está tudo CERTO. Isso vale mais que o mais ensolarado dia de sol.

7.8.02

Passos na areia... marcas....
A água vem, apaga.
Folhas caídas.... marcas...
O vento leva, apaga.

Mas quem apaga o apego?

Àquilo que não quero...
Àquilo que me ensinaram
Àquilo que me disseram
Àquilo que me fizeram

Água, me lava
Vento, me leva...

Sonhos de vida... fantasias
Noites de sexo... fantasias
Juras de amor... fantasias
Promessas de felicidade... fantasias

Água, me lava
Vento, me leva...

Lágrimas derramadas... à toa
Tempo perdido... à toa
Suor escorrido... à toa
Palavras perdidas... à toa

Água, me lava
Vento, me leva....

Tenho um problema. A Esperança já trouxe seu nome consigo, mas como chamar minha borboleta? Nem sequer sei de que sexo ela é. Hummmm....
É incrível como a Esperança muda de lugar depressa. Agora entendi porque as pessoas perdem a esperança fácil. Mas ela se recusa a ir embora.
A Esperança pousou no teto. É, a esperança nos faz mesmo olhar mais alto.
Minha borboleta saiu pela janela enquanto eu escrevia, e voltou com uma companheira alada. Ora, vejam, é uma esperança!
Nasci!

Depois da pressão de diversos amigos, cá estou eu no meu próprio blog. Não sei se alguém além de mim vai ler isso com algum carinho, mas nascer é sempre uma sensação maravilhosa. E ganhei com o blog uma assistente, uma borboleta ENORME, com asas de um asul quase indigo, com raios dourados.

Ela é linda, se bem que um pouco implicante. Toda vez que faço algo errado - e erro com frequência, pois é tudo tão novo - ela bate com as asas repetidamente contra meu rosto. Estou toda amarela de pólen.
A borboleta não esquece que um dia foi minhoca. E que o tempo de minhoca foi o mais longo da sua vida. Toda asa de borboleta é fruto do arrasta-arrasta da barriga de uma minhoca. A borboleta é uma minhoca que quis passar pelo sofrimento da metamorfose, pela solidão do casulo, pelo medo do desconhecido. Ela sabe – como sabe! – que o tempo de voar é curto, que a urgência de juntar-se ao companheiro é extrema, porque a vida é breve.

Só tem alma de borboleta a pessoa que já teve o seu quinhão de vida de minhoca. Que já teve de arrastar-se pacientemente, milímetro por milímetro, levando muito tempo para se chegar onde se deseja. Aquela pessoa que constrói vagarosamente seu casulo, e dentro dele permanece enquanto transforma, dolorosamente, sua natureza. Ter alma de borboleta não é coisa para pessoas jovens.

O jovem, quando nasce voando, nasce mariposa. E rápido se queima na luz mais brilhante que encontrar. O jovem não tem paciência para construir seu isolamento voluintário, para suportar a solidão, a não ser que tenha tido verdadeiramente uma vida de gênio, com o sofrimento correspondente e o isolamento inevitável. Eu conheço apenas um jovem que tem alma de borboleta. Mas conheço algumas pessoas maduras que construíram suas asas multicores dentro do sofrimento, e hoje voam por aí, com o coração partido. Pois não se pode ser borboleta sem o coração partido.

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A borboleta



Entrou pela minha noite dentro
sem perguntar
O desejo de uma flor caída
por voar

acordou de espanto
a minha serena solidão

origem da brisa na minha face

fui borboleta com ela
antes do mistério
de morrer

pétala a meus pés

Jorge Giro